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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Um Chefe de Estado: Símbolo ou Político?

José Aníbal Marinho Gomes, 03.12.24

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Como monárquico, reafirmo que não participo em campanhas presidenciais nem apoio qualquer candidato, dado o meu compromisso com os valores da Instituição Monárquica. Contudo, no dia das eleições presidenciais, sempre me desloquei à minha assembleia de voto para exercer o meu dever de cidadão, abstendo-me.

Defendo que o chefe de Estado deve ser um símbolo apartidário, acima de disputas políticas. Num sistema monárquico, esta figura estaria naturalmente imune às pressões partidárias e ao escrutínio que caracteriza o modelo republicano. Ao contrário do Presidente da República, o Rei não depende de ciclos eleitorais, campanhas políticas ou alianças partidárias, o que lhe permite exercer um papel verdadeiramente unificador e independente, em prol do interesse nacional e não de agendas específicas.

No actual sistema republicano, o Presidente da República frequentemente reflete interesses políticos e partidários, como se torna evidente na cobertura mediática das potenciais candidaturas às próximas presidenciais. Estas dinâmicas enfraquecem a posição do chefe de Estado enquanto símbolo de unidade e estabilidade, transformando-o num actor político que, muitas vezes, divide em vez de unir.

De acordo com as sondagens mais recentes, o Almirante Gouveia e Melo lidera na corrida para as eleições presidenciais, o que ajuda a explicar o aumento das análises sobre o seu perfil. É importante notar que, sendo um militar, Gouveia e Melo é visto por muitos portugueses como um símbolo de unidade e isenção, características que ecoam o papel de um Rei no sistema monárquico, acima dos partidos e das divisões ideológicas. Este apoio pode ser interpretado como um sinal de cansaço dos eleitores em relação à classe política tradicional e aos comentadores políticos, que, ao deixarem as suas funções, raramente se desvinculam das agendas que anteriormente defendiam.

Na SIC, têm surgido análises que sugerem uma preferência velada por Marques Mendes. Comentadores como Maria João Avillez descrevem o almirante Gouveia e Melo como um "candidato incógnito", por não se conhecerem as suas posições políticas. Isso reflete a preferência por figuras com alinhamentos ideológicos claros, levantando a questão: será obrigatório um chefe de Estado ser político? Ou seria mais eficaz ter alguém que simbolize a Nação acima das divisões partidárias, como acontece num sistema monárquico? Além disso, quando Maria João Avillez e outros discutem o perfil de Marques Mendes, elogiam-no não apenas como potencial candidato, mas também como colega comentador da própria SIC. Esta proximidade levanta questões sobre a imparcialidade de algumas análises mediáticas.

Por outro lado, Pedro Passos Coelho tal como Marques Mendes, figuras do PSD, enfrentam desafios semelhantes. Passos Coelho carrega o peso de ser associado às medidas de austeridade implementadas durante a sua liderança, enquanto Marques Mendes precisa combater a percepção de que a sua longa trajetória como comentador mediático compromete sua isenção e capacidade de se desvincular de interesses partidários.

Outro nome em destaque é António José Seguro, que recentemente manifestou abertura para uma candidatura. Apesar de ser uma figura respeitada por muitos e conhecida pela defesa da convergência política, enfrenta desafios relacionados com a memória do embate com António Costa em 2014, que alguns analistas parecem explorar como um factor desestabilizador. Este caso reforça as dinâmicas partidárias e mediáticas que tornam o modelo republicano mais suscetível a divisões, algo que um sistema monárquico naturalmente evitaria.

No campo socialista, além de António José Seguro, Mário Centeno é frequentemente apontado como um potencial candidato presidencial. Centeno traz consigo um histórico sólido como ex-Ministro das Finanças e ex-líder do Eurogrupo, sendo visto como uma figura técnica e competente. Contudo, a associação de Centeno a algumas políticas de austeridade pode ser um entrave para conquistar sectores do eleitorado mais críticos dessas medidas. Além disso, a sua postura técnica, muitas vezes distante, pode dificultar a conexão emocional necessária para uma candidatura presidencial eficaz.

Paulo Portas também surge como um nome que poderia atrair apoio conservador e centrista. No entanto, a sua ligação histórica a decisões controversas enquanto líder do CDS e vice-primeiro-ministro em tempos de austeridade, além de anos afastado da política activa, levanta dúvidas sobre a viabilidade de sua candidatura. A sua actuação como comentador político, por vezes marcada por análises críticas, também pode ser interpretada como falta de propostas concretas, prejudicando sua credibilidade enquanto potencial Chefe de Estado.

Se algum destes candidatos avançar, é legítimo perguntar: como pode um candidato de um qualquer partido, demonstrar verdadeira isenção quando confrontado com decisões que possam prejudicar o mesmo partido que o apoia?

Estas observações complementam a ideia de que muitos portugueses estão exaustos de figuras públicas que, ao deixarem funções políticas ou mediáticas, mantêm práticas que reforçam a desconexão com as reais prioridades do povo. Gestos performativos, como “beijar barrigas de grávidas”, e a retórica excessivamente polarizadora são frequentemente apontados como práticas que alienam os cidadãos e ampliam a desconfiança no sistema político.

No panorama geral, os potenciais candidatos enfrentam a difícil tarefa de provar que são capazes de transcender interesses partidários e apresentar uma visão de liderança verdadeiramente unificadora, incompatível com o sistema republicano. Este é um atributo que os portugueses cada vez mais exigem num Chefe de Estado. A popularidade crescente de figuras como Gouveia e Melo, que, para alguns eleitores, simboliza a estabilidade e imparcialidade, reflete o cansaço do eleitorado com os padrões tradicionais e partidários da política portuguesa.

Assim, reafirmo que, mais do que nunca, Portugal necessita de um chefe de Estado que seja um símbolo de unidade nacional, imune às pressões partidárias e políticas. Os portugueses começam a demonstrar que estão fartos de figuras políticas moldadas por interesses de partidos e de comentadores com agendas bem definidas. Talvez seja esta a razão pela qual Gouveia e Melo, com a sua carreira militar e distanciamento das disputas político-partidárias, surja como um dos favoritos nas sondagens: porque muitos veem nele um símbolo de imparcialidade e estabilidade, qualidades indispensáveis num verdadeiro Chefe de Estado, só possíveis num regime monárquico.

Num sistema monárquico, estas qualidades seriam inatas à figura do Rei, que, acima das disputas eleitorais, seria um garante da continuidade, imparcialidade e unidade nacional. A Monarquia representa não apenas estabilidade institucional, mas também uma ligação permanente aos valores históricos, culturais e morais de uma Nação.

Enquanto na república o chefe de Estado é uma figura transitória, frequentemente comprometida por alianças e interesses políticos, na monarquia o Rei é uma presença constante e inquestionável, um símbolo perene de identidade nacional que inspira confiança e respeito em tempos de crise e de prosperidade.

Além disso, a Monarquia oferece uma alternativa a ciclos políticos exaustivos e polarizadores, promovendo um foco mais profundo na continuidade e no bem comum. Num regime republicano, a liderança é frequentemente instável e vulnerável a flutuações partidárias; já na Monarquia, a neutralidade política e a longevidade no papel de chefe de Estado permitem uma liderança mais coesa e previsível. Um Rei, como símbolo da Nação, transcende divisões ideológicas e serve como um ponto de união que liga o passado, o presente e o futuro de Portugal.

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