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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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“A Arte de Virar… e Mostrar o Outro Lado”

José Aníbal Marinho Gomes, 09.09.25

Desde os tempos mais remotos, a humanidade conhece uma espécie curiosa: o vira-casaca. Uns chamam-lhe oportunista, outros pragmático, mas no fundo todos sabem que é aquele sujeito que, ao sentir o vento mudar de lado, troca de bandeira mais depressa do que troca de camisa.

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Entre o povo, porém, a linguagem sempre foi mais directa, menos dada a dourar a pílula. Assim nasceu a expressão “vira-cu”, que não carece de explicação académica: significa aquele que se dobra e se torce conforme o vento sopra, mostrando sempre o lado que mais lhe convém. É a sabedoria popular a baptizar com a clareza que falta aos doutores.

Na História abundam exemplos. Na Idade Média, cavaleiros juravam lealdade a um soberano, mas bastava prometerem-lhes mais terras que logo mudavam de estandarte. No Brasil colonial, aqueles que mudavam de lado durante os conflitos eram aplaudidos pelos vencedores como ‘heróes’, mas o povo sabia bem a verdade: eram, no mais puro linguajar popular, vira-cus.

Na Revolução Francesa houve quem gritasse “Viva o Rei!” numa semana e “Abaixo o Rei!” na outra. Eram verdadeiros atletas do vira-cu, sempre a aterrar do lado que oferecia mais pão e menos guilhotina. Ao menos, nesse tempo, as traições tinham o peso do sangue e da espada.

Hoje, porém, a raça degenerou: os vira-casacas já não mudam de lado por dinastias ou pela salvação da pátria, mas por um lugarzito para o filho, um contrato para o cunhado, ou uma cadeira na autarquia para a mulher. Trocam de partido como quem troca de gravata, vendem-se em suaves prestações, e chamam a isso “itinerário correcto”. Em várias localidades do país, a política reduziu-se a esta feira de tachos: a olimpíada moderna do vira-cu.

No fundo, se outrora até os traidores eram grandes personagens da História, hoje os vira-casacas são apenas figurantes de má categoria. Mudam de lado, mas nunca mudam de essência. E a essência é sempre a mesma: a arte de virar… bem, fica dito.

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Quem muda de estandarte a meio da viagem nunca teve rumo… teve apenas pressa em saltar para o lado que mais lhe convinha.