A evolução natural da União Europeia para uma federação de Estados arrastou-se durante tanto tempo devido não só graças às várias reticências dos Estados membros em geral mas também, e principalmente, aos interesses dos Estados maiores (França, Reino Unido e Alemanha) que viram a moeda única mais como uma ferramenta útil para a consolidação da sua economia do que um passo vital tendo em vista a tão adiada federação de Estados europeus (os tão temidos Estados Unidos da Europa).
O que teria evitado a actual crise não teria sido menos UE mas mais UE, juntamente com a moeda única teria sido necessário criar uma política económica e fiscal comum a toda a UE e ir mais longe ainda, criando – a título de exemplo – um Ordenado Mínimo Europeu, um sistema de Segurança Social também a nível continental e a criação de um Senado Europeu no qual todos os Estados tivessem o mesmo poder de voto, só assim teria sido possível evitar as desigualdades que se foram acentuando e nos trouxeram ao actual estado de fim de festa. Mas como nada disto foi feito o desfecho mais provável será a divisão da UE em duas, opondo o Sul ao Norte, ou pura e simplesmente o desmantelamento da União Europeia como um todo.
A solução para Portugal podia também ter sido outra, já bastas vezes referi aqui que, dada a actual dimensão do nosso Estado, só teríamos peso na UE se, paralelamente, a CPLP se tivesse consolidado numa União Lusófona aliada por inerência aos BRICS, esta UL seria, obviamente, liderada pelo Brasil. Infelizmente, e fazendo minhas as palavras de Medeiros Ferreira, as nossas oligarquias “com um grande atraso de entendimento das coisas, muito situacionistas, defensoras dos pequenos interesses, muitas vezes mesquinhos, medíocres e imediatistas” assim não o quiseram e agora encontramo-nos presos ao Titanic europeu sem qualquer bóia de salvação.
O crescimento dos partidos eurocépticos nas últimas Eleições Europeias são um mero sintoma do provável processo de irremediável desmantelamento da União Europeia, embora a comunicação social de massas tenha centrado o seu foco no crescimento daquilo a que, erroneamente, apoda de “extrema-direita” a verdade é que muitos dos eurocépticos eleitos este ano são também do centro e da esquerda e, exceptuando dois ou três partidos mais extremistas, todos democratas. E caso a UE se salve, quem nos salvará da UE?
[Publicado no semanário O Diabo a 26 de Agosto de 2014]