a tempo e horas
As aulas, na escola primária onde anda o meu filho mais novo, começam às 9h00.
Supostamente.
Porque às 9h10, a sala de professores ainda está bem composta, com professores a tomar café em amena cavaqueira.
São quase 9h15 quando começam a sair da sala e se dirigem às respectivas salas de aula. Sem pressa.
Nessa altura, ainda há alunos a chegar, ninguém corre para a aula. A descontracção é geral.
Sou só eu?
Sou mesmo só eu que acho isto anormal?
Sou a mãe do soldado que marchava ao contrário, e que achava que o filho era o único a marchar bem?
Sempre fiz questão de chegar a horas a todo o lado.
Como podem imaginar, passei também uma vida à espera de toda a gente, porque ninguém senão eu faz questão de chegar a horas seja onde for.
Tentei incutir nos meus filhos esta pontualidade, com algum sucesso.
Receio bem que os tenha sobrecarregado com um fardo injusto. Serão, para o resto da vida, os únicos a chegar a horas.
Terão de esperar por toda a gente, num exercício perfeitamente estúpido, porque ninguém quer saber da pontualidade deles para nada.
Ensinaram-me, a mim, que a pontualidade é uma questão de respeito, de organização e de boa educação.
Isto estaria tudo muito certo, se eu vivesse num país do Norte da Europa.
Em Portugal, nem sequer dava para fundar a Associação dos Pontuais Anónimos.
Era só eu.
Esta demonstração de respeito, organização e boa educação é das piores coisas que se podem fazer. Não só porque se faz figura de urso, horas à espera dos outros, mas também porque não se pode falar no assunto.
Assim que uma pessoa aflora vagamente a questão da pontualidade, fica com a sensação de estar a fazer um número de stand up comedy mais bem sucedido do que o Ricardo Araújo Pereira.
E quem não se desmancha a rir, é porque se está a sentir ofendidíssimo.
O resultado é o mesmo: nem uns nem outros nos voltam a convidar para seja o que for.
A pontualidade é um sítio muito solitário.