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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Dr. Gonçalo Reis Torgal, Um Monárquico que nos deixa!

José Aníbal Marinho Gomes, 15.01.16

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Faleceu ontem o Dr. Gonçalo Reis Torgal, com 84 anos, vítima de doença súbita, cerca das 23h30, quando conduzia na auto-estrada A41.

Conheci o Dr. Reis Torgal por volta dos anos 79/80, do século passado no Partido Popular Monárquico (PPM), partido que eu na altura também militava.

O nosso convívio foi-se estreitando, sobretudo na década de oitenta quando frequentava a Universidade no Porto. Gonçalo Reis Torgal era um Homem divertido!

Ao Gonçalo Reis Torgal, conheci-lhe três paixões: A Monarquia, A Gastronomia e a Académica de Coimbra, a sua Académica, da qual era Vice-Presidente da Direcção e sócio n.º 7. Poderia ter outras, mas estas representavam muito para si.

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Recordo com saudade as diversas reuniões que frequentemente ocorriam na Rua do Almada, na altura era eu Membro da Comissão Política Nacional da Juventude Monárquica, e as suas sempre oportunas intervenções e a constante preocupação em aconselhar os mais jovens. Também nos Congressos Nacionais, marcava a sua posição, ou não tivesse Reis Torgal o dom da palavra.  

Gonçalo Reis Torgal, era um “bom garfo”, como se costuma dizer, ou não fosse ele um dos grandes estudiosos da nossa gastronomia.

Apreciava e lia com muita atenção os seus artigos sobre gastronomia na imprensa escrita, bem como os de carácter político que ainda recentemente escreveu.

Há cerca de um mês, publicou um livro "Coimbra à Mesa – Tu é que foste à Praça, Menino?", cujo lançamento decorreu na Casa da Cultura de Coimbra.

Era licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas e mestre em História da Alimentação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e foi professor nas escolas Egas Moniz e na Escola Industrial e Comercial de Guimarães, actual Escola Francisco de Holanda, onde residia, apesar de ser natural de Coimbra.

Desde 1986 era Mordomo-Mor da Confraria Gastronómica da Panela ao Lume, da qual foi membro fundador.

Como Homem de causas, Reis Torgal nunca deixou de exercer a sua cidadania e criticava sempre que entendia ser necessário fazê-lo, e fazia-o frontalmente e sem quaisquer rodeios, chamando os "bois pelos nomes", exemplo disso é o artigo de opinião que publicou em Setembro de 2015, no Jornal Diário das Beiras,  intitulado  "Este país não é para velhos: é livro e filme", do qual com a devida vénia transcrevo:  (...) Cá, um Governo que desprezou e roubou os “velhos” a eleiçoeiramente legislar contra os que os maltratam ou abandonam. Seria ele o primeiro prevaricador e consequentemente o primeiro a ser punido, se houvesse Justiça, que falta, talvez, porque tutelada por uma ministra prepotente e ignorante que a avilta e dificulta, e a um tempo desertifica o país.

Desampara as crianças faltando-lhes com o apoio social, obrigando a família a novos manuais, enricando as editoras. Persegue a APPACM de Viana, que procura superar a incapacidade do governo face aos desamparados.

Mente sobre as melhorias na saúde. Fecha sete unidades de saúde familiar em Oliveira do Hospital. Filas de espera (SIC) desde as 6 da manhã, onde mais de metade não arranja consulta e é convidada para igual inferno 3 meses mais tarde. Piora o SNS.

Prossegue no assalto aos pensionistas e reformados ameaçados de um corte, garantido a Bruxelas, de mais 600 M/€.

Ataca a tradição, com a ASAE, proibindo na Romaria/Feira de Porto de Ave, os celebrados Bifes de Porto de Ave, há séculos, sem algo que indicie perigo alimentar,.

No plano educativo ataca encarniçado uma pedagogia séria, com o crescente aumento dos centros educativos, negando rudimentares princípios pedagógicos que de Radice à nossa conceituada Maria Borges de Medeiros, deram métodos de reconhecido valor, (João de Deus) e místicos da Educação como Sebastião da Gama, hoje sem lugar, nesta mixórdia que dizem Educação, como não teria o dedicado Homem da Educação (saneado na insensatez do PREC), Calvet de Magalhães, bem assim como destroi o Ensino Artístico.

Na economia uma dívida impagável, impagável que quer calado para enganar os mercados, como se estes, que já mamaram nas tetas até secarem, fossem tão tolos, como são alguns portugueses, enrolados nas mentiras do “patranheiro mor” Coelho Passos Pedro (CPP). E sigo a ver os burlados do BES, feito Novo Banco, cuja venda mais faz parecer Carlos Costa um taberneiro a vender mau vinho, que Presidente do BdP. Venda com mais roubo ao contribuinte. Isto apesar da mentira com que CPP pretende enganar os “pacíficos revoltados”, indo de mentira em mentira até à mentira final, quando voltará a haver “choro e ranger de dentes” e inútil: “se eu soubera…”

Objectivemos.

Que país é este que CPP nos projecta paradisíaco?

Semi-protectorado empobrecido; um povo com fome, sem educação capaz; sem acesso à justiça; precário acesso à Saúde; vivendo na maior austeridade, onde os ricos, corruptos ou não, tiram todo o proveito do que aos “pobres” é roubado; ataque por acção ou omissão aos “velhos” e às crianças, sendo que uma em cada 3 crianças é subalimentada; PPP, Parque Escolar, A.E., gritando roubalheira e compadrio; bandalheira no proceder bancário com a Tutela desatenta, desinteressada ou cúmplice; país vendido ao desbarato (foram-se anéis e dedos), entregando a chineses e à cleptocracia nepotista de Angola as fontes de produção; despovoamento do interior; política de estrangeiros acompanhando o que de mais desumano tem a política europeia.

A partir de amanhã o seu corpo estará em Câmara ardente no Pavilhão Gimnodesportivo da Associação Académica de Coimbra (Jorge Anjinho) e o seu funeral será no Domingo, dia 17, às 11h00m.

Que Descanse em Paz!

Telefonia para comer

João Távora, 24.07.09

O nosso Duarte Calvão além das muitas virtudes que lhe reconhecemos é um excelente garfo e percebe de gastronomia como poucos. É no contexto do seu projecto Mesa Marcada que vai estar amanhã na Antena 1 no programa Hotel Babilónia de Pedro Rolo Duarte e João Gobern. A não perder em directo depois das notícias das 10,00h ou aqui em podcast. 

AH1N1: o triunfo dos porcos

João Távora, 04.05.09

Ao início a ameaça de uma epidemia denominada de Gripe Suína pareceu-me um furo mediático, adequado às mais bem sucedidas parangonas da história do jornalismo alarmista. Comparando com a “das aves” este “produto” estava condenado ao sucesso noticioso e a bater todos os recordes de primeiras páginas sem bliscar nenhum dos tabus "politicamente correctos" da moda.
Agora, não sei se por pressão da classe (suína) ou por puritanismo estético, os sensores da OMS decidiram chamar-lhe gripe A, ou pior ainda, AH1N1 que não dá jeito nenhum. Ao menos espero que a medida ainda salve alguns porcos do preconceito e da suínofobia, que eu gosto muito deles no cozido e na feijoada. Mesmo constipados!
 

Bimba!

Ana Vidal, 08.12.08

 

Quem me conhece sabe que a Gastronomia é uma das minhas paixões. De tal maneira que a "casei" com outra delas, a Poesia, numa antologia que me deu tanto prazer organizar como fazer um prato sofisticado para um dia de festa, e, seguramente, muito mais trabalho. Chamei-lhe "A Poesia é para comer", uma expressão que roubei à grande Natália e que traduz na perfeição o espírito desta minha aventura poético-gastronómica.

 

Cozinhar é a melhor terapia que conheço porque exige uma atenção exclusiva, e porque é o mais completo esvaziamento mental de toda e qualquer preocupação que seja alheia ao que estamos a fazer (outra actividade que tem o mesmo efeito é o ski na neve, mas é substancialmente mais cara...). Recomendo vivamente a experiência a todos os que nunca franquearam esse mágico e encantado mundo que é uma cozinha. É um universo de possibilidades para a imaginação, de mistérios desvendados à medida que perdemos o medo e arriscamos tratar por tu sabores e cheiros evocativos de sortilégios ancestrais. Cozinhar para alguém é, indubitavelmente, um acto de amor. E pode ser também, muitas vezes, um acto de pura sensualidade. Mas a culinária é, sobretudo - e só me entende quem sabe do que falo - um prazer muito íntimo, de sublimação e de alquimia.

 

Tudo isto para dizer-vos que, como amante da cozinha que se faz lentamente e com passos tão cuidados como uma coreografia de Béjart, resisti durante muito tempo a uma máquina de cozinha alemã que dá pelo inacreditável nome de Bimby. Declinava todos os convites para uma demonstração da dita, por me parecer que ela se aplicaria mais a quem não sabe e não gosta de cozinhar. Mas estava enganada. Acabei por sucumbir, e não me arrependo, à tentação do prático, e com esta preciosa auxiliar voltei a fazer algumas receitas (as que envolvem massas trabalhadas, por exemplo) que já tinha perdido a paciência de fazer. Não me substituiu na cozinha, longe disso, faz é por mim as coisas que menos gosto de fazer.

 

Mas não se assustem... este post não é uma elegia à Bimby. A máquina vale o que vale - e vale bastante, concordo, até pelo preço - mas não é caso para sacralizá-la. Por isso hoje de manhã, ao abrir um livro de receitas que reúne "o melhor da Bimby", dei por mim a ler alguns dos testemunhos que acompanham as receitas "experimentadas e recomendadas" por algumas das suas utilizadoras de eleição, convidadas a pronunciar-se sobre as qualidades da maquineta. E no meio dos previsíveis "A Bimby é qualidade de vida", "A Bimby é independência", "A Bimby é imprescindível", e até de um criativo "A Bimby é bimbástica", encontrei uma senhora que afirma convictamente, com um largo sorriso de beatitude, "A Bimby é a minha alma gémea". Estaquei, arrepiada. São declarações destas  bimbas que legitimam aquela velha piada machista que sempre me irritou solenemente: "Sabem porque é que os vestidos de noiva são brancos? Porque o branco é a cor dos electrodomésticos!"