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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Sócrates e os contos populares da política portuguesa

JFD, 28.03.13

A entrevista de José Sócrates abalou, como se esperava, o país. Muito havia para ser explicado e contextualizado. Era um risco, claro, que o próprio Sócrates teria de correr, ainda fresca a saturação nacional que levou ao clamor pelo fim da sua governação. Mais do que os erros terá sido o seu estilo que mais cansou os portugueses: a prepotência e a arrogância sem sucesso absoluto (e ainda assim com este) pagam-se caras. 
Mas porque o tempo serve para curar as mágoas, Sócrates soube esperar o tempo necessário para depois tirar partido das circunstâncias. Enquanto comunicador nato Sócrates não se intimidou facilmente, ainda que em desvantagem numérica diante de Paulo Ferreira e Vítor Gonçalves.
Em todo o caso José Sócrates cumpriu um serviço ao país, fazendo em uma hora e meia mais oposição ao governo do que António José Seguro num punhado de meses. Tal facto é duplamente grave: 1) porque significa, como diz Miguel Vale de Almeida, que não há oposição real ao governo na 'esquerda' portuguesa; 2) porque dá a sensação de que Sócrates não foi assim tão mau. 
Sócrates, em boa hora, fez o papel do adolescente que destrói o mundo de fantasia dos mais pequenos. Os contos populares da política portuguesa ficaram por terra, entre eles o suposto despesismo que estaria na origem da crise. Se é verdade que as parcerias público-privadas foram um grave erro socrático, não é menos verdade que isso é uma constante dos governos. Uma constante que, naturalmente, deveria constituir crime, mas jamais culpa isolada de Sócrates. Ao mesmo tempo, Sócrates trouxe o PSD e o CDS para dentro do memorando com a troika, depois de dois anos em que o governo fingiu que nada teve a ver com o facto, quando esteve sempre presente nas negociações. Mais, recordou, e mais uma vez bem, que o atual governo sempre fez questão de "ir além da troika" aplicando o dobro da austeridade do que o inicialmente previsto, deixando ainda uma farpa a Pedro Passos Coelho: "nunca me disse que queria empobrecer o país" e ao governo, na altura oposição, que clamava por maior despesa, hoje condenando-a.
E por fim, mas não menos importante, Sócrates apontou o dedo a Cavaco Silva, colocando o Presidente da República no seu devido lugar como sectarista e conivente com as medidas do atual governo. Cavaco Silva é um presidente sem sentido de Estado e Sócrates não teve pejo em o afirmar.
Pelo meio muita culpa morreu solteira, mas também verdades foram repostas. Sócrates deixou um bom prenúncio para a sua atividade enquanto comentador político, ainda que deixe a sensação de que em Portugal há sempre espaço para o fracasso se fazer eficiência. Coisas da carreira política.


(em simultâneo no FB)

Não tenho talento para Primeiro-Ministro

Pedro Quartin Graça, 11.12.10


É uma quase desconhecida entrevista do então ministro José Sócrates à revista DNA do Diário de Notícias. Dez anos depois Portugal redescobre a verdade dita pelo próprio José Sócrates. Não tem talento e qualidades para ser Primeiro-Ministro. 16 de Setembro de 2000, uma data que merece mesmo ficar para a história.