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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Do amor e do ciúme

João Távora, 26.05.09

Ponto prévio: tenho para mim que o amor estará condenado à partida quando for um fim em si próprio. O que não impede que possamos ter uma "relação" fantástica sem muito amor, ou até nenhum. O ciúme pode excitar a “relação” mas liquida o amor. Enaltecer  o ciúme é como exaltar a desavença na perspectiva que esta acarreta uma lúbrica reconciliação. Ao amor feliz o que menos faz falta são efeitos especiais, sensações bombásticas, pólvora seca ou surround em 5.1.
O amor feliz exige desprendimento, dádiva, e um conhecimento mutuo profundo. Que cada um conheça os caminhos do outro, as curvas e contracurvas, os poros, tonalidades, texturas e odores, todas as nuances da alma e do corpo. Tudo isto carece de tempo, muito tempo, e... confiança! Exige uma entrega incondicional, o sacrifício dos segredos mais profundos, vaidades e fraquezas. Exige muito amor.
O ciúme é a parte da história em que o amor sucumbe à proeminência dum umbigo, quando vence em nós um predador ferido. O ciúme é presunção, ilusão de paixão, prenúncio de vazio: um paliativo existencial que oculta uma mortal solidão. O ciúme está sempre onde deveria estar mais amor. Como escreveu David Mourão Ferreira, um amor feliz não tem história. E no fundo, no fundo, isso até pode ser bom, não pode?

 

Como prometido, esta é uma sincera provocação ao João Gomes e ao seu "ciúme" aqui em baixo.

 

 

Ciúme

João Gomes de Almeida, 25.05.09

O ciúme é tão antigo como amor - e ninguém sabe como e quando foi descoberto o amor, logo o ciúme também não. Toda a gente o tenta explicar sem nunca obter uma resposta - ficam as dúvidas, as suposições e as acusações - mas respostas nada.

Paul Láutaud dizia que "o amor sem ciúme não é amor", eu concordo. É como que uma faca que nos atinge no peito, é como que sangue que jorra sem doer, no fundo, trata-se de uma dor que nos torna impotente. Provavelmente é a única ferida que o amor abre e que nunca sabemos como estancar. O ciúme passa com o tempo, até lá não podemos fazer nada e o peito continua a doer, é uma picada que nos mói por dentro e que nos mata, como um cancro que não sabemos curar.

O romântico é por norma ciúmento, ninguém tenha dúvidas disso. Talvez por isso as mulheres não gostem de românticos. Talvez por isso as mulheres não gostem de ciúmentos. Se o amor fosse uma equação, o ciúme seria uma variável. Nunca gostei de matemática e por isso nunca percebi nada de equações. Sempre fui um romântico e como tal ciúmento. Será defeito? Será virtude? Será feitio? Prefiro pensar que é um misto empolado pelo amor. 

Para os ciúmentos como eu lanço um desafio: vamos criar uma associação, ou uma federação, ou uma confederação, ou ainda um sindicato, um clube recreativo ou qualquer outra coisa. Talvez o melhor seja criarmos grupos de reflexão e partilha de experiências, uma coisa do género Ciúmentos Anónimos: "Olá eu sou o João e sou ciúmento desde que me conheço. Não procuro a cura, porque junto a este mal a maior das virtudes: amar". Paul Láutaud tinha mesmo razão.