É triste testemunhar a falta de testosterona do homem moderno, algo aparentemente ainda mais patente no mais comum dos portugueses. É notório que ao longo dos anos tal salta à vista, afinal passámos de uma sociedade de revoltas, assassinatos políticos e regicídio para uma sociedade conformista e castrada que tudo tolera, até que lhe roubem o pão da boca.
Recordo sempre as palavras de Oswald Le Winter, ex-agente da CIA exilado em Lisboa e autor de dois livros excelentes publicados pelas Edições Europa-América (“Democracia e Secretismo” e “Desmantelar a América”), confidenciou-me em tempos que Portugal é o tubo de ensaio da Nova Ordem Mundial desde 1974: que testaram e testam aqui tudo aquilo que um dia será generalizado em todos os países do mundo. Não sei se meteram algo na água, se foi pela educação escolar, mas a verdade é que desde os anos 80 que os portugueses se transformaram numa massa uniforme e manipulável desprovida de capacidade de reacção. Se calhar estava certo o homem, que Deus o tenha.
O escândalo em redor das praxes acaba por ser um mero reflexo desta bovinidade geral. Hoje: fala-se em ilegalizar a praxe devido aos excessos dos veteranos e à vitimização dos caloiros. No tempo dos reis: ilegalizou-se mesmo a praxe porque alguns caloiros ofendidos chegavam a agredir e a matar veteranos que os tinham praxado. Depois ainda riem quando digo que o nosso povo perdeu a capacidade de se revoltar e defender? Perdeu-a, em tudo! Os portugueses, caloiros ou não, nem sempre foram o rebanho submisso que são hoje.
Há quem goste sempre de recordar que não descendemos dos heróis que deram novos mundos ao mundo, aos aventureiros que descobriram a Austrália, a Ásia, o Brasil e que desbravaram África: descendemos dos que ficaram. Bom, tecnicamente e como separatista açoriano nada me agrada mais que ouvir o "descendemos dos que ficaram". Mas isso não explicaria a quantidade de tempo que aguentamos a Guerra no Ultramar, creio que o Estado Novo começou por quebrar o espírito dos portugueses e a inutilização do esforço de guerra ao entregar as colónias, mesmo contra a vontade de algumas, foi a machadada final. O cadáver ainda foi remexendo a sangue frio até os anos 80 e a partir daí criou-se uma massa de zombies com uma minoria muito ínfima ainda a sentir-se viva. E nós, os vivos, durante quanto tempo mais aguentaremos a chama?
PUBLICADO NO SEMANÁRIO NACIONAL O DIABO DE 04 DE FEVEREIRO DE 2014.