Alberto Martins e as datas da nossa memória e história colectiva:O 5 de Outubro de 1910 “no fundo a fundação do Estado moderno”
Acabei de ler no Jornal SOL que o PS estava de acordo com o projecto do PCP para a reposição dos quatro feriados retirados em 2013 aos portugueses.
No mesmo artigo Alberto Martins refere que foram suspensos "dois muito fortes, o 5 de Outubro e o 1.º de Dezembro, momentos singulares referenciais da nossa identidade histórica e nacional", "…datas da nossa memória e História colectiva" e concluiu dizendo que o "1.º de Dezembro de 1640 é uma data singular de reafirmação da independência nacional e o 5 de Outubro de 1910 é a fundação da República, no fundo a fundação do Estado moderno".
Para além de demonstrar uma total falta de respeito por quem, durante a Guerra da Restauração, morreu no campo de batalha a defender a independência do nosso país, entendo que só por mera ignorância ou intencionalidade republicana primária, é que se podem colocar os dois feriados em paridade,
Em primeiro lugar porque, como já anteriormente escrevi, a ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da independência de Portugal, após 60 anos de monarquia dualista, como tal não devemos pôr em causa estes nobres ideais restauracionistas comparando-os com a implantação da república, considerando-a uma referência da nossa identidade nacional.
Contra todas as expectativas, contra muitas previsões e contra a própria lógica, sobrevivemos. Arruinados e esfomeados os portugueses de então preparam-se para enfrentar os exércitos que haviam de chegar, e que eram muito superiores. Triunfamos!
A ofensa será tanto mais grave na medida em que uma grande parte dos cabecilhas republicanos pugnava por uma República Ibérica de raiz Hispânica, para o que estabeleceram contactos no país vizinho, com organizações irmãs (diga-se maçónicas) de forma a levarem a cabo a destituição do Rei Alfonso XIII, por acreditarem que o nosso país já não poderia sobreviver como nação independente e que só restava o desaparecimento de Portugal.
Sobre esta tentativa de união ibérica, foram também estabelecidos contactos com a Inglaterra no sentido de apurar se este país se oporia à absorção e ao desaparecimento de Portugal. No entanto estes planos acabariam por sair frustrados com o início da I Guerra Mundial.
Por aqui se vê que o PS ainda não se libertou dos ideais jacobinos da 1.ª república, preferindo comemorar uma data, que, contra a vontade do povo, alterou o regime vigente através de uma revolução fratricida entre portugueses, e da qual organizações criminosas como a Carbonária, se aproveitaram, e que teve como acto preparatório o assassinato de El-Rei D. Carlos e seu filho o Príncipe D. Luís Filipe, por ordem expressa da Carbonária, braço armado da Maçonaria.
Também não é verdade que o 5 de Outubro de 1910 foi “no fundo a fundação do Estado moderno”.
O que aconteceu é que após a implantação da República gerou-se o caos e a intolerância religiosa, com perseguições cruéis à Igreja, perseguições políticas e assassinatos, agitação social, e governos que duravam apenas dias.
Aliás, a revolução republicana não foi sequer libertadora: na altura havia uma constituição aprovada e votada no Parlamento; existiam partidos políticos, entre os quais o próprio partido republicano e, se atendermos à época, as instituições democráticas funcionavam plenamente.
Por tudo isto o único 5 de Outubro digno de comemoração é o de 1143, (Conferência de Zamora) data emblemática em que ocorreu a Fundação da nossa Nacionalidade, a partir da qual D. Afonso Henriques passou a governar como rei o reino de Portugal e Afonso VII, rei de Leão e Castela, assim o reconheceu, renunciando às obrigações de vassalagem por parte do nosso primeiro rei.
O regime republicano escolheu como cores preferenciais as do iberismo, que ainda hoje subsistem na bandeira portuguesa: o verde e o vermelho, que são as cores da Maçonaria.
Termino com uma citação do grande Fernando Pessoa, no livro Da República (Editora Ática, Lisboa, 1978, pág. 150-151):
(…) E o regimen (a república) está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados mentais, nos serve de bandeira nacional – trapo contrário à heráldica e à estética, porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicanismo português - o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que, por direito natural, devem alimentar-se. (…)