A Incoerência do Apoio do PPM a uma Candidatura Presidencial
O recente apoio do Partido Popular Monárquico (PPM) à potencial candidatura do Almirante Gouveia e Melo às eleições presidenciais de 2026 suscita um debate profundo sobre a coerência ideológica e a fidelidade aos princípios fundadores do partido. Como antigo filiado do PPM desde 1974, partido em que ocupei diversos cargos a nível nacional, designadamente o de Presidente da Comissão Executiva Nacional e membro da Comissão Política Nacional, sinto-me compelido a expressar a minha discordância com esta decisão inédita na história do partido.
Importa também referir que, em 1997, abandonei e desfiliei-me deste partido, por considerar que, apesar de o PPM ter desmitificado a ideia de Monarquia após o 25 de Abril, não fazia sentido continuar a existir um partido monárquico. Não apenas pelo facto de a monarquia ser suprapartidária, mas também porque a grande maioria dos seus dirigentes históricos abandonou o partido pelos mesmos motivos. No entanto, continuo a acompanhar com interesse o seu percurso.
O PPM, desde a sua fundação em 1974 por Gonçalo Ribeiro Telles, Henrique Barrilaro Ruas e outros destacados monárquicos, tem como objectivo primordial a restauração da monarquia em Portugal. Este princípio norteador distingue o partido no panorama político nacional, conferindo-lhe uma identidade única e uma missão clara. O apoio a uma candidatura presidencial republicana parece, portanto, contradizer a essência do partido, que sempre se posicionou em defesa de um regime monárquico.
O PPM apresentou como justificação para este apoio a integridade pessoal e a capacidade de liderança de Gouveia e Melo, destacando, entre outros, o seu papel durante a pandemia de COVID-19. Independentemente de o Almirante possuir ou não méritos individuais, o argumento de apoiar um candidato com base apenas nas suas qualidades pessoais não se sustenta dentro do contexto de um partido que defende a monarquia. Um partido como o PPM deve preservar os seus princípios acima de tudo, o que implica evitar apoiar candidaturas que reforcem o sistema republicano, independentemente das virtudes de qualquer candidato.
Outro argumento apresentado é a falta de alternativas viáveis que reflitam os valores do PPM. Este ponto demonstra uma falta de visão estratégica, já que a resposta adequada do partido deveria ser trabalhar para promover a discussão sobre a relevância da monarquia parlamentar em Portugal, em vez de se aliar a um sistema que é, em essência, antagónico à sua razão de ser. O apoio a um candidato presidencial é uma aceitação implícita da República como modelo de governação, algo que compromete a mensagem central do partido e aliena os seus apoiantes tradicionais.
Por fim, um outro argumento apresentado, é que esta decisão visa dar visibilidade ao PPM e reforçar a sua relevância no panorama político nacional. Embora seja compreensível que o partido queira ganhar protagonismo, isso não deve ser feito à custa dos seus ideais fundadores. Sacrificar a coerência ideológica em troca de visibilidade política é um erro que compromete irremediavelmente a credibilidade do partido e a sua missão a longo prazo.
Esta decisão inédita no PPM representa uma clara ruptura com a sua tradição de não se envolver diretamente em eleições presidenciais. Tal atitude pode ser vista como uma concessão aos valores republicanos e um abandono dos objectivos originais do partido. Além disso, o apoio a uma candidatura presidencial republicana pode confundir os eleitores e desvirtuar a identidade do partido, levando a questionamentos sobre o seu compromisso com a causa monárquica.
É fundamental que o PPM reavalie esta decisão e volte a concentrar-se na sua missão central: a defesa e promoção da monarquia parlamentar como uma alternativa credível para Portugal. Esta é a melhor forma de honrar a memória dos seus fundadores e de respeitar todos aqueles que, ao longo das décadas, dedicaram o seu tempo e esforço à causa monárquica.
O apoio a Gouveia e Melo, por mais bem-intencionado que seja, é um desvio preocupante do caminho traçado pelo PPM desde a sua criação. O partido deve voltar a ser fiel aos valores que lhe conferem identidade, em vez de procurar relevância através de alianças que enfraquecem a sua posição ideológica.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico de 1990.