Alto risco contínuo
Andei toda a vida profissional a redigir e a comentar as notícias mais díspares e inimagináveis sobre crimes. E quando pensamos que já vimos acontecer tudo aos outros bate-nos à porta o inesperado. Ontem, por volta da hora de almoço estava numa das artérias concorridas da nossa Lisboa e ouvi um BMW a apitar, tipo chamamento. Olhei, não reconheci nenhum dos quatro indivíduos com cerca de 25 anos que se encontravam no interior do carro e não liguei. O carro avançou para junto de mim e um dos fulanos cumprimentou-me e perguntou-me como ia a vida.
- Vamos andando, mas não estou a ver quem é!
- Então, não sabe quem eu sou? Não me está a reconhecer?
- Não!
- Sou o filho daquele grande seu amigo onde você trabalhava!
- Em Macau?
- Isso, em Macau! Veja lá quem era o seu maior amigo... aquele amigo de peito que nunca o traíu... diga lá, quem?
Naquele momento eu já tinha caído na esparrela, convencido que se tratava mesmo de algum jovem filho de um grande amigo que mantenho em Macau. Disse o seu nome e acto contínuo o interlocutor do BMW, disparou:
- Esse mesmo! Está a ver como acertou! Sou eu, o filho!
- É pá, estás um pouco diferente... os anos passam e vocês crescem!
- Oiça, o pai chega na segunda-feira... vamos abrir uma loja no El Corte Inglês e gostava que o meu amigo fosse lá à inauguração... entre aí, vamos ali tomar um café que é para eu lhe entregar o convite e os meus contactos...
Respondi que estava com pressa, entreguei o meu cartão e disse para me contactar mais tarde. Como não recebi qualquer resposta enviei um e-mail ao tal amigo em Macau, dizendo-lhe que tinha tido a agradável surpresa de ver o seu filho e congratulei-me pela sua vinda a Lisboa para a abertura da loja.
Como resposta, há momentos, fiquei a saber que o meu amigo não tem a mínima ideia de vir a Portugal, não vai abrir loja nenhuma, o filho está lá com ele e que eu estive à beira de um sequestro...