O menino da rádio
Não sou muito de ouvir rádio, confesso. Mas a verdade é que sempre que o ligo no carro, por exemplo, sou bombardeada por canções melosas de um sucedâneo português do Enrique Iglésias (já de si um original bastante deprimente) que dá pelo pomposo nome de João Portugal. Como todas as do género, as canções são perversamente orelhudas e podem mesmo ficar a martelar-nos os neurónios durante um dia inteiro. Por causa disso, acabei por fixar algumas partes das letras, que dizem coisas como estas:
"Ainda tenho o teu anel
da cor da tua pele
e desse beijo que era meu"
ou
"Voltei a pedir o teu abraço
doeu dizeres que não
tentei e abusei dos meus princípios
agora digo que não
é a palavra da razão"
Em nome dos letristas portugueses (classe a que pertenço com muito orgulho) que se esforçam por escrever coisas com algum nexo e procuram não ceder à rima fácil, faço votos para que este poeta daltónico deixe de abusar dos seus princípios e diga que não, de uma vez por todas, às batotas que anda a fazer. Esse "não" é que seria, finalmente, a palavra da razão.