Uma ideia genial
De todos os acontecimentos que se deram na música nos últimos tempos, o mais importante, na minha opinião, foi a miscigenação entre a música habitualmente classificada como "erudita" e os géneros musicais mais populares.
E essa arrojada, brilhante e generosa ideia deve-se, em grande parte, ao grande Luciano Pavarotti. Os excelentes concertos "Pavarotti & Friends" duraram quase uma década, juntando em palco os mais variados ritmos, timbres e talentos de todo o mundo, e fizeram muito mais pela divulgação da ópera e da música clássica junto de novos públicos do que muitos anos de programas culturais. Ficarão célebres os curiosíssimos duetos de Pavarotti com as mais inesperadas vozes e figuras, cujo resultado foi um saudável divertimento que pôs meio mundo (de várias gerações) a cantarolar árias de ópera que, provavelmente, nunca ouviria de outra maneira. Se acrescentarmos o facto de esses concertos terem sido todos pro bono, sem excepção para nenhum artista convidado, e de todas as receitas obtidas (concertos, gravações, publicidade) terem sido oferecidas a causas humanitárias mundiais, teremos a noção do espantoso alcance desta ideia.
Aqui fica um dos mais felizes exemplos dessa cumplicidade: Pavarotti e Zucchero (outra das minhas vozes de eleição) numa espantosa interpretação de uma das mais belas composições musicais de todos os tempos - Va Pensiero, do Nabucco de Verdi. Escolhi-a também pela mensagem de esperança e de liberdade, tão necessária a estes tempos turvos em que as nossas prisões são menos visíveis, mas nem por isso menos reais.
(Va pensiero - Zucchero / Pavarotti)