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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Dr. Franciso Abreu e Lima

José Aníbal Marinho Gomes, 01.03.25

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O Dr. Francisco Maia de Abreu de Lima foi uma figura ímpar na história de Ponte de Lima, dedicando grande parte da sua vida ao serviço da comunidade limiana. Nascido a 27 de Maio de 1930 na Casa do Antepaço, freguesia de Arcozelo, Ponte de Lima, era o mais novo de três filhos de Gonçalo de Abreu de Lima e D. Maria Guilhermina de Abreu Pereira Maia. Iniciou os estudos primários em Ponte de Lima, completando-os em Coimbra, onde frequentou o Liceu D. João III e se licenciou em Direito pela Universidade de Coimbra. Destacou-se como jurista, político e, acima de tudo, como um fervoroso defensor do património cultural e histórico da sua terra natal. 

Casou-se a 19 de Setembro de 1959 com D. Maria Corina Amorim Vieira Lisboa, com quem teve três filhos: Gonçalo, Maria Francisca e Rita.

Iniciou a carreira profissional na área da Previdência Social, ocupando diversos cargos de direcção  na Administração Pública Central e Local, onde assumiu papéis de relevo no serviço público, incluindo as funções de Secretário do Ministro das Corporações e Previdência Social, bem como a presidência da Câmara Municipal de Ponte de Lima, após o que foi nomeado Presidente da Direcção do Centro Regional da Segurança Social de Viana do Castelo.

Em Ponte de Lima, destaca-se o apoio que prestou às inúmeras pessoas que o procuravam em busca de emprego antes de 1974.

Que o digam as centenas de pessoas que recorreram à sua ajuda nessa época, quando desempenhava funções como Secretário do Ministro das Corporações e Previdência Social. Muitos foram aqueles que beneficiaram do seu auxílio, sempre prestado com dedicação e um profundo sentido de missão de ajuda ao próximo.

Entre 1986 e 1990, foi eleito como independente pelo CDS para a presidência da Câmara Municipal de Ponte de Lima. Embora não tenha mantido filiação partidária, sendo assumidamente monárquico, filiou-se apenas na Causa Monárquica. Durante o seu mandato, promoveu diversas iniciativas culturais e sociais em benefício da comunidade limiana. Destacou-se pela sua postura de diálogo e cooperação, aprovando todas as propostas apresentadas pela vereação, desde que fossem benéficas para o concelho, independentemente da força política que as propusesse.

Um dos momentos mais marcantes da sua gestão foi a decisão de encerrar ao trânsito as pontes romana e românica, permitindo apenas o acesso pedonal. Apesar da forte contestação popular e política na altura, esta medida revelou-se visionária, transformando a ponte num dos ex-libris de Ponte de Lima.

Ciente das implicações políticas da sua decisão, manteve-se firme na sua convicção, mesmo sabendo que isso poderia custar-lhe a reeleição. De facto, recandidatou-se à Câmara Municipal, mas acabou por perder as eleições de 1989 devido à impopularidade desta medida. No entanto, nunca se arrependeu da decisão, pois hoje a ponte é um dos locais mais icónicos da vila de Ponte de Lima, proporcionando um espaço seguro e agradável para todos os que a visitam e nela passeiam.

De igual, um dos marcos mais significativos do legado do Dr. Abreu de Lima foi a sua iniciativa na criação de uma estátua em homenagem a D. Teresa, fundadora de Ponte de Lima. Segundo o próprio Dr. Abreu de Lima, a ideia surgiu de uma conversa com o Sr. Amândio de Sousa Vieira, que desde então se dedicou incansavelmente a concretizar esse objetivo e contribuiu, de forma inestimável, para a valorização histórica desta figura através da publicação do seu livro Rainha D. Teresa: «...e fez Vila o lugar de Ponte», uma obra de referência que aprofunda e enaltece o legado da fundadora de Ponte de Lima.

Após essa conversa, decidiram apresentar a ideia ao Embaixador João de Sá Coutinho, Conde de Aurora, que prontamente aceitou integrar a iniciativa. Assim, de forma espontânea, constituiu-se a comissão "ad-hoc" responsável por erigir uma estátua digna de D. Teresa.

Um dos passos mais acessíveis desta missão foi o contacto com o Presidente da Câmara, Eng.º Daniel Campelo, a quem foi solicitada colaboração, garantindo que os custos do projecto seriam cobertos por uma subscrição pública, sem encargos para a autarquia. O Eng.º Daniel Campelo acolheu prontamente a iniciativa e assegurou o apoio municipal, nomeadamente através da disponibilização de serviços administrativos, como dactilografia e despesas de correio. A Câmara Municipal também contribuiu para algumas despesas de menor valor que se revelaram necessárias ao longo do processo.

Esta comissão contou também com a colaboração do escultor Luís Valadares, do então Presidente da Câmara Municipal, Eng.º Daniel Campelo, do artesão limiano José Manuel Armada, responsável pela criação da coroa da estátua e pelo selo do documento que a D. Teresa tem na sua mão direita.

A construção da estátua foi um processo cuidadoso e minucioso, como me disse o próprio Dr. Abreu de Lima. Para além dos esforços da comissão, houve um envolvimento significativo da comunidade e de mecenas que acreditaram na importância deste tributo. A concretização deste projecto não teria sido possível sem o apoio desses beneméritos, cujo contributo foi essencial para tornar a iniciativa uma realidade. Entre eles, destaca-se o próprio autor destas linhas, refletindo o espírito comunitário e o compromisso dos cidadãos de Ponte de Lima em preservar e honrar a sua rica herança cultural. A estátua foi inaugurada a 4 de Março de 2002, data simbólica para Ponte de Lima, e marcou um momento histórico na valorização do passado da vila.

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Foi neste dia que teve lugar o lançamento de um pequeno livro da minha autoria, “D. Teresa e a Vila de Ponte: Alguns Subsídios Biográficos e Históricos”, que de alguma forma contribuiu para o conhecimento da história de Ponte de Lima e da sua fundadora.

Em Ponte de Lima, foi também prestada uma primeira homenagem pública a D. Teresa em 1993, com a abertura de um bar na Rua do Bonfim, baptizado de D. Theresa, do qual fui um dos proprietários. Este espaço, embora hoje já não exista, representou um marco simbólico na valorização da rainha e do seu papel na história da vila.

O Dr. Francisco Maia de Abreu de Lima ficará para sempre na memória colectiva dos limianos pelo seu contributo inestimável ao desenvolvimento da vila. Dada a sua dedicação, seria justa uma homenagem por parte da Câmara Municipal, sendo uma das possibilidades a sua inclusão na toponímia de Ponte de Lima.

Visionário e profundamente comprometido com a preservação da história local, o Dr. Abreu de Lima dedicou-se ao planeamento das comemorações dos 900 anos da concessão do foral a Ponte de Lima por D. Teresa, que vão ocorrer no dia 4 de Março de 2025. Defendia, ainda, que o feriado municipal de Ponte de Lima fosse alterado para essa data, bem como propôs a criação de uma moeda comemorativa alusiva ao nono centenário do foral.

Além disso, o Dr. Francisco Abreu de Lima desejava que a cerimónia decorresse com honras militares, prestando o devido tributo ao simbolismo e à importância do momento, e que estivessem presentes as ordens de cavalaria, bem como Sua Alteza Real, o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança.

Infelizmente, o destino não lhe permitiu estar presente nesta data tão aguardada, pois faleceu na sua residência, a Casa do Antepaço, na freguesia de Arcozelo, a 18 de Abril de 2023, antes de poder testemunhar as celebrações que tanto idealizou.

Em diversas ocasiões, o Dr. Abreu de Lima manifestou-me o seu profundo desejo de participar nas comemorações do nono centenário da vila. O seu entusiasmo e dedicação eram inegáveis, e aguardava com grande expectativa a concretização das iniciativas que ajudou a idealizar para assinalar esta data histórica.

O legado do Dr. Francisco Maia de Abreu de Lima perdura em cada pedra da vila, na memória colectiva dos limianos e nas celebrações que marcam os 900 anos do foral. A sua dedicação incansável serve de inspiração para as gerações futuras, lembrando-nos da importância de valorizar e preservar a história e cultura locais.