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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Austeridades, a Esquerda e a Ecologia

Duarte d´Araújo Mata, 13.03.13

Tenho simpatia e consideração pelo Daniel Oliveira, que conheci de relance na campanha de 2005 para a eleição do José Sá Fernandes para a Câmara Municipal de Lisboa. Parece-me uma pessoa intelectualmente séria. Para além de tudo é um excelente orador e um óptimo cronista. As suas crónicas põem-nos a pensar e colocam o dedo na ferida. 

Na sua crónica de hoje no "Expresso" online, Daniel Oliveira crítica o que designa de "Austeridade de Esquerda".

Fico baralhado porque defendo que devemos ter uma vida de "austeridade". Calma, austeridade neste caso não é ser infeliz ou viver em cláusura. Austeridade é, como ecologista "por Natureza" que sou, procurar viver de acordo com a capacidade do Planeta suportar os nossos impactes, consumir com moderação, escolher os "excessos" como excepção e acreditar que podemos ser felizes com o suficiente.

Assim, como Daniel Oliveira considera impossível uma "austeridade de esquerda", eu considero esquizofrénicas todas as políticas "expansionistas" assentes na ineficiência energética e na exploração do território e dos seus recursos. Sou de esquerda mas sempre me espantou que a "esquerda" seja capaz de defender uma actividade altamente poluente versus a defesa de um recurso natural, mesmo que o emprego que esse recurso venha a gerar a prazo seja muito maior do que essa actividade no imediato.  Esta é uma posição difícil de sustentar perante os trabalhadores dessa actividade em risco de desemprego, bem o sei, mas o que se deve sempre ter em conta é que uma economia sustentável exige um contexto de transição, de modernidade e de eficiência. 

Assim, tal qual abonimo a austeridade liberal e de direita que temos tido, porque apenas corta nas despesas, e no essencial deixa todo o acessório na mesma, também as esquerdas precisam de explicar com clareza que actividades económicas defendem para fazer crescer o País, e se as mesmas são sustentáveis ambiental, social e economicamente. É que defender actividades económicas que não pagam a factura ambiental, designadamente muitas obras públicas, rodovias e afins de dúvidoso interesse e reduzido retorno, e com isso fazer "crescer" o País é relativamente simples de argumentar. Mas é indesejável, porque essa factura ambiental tem custos e muito depressa vamos pagá-los, com deslocalizações, falências e desemprego.

Fazer crescer a economia de forma sustentável é mesmo o maior dos desafios que temos pela frente, porque simplesmente defender como solução "políticas expansionistas" sem as detalhar é  uma solução mal explicada e inconsequente a curto-médio prazo. É este paradigma ambiental que nem a esquerda nem a direita defendem e que é "terceira via" que precisamos. E sim, esta "terceira via" far-se-á com gente boa que a há, da esquerda e da direita.