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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Se há bons motivos para sermos Republicanos

Duarte d´Araújo Mata, 15.01.13

Foto AQUI

Desde cedo percebi que é uma personagem controversa e apaixonante. 

Tinha 10 anos quando houve aquela campanha eleitoral disputada voto a voto, contra Freitas do Amaral. Logo aí percebi o seu carisma e a sua atitude determinada e inteligente de abordagem aos assuntos.

Mais tarde comecei a conhecer os "ódios" que colegas meus de escola, e mais tarde de faculdade, nutriam contra Mário Soares. Não me quero alongar sobre isso, mas quase todos eles achavam que Mário Soares era o responsável pelo que as suas famílias "perderam" em África. Nunca percebi qual a solução que eles tinham para ter evitado isso, para além de se ter mantido uma qualquer guerra colonial...aliás, normalmente nunca diziam. Muitas vezes praguejavam. Simplesmente praguejavam. E eu ouvia e às vezes argumentava. Outras vezes não valia a pena. 

Não "é do meu tempo" o seu desempenho como Primeiro-Ministro, não o quero comentar. Mas o seu desempenho como Presidente da República já é, e foi, a meu ver, muito bom. Por diversas razões, a Presidência da República manteve sempre uma atitude activa na resolução da vida do País. O segundo mandato foi fulcral para mim nesta avaliação. O País, enebriado pelas auto-estradas, pelo carro ,e empenhado nos loteamentos e nas rotundas, teve pela primeira vez uma alta figura do Estado a pedir para reflectirmos sobre esse caminho.

A "Presidência Aberta" dedicada ao Ambiente foi um marco histórico da nossa Política e levantou questões ainda hoje absolutamente centrais. O País do desenvolvimento do betão destruía rapidamente as suas "galinhas de ouro". A 3ª Travessia do Tejo em 1992, a maneira como foram colocadas as várias propostas e a solução adoptada é, para mim, um "case-study". Nessa Presidência Aberta, o Presidente Mário Soares deslocou uma comitiva de especialistas para uma visita à Reserva do Estuário do Tejo, antes da ponte a ter vindo a atravessar. Melhor uso da função Presidencial era difícil. Melhor só tendo evitado o desastre daquela opção, com os resultados à vista de todos. Basta ir ao Montijo.

Hoje vemos que poderiamos ter-nos desenvolvido de forma sustentável. Económica e ambienalmente. Mário Soares já o disse por inúmeras vezes. E disse-o antes da crise ter chegado em força. Aliás, essa é uma das características que mais admiro em Mário Soares: a sua capacidade de prevêr os acontecimentos e discuti-los atempadamente. E não é um ecologista fervoroso, é mais do que isso um Estadista de grande craveira. 

Da mesma forma, o seu posicionamento na crítica ao capitalismo selvagem e às políticas bélicas Americanas, como na Invasão do Iraque em busca das armas de destruição em massa, ajudou, e de que maneira, a discutir questões muito complexas, que incluiam o fanatismo religioso, a dominância dos Países ricos sobre os pobres e a justiça social. Foi assim uma figura poeminente durante o período do Pós 11 de Setembro. 

Mais recentemente, insatisfeito com as sua condição de comentador, resolveu candidatar-se novamente à Presidência da República. Vemos hoje a mais-valia que teria sido a sua eleição, no momento em que Cavaco Silva, comprometido com o que se está a passar, se revela o pior que podiamos ter numa acção Presidencial. Discurso comprometido, acrítico, com nenhuma visão e sem levantar nenhum debate que nos permita ter alternativas para além da "espuma dos dados" económicos. Ainda assim, Mário Soares tem sido, quase sempre, um dos motores desse debate, com permanentes reflexões e actualizações. Sinto-o como um Homem sempre actualizado.

No momento em que está hospitalizado, alguns esses "ódios" do meu início de texto não resistem em aparecer em todo o seu esplendor. E não é preciso procurar muito na blogosfera nem nas redes sociais...

Daniel Oliveira refere-o de alguma forma. Da minha parte faço votos de uma rápida recuperação, para que possamos ter de novo a sua indispensável participação na vida pública.

E é por pessoas como Mário Soares que vale a pena defender a República. É que o mérito não se herda, merece-se.

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