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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Bimba!

Ana Vidal, 08.12.08

 

Quem me conhece sabe que a Gastronomia é uma das minhas paixões. De tal maneira que a "casei" com outra delas, a Poesia, numa antologia que me deu tanto prazer organizar como fazer um prato sofisticado para um dia de festa, e, seguramente, muito mais trabalho. Chamei-lhe "A Poesia é para comer", uma expressão que roubei à grande Natália e que traduz na perfeição o espírito desta minha aventura poético-gastronómica.

 

Cozinhar é a melhor terapia que conheço porque exige uma atenção exclusiva, e porque é o mais completo esvaziamento mental de toda e qualquer preocupação que seja alheia ao que estamos a fazer (outra actividade que tem o mesmo efeito é o ski na neve, mas é substancialmente mais cara...). Recomendo vivamente a experiência a todos os que nunca franquearam esse mágico e encantado mundo que é uma cozinha. É um universo de possibilidades para a imaginação, de mistérios desvendados à medida que perdemos o medo e arriscamos tratar por tu sabores e cheiros evocativos de sortilégios ancestrais. Cozinhar para alguém é, indubitavelmente, um acto de amor. E pode ser também, muitas vezes, um acto de pura sensualidade. Mas a culinária é, sobretudo - e só me entende quem sabe do que falo - um prazer muito íntimo, de sublimação e de alquimia.

 

Tudo isto para dizer-vos que, como amante da cozinha que se faz lentamente e com passos tão cuidados como uma coreografia de Béjart, resisti durante muito tempo a uma máquina de cozinha alemã que dá pelo inacreditável nome de Bimby. Declinava todos os convites para uma demonstração da dita, por me parecer que ela se aplicaria mais a quem não sabe e não gosta de cozinhar. Mas estava enganada. Acabei por sucumbir, e não me arrependo, à tentação do prático, e com esta preciosa auxiliar voltei a fazer algumas receitas (as que envolvem massas trabalhadas, por exemplo) que já tinha perdido a paciência de fazer. Não me substituiu na cozinha, longe disso, faz é por mim as coisas que menos gosto de fazer.

 

Mas não se assustem... este post não é uma elegia à Bimby. A máquina vale o que vale - e vale bastante, concordo, até pelo preço - mas não é caso para sacralizá-la. Por isso hoje de manhã, ao abrir um livro de receitas que reúne "o melhor da Bimby", dei por mim a ler alguns dos testemunhos que acompanham as receitas "experimentadas e recomendadas" por algumas das suas utilizadoras de eleição, convidadas a pronunciar-se sobre as qualidades da maquineta. E no meio dos previsíveis "A Bimby é qualidade de vida", "A Bimby é independência", "A Bimby é imprescindível", e até de um criativo "A Bimby é bimbástica", encontrei uma senhora que afirma convictamente, com um largo sorriso de beatitude, "A Bimby é a minha alma gémea". Estaquei, arrepiada. São declarações destas  bimbas que legitimam aquela velha piada machista que sempre me irritou solenemente: "Sabem porque é que os vestidos de noiva são brancos? Porque o branco é a cor dos electrodomésticos!"

 

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