Um partido desperdiçado
Escrevi aqui há uns tempos um post sobre o CDS que foi visto por várias pessoas, entre as quais o nosso João Távora, como um pedido para a extinção do partido. Como estávamos em campanha para as europeias, com os ânimos quentes, não quis voltar ao assunto para não ser mal interpretado. Mas agora, tanto mais que o CDS já festejou a sua sobrevivência perante as sondagens e confirmou a sua posição como quinto partido português e último entre os que têm presença no Parlamento, esclareço que acho que ninguém, a não ser os seus militantes, tem direito de pedir a extinção de um partido, seja ele qual for, e eu próprio reajo mal quando vejo alguém que não é do PSD andar a dar sentenças sobre a sua vida interna.
Porém, reafirmo que considero um desperdício ver os bons quadros que o CDS tem andarem a gastar tempo e energia a tentarem distinguir-se do PSD, em nome de uma pureza ideológica que não possuem. É verdade que o CDS está mais próximo das posições da ortodoxia católica e que o PSD é mais "a César o que é de César e a Deus o que é de Deus", mas não me parece que os sociais-democratas sejam propriamente anti-clericais...
Ou seja, acho que o CDS e o PSD deveriam formar um só partido. Aliás, pertencem já à mesma família ideológica europeia, o PPE. Acho até que, mesmo que o PSD ganhasse as próximas legislativas por maioria absoluta (numa hipótese que não se vislumbra), deveria chamar o CDS, ou pelo menos alguns dos seus quadros, para o Governo. Eu sei que há muita gente no PSD que considera vantajoso ter um partido mais à direita, deixando os eleitores do "centro" ou mesmo do "centro esquerda" mais propensos a votar laranja, ou que o CDS capta certos votos "marginais" ao sistema de gente que considera os sociais-democratas perigosos esquerdistas, etc. Mas eu troco todas essas teorias por ter mais gente de qualidade num partido com acesso ao poder.
Para mim, os partidos são instrumentais, não são "espaços de afecto". O que interessa é que haja gente competente e séria para exercer o poder. Ver que o grande objectivo do CDS para as próximas legislativas é atingir os dois dígitos e derrotar as sondagens mais uma vez, parece-me pouco. Mas se já resolveram a questão da equidistância em relação ao PS e querem voltar ao Governo numa coligação com o PSD, porque não assumir de uma vez por todas que há muito mais a unir do que a dividir?