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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Ventura e os Três Salazares: Uma República de Fantasmas

José Aníbal Marinho Gomes, 27.10.25

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A entrevista de André Ventura a Clara de Sousa, transmitida na SIC, foi um curioso retrato daquilo em que a política portuguesa se tornou: um palco de afirmações inflamadas, desprovidas de substância histórica e mergulhadas num sentimentalismo autoritário mal disfarçado de patriotismo. Ventura, que se apresenta como defensor de uma ordem perdida, acabou por revelar, uma vez mais, que não compreende o significado da palavra ordem — nem no sentido moral, nem no institucional.

Quando, com ar grave, declarou que “não era preciso um Salazar, eram precisos três Salazares para pôr isto na ordem”, o país inteiro ouviu um eco distante de tempos sombrios. Mas o mais inquietante é que o próprio Ventura, que se diz “democrata”, parece ignorar que o salazarismo foi precisamente o regime que desfez a última esperança de restauração monárquica em Portugal. É uma ironia que um homem que se proclama defensor da “tradição” invoque o nome daquele que fez da República uma prisão dourada para os monárquicos — e que, diferentemente de Franco em Espanha, nunca quis que o Rei regressasse.

Salazar, com a sua frieza de economista e a sua prudência de seminarista, compreendeu que um Rei seria, por natureza, um poder mais legítimo do que ele próprio. Por isso, manteve o trono vazio, mas sob vigilância, como quem guarda uma relíquia perigosa. Franco, pelo contrário, preparou a restauração, educou o Príncipe e restituiu à Espanha a continuidade dinástica. Em Portugal, o Estado Novo acabou por trair a confiança dos monárquicos que, nas primeiras décadas do século XX, haviam visto em Salazar um possível restaurador. Mas o ditador nunca quis Rei: quis apenas silêncio. E esse silêncio custou a Portugal a sua continuidade histórica.

Enquanto em Espanha a prudência de Franco preparava o regresso da Coroa, em Portugal a obstinação de Salazar cavava um fosso entre o Estado e a História. O resultado foi um país órfão da sua tradição, habituado à obediência, mas incapaz de reverência — uma diferença que Ventura, com o seu autoritarismo ruidoso, parece também incapaz de compreender.

Durante a entrevista, Clara de Sousa, com a serenidade que o jornalismo exige, tentou por diversas vezes arrancar de Ventura uma resposta clara quanto ao papel que pretende desempenhar caso venha a ser eleito Presidente da República. O resultado foi um exercício de contorcionismo político: ora falava como chefe de governo, ora como líder partidário, ora como árbitro nacional — confundindo constantemente as funções de Presidente com as de Primeiro-Ministro. Disse querer “pôr o país na ordem”, “fazer reformas”, “mudar o sistema”, e “impor autoridade” — tarefas que pertencem, por essência, ao Governo, não à chefia de Estado.

Ora, um verdadeiro Chefe de Estado — e aqui falo como monárquico — não governa: reina. Representa, acima das facções e das querelas, a unidade da Nação. É o símbolo da continuidade, não o gestor das circunstâncias. Ventura, pelo contrário, quer ser tudo: Rei sem coroa, Primeiro-Ministro sem Parlamento, e Presidente sem República. A sua ambição parece mais próxima do caudilhismo ibérico do que da sobriedade régia portuguesa.

Talvez o mais revelador momento da entrevista tenha sido quando, questionado sobre o 25 de Abril, se demarcou da Revolução e disse que “não celebrará o regime que destruiu a autoridade em Portugal”. É curioso ouvir isto de alguém que se candidata à Presidência da República — isto é, à mais alta magistratura do regime nascido precisamente desse 25 de Abril. O que Ventura quer, ao que tudo indica, é usufruir das instituições republicanas sem aceitá-las. É como quem entra num mosteiro para pregar contra Deus.

Mas a incoerência maior não está apenas nas palavras, está no espírito. Um Rei, mesmo num sistema constitucional, sabe que o seu dever é ser o pai de todos os seus súbditos — dos que o amam e dos que o detestam. Ventura, em contrapartida, não quer ser o Presidente de todos os portugueses; quer ser o comandante dos seus. Divide o país entre “bons” e “maus”, “patriotas” e “traidores”, “puros” e “corruptos” — uma velha táctica dos aprendizes de tirano. Onde um Rei procura conciliar, Ventura procura combater; onde um Rei simboliza a continuidade, ele encarna a ruptura; onde um Rei reina com discrição, ele agita com estrépito.

Clara de Sousa, talvez consciente deste paradoxo, tentou expô-lo com subtileza. Perguntou-lhe, por exemplo, se acreditava que a força resolveria os problemas de Portugal. Ventura respondeu com aquele sorriso estudado que já se tornou o seu emblema mediático: “Não é força, é autoridade.” Mas a diferença entre ambas é apenas semântica quando dita por quem sonha com “três Salazares”. E assim, a entrevista transformou-se num espelho da República actual: um espaço onde o populismo confunde vigor com virtude, e onde a retórica da “ordem” mascara o vazio de ideias.

Os monárquicos, que há muito aprenderam a distinguir autoridade de autoritarismo, não podem deixar de ver nesta retórica um eco de tragédias passadas. Salazar prometeu estabilidade e entregou estagnação; prometeu moralidade e deixou um país miserável, amputado de futuro e de esperança. Ventura repete as promessas, mas ignora as consequências. E se Salazar, com toda a sua inteligência e frieza, soube manipular os símbolos nacionais, Ventura limita-se a usá-los como adereços de campanha.

No fim da entrevista, ficou claro que André Ventura não deseja reformar o regime, mas substituí-lo por uma caricatura de si mesmo. A sua “República de três Salazares” é o espelho distorcido de um país cansado, que já não acredita nem na República nem, lamentavelmente, na Democracia — valores que, bem entendidos, nunca foram incompatíveis com a ideia monárquica —, mas que também esqueceu a serenidade que só uma Monarquia pode oferece.

E é talvez esse o maior drama: Portugal é hoje um reino sem Rei e uma República sem rumo. Ventura, com o seu tom inflamado e o seu olhar justiceiro, não é a solução — é apenas o sintoma. E enquanto a política continuar a produzir fantasmas em vez de estadistas, a nossa velha Pátria continuará à procura de si mesma, perdida entre o eco de um ditador e a sombra de um trono vazio.

A entrevista de António José Seguro: isenção proclamada e a ausência do Rei

José Aníbal Marinho Gomes, 25.10.25

Esta segunda-feira, António José Seguro concedeu uma longa entrevista à jornalista a Clara de Sousa. Foi uma conversa pausada, mais sóbria e menos emotiva do que as de outros candidatos, marcada pela tentativa constante de afirmar uma imagem de equilíbrio e de suprapartidarismo. Seguro quis apresentar-se como um homem acima dos partidos, um candidato de todos os portugueses, e não apenas do Partido Socialista de onde provém.

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Como monárquico, observo estas entrevistas com um distanciamento peculiar. Não voto nas presidenciais, pois considero que a figura de Chefe de Estado, em Portugal, não pode ser plenamente representada por um Presidente eleito, sujeito a campanhas, alianças e cálculos políticos. O verdadeiro Chefe de Estado é o Rei — símbolo da continuidade nacional e garante da unidade. Ainda assim, é sempre útil ver de que modo cada candidato entende o exercício do cargo, o peso da História e a sua relação com os símbolos do País.

A entrevista de António José Seguro revelou um candidato mais articulado do que Henrique Gouveia e Melo e mais ponderado do que Luís Marques Mendes. Mostrou domínio dos temas e serenidade institucional. Porém, do ponto de vista monárquico, há um vazio de fundo que não pode passar despercebido: nem uma única vez foi mencionada a monarquia, e Seguro não se antecipou ao silêncio da entrevistadora para o fazer. Logo no início, insistiu na sua isenção, afirmando que a sua candidatura é suprapartidária e que pretende ser o Presidente de todos os portugueses. A frase soa bem, mas é uma daquelas declarações que, ditas com convicção, escondem uma impossibilidade prática. A isenção plena não se proclama — encarna-se. E só o Rei a encarna verdadeiramente.

Um Presidente, por mais íntegro e bem-intencionado que seja, é produto do sistema eleitoral e dos partidos que o sustentam. Um Rei, pelo contrário, não deve a sua posição a ninguém, e é justamente por isso que pode representar todos. A neutralidade real não depende de votos nem de mandatos. É anterior à política, e por isso mesmo está acima dela. Ao contrário do que sucedeu nas entrevistas de Gouveia e Melo e de Marques Mendes — em que, ainda que apenas no final, foi tocada a questão monárquica —, Seguro deixou o tema completamente de fora. Clara de Sousa não o introduziu, e o candidato não aproveitou a oportunidade para o fazer. Poderia ter dito algo de tão simples quanto:

«Serei Presidente de todos os portugueses, dos monárquicos e dos republicanos.»

Mas não o fez.

Essa ausência é reveladora. Denota uma visão restrita da Chefia de Estado — limitada à função política e administrativa, sem sensibilidade para a dimensão simbólica da Nação. Um candidato verdadeiramente consciente da história portuguesa reconheceria que a monarquia continua a representar, para muitos, o arquétipo da imparcialidade e da continuidade do Estado. Ao omitir completamente esse universo, Seguro confirma-se como produto integral da república: um homem de instituições, mas sem ligação à raiz simbólica do poder.

No plano temático, a entrevista decorreu de modo previsível. Seguro falou sobre imigração, afirmando ser fundamental disciplinar a imigração para que o país cresça economicamente; abordou a aplicação da Constituição, sublinhando que não há portugueses de primeira nem de segunda e que não tenciona ser apenas um notário, prometendo fazer perguntas e exigências. Falou ainda da necessidade de reformas e de criação de riqueza — «não podemos andar a brincar aos governos» — e rematou com uma nota pessoal: «Podia ficar sentado no sofá a gozar a praia da Foz do Arelho ou as minhas vinhas em Penamacor, mas julgo poder dar um contributo ao país. Sinto-me uma pessoa abençoada.»

São declarações de alguém que procura equilíbrio e autoridade. Contudo, falta-lhes elevação. Tudo é dito no registo da gestão e da funcionalidade, sem transcendência. Fala-se da Constituição, mas não da História; da governação, mas não da Pátria. Nenhuma palavra sobre a ideia de Nação, sobre os símbolos que unem o povo para além da política. Um Rei, se falasse, não precisaria de prometer isenção — representá-la-ia naturalmente.

Comparado com outros candidatos, Seguro surge mais sereno e institucional. Gouveia e Melo revelou-se mais emocional e menos preparado; Marques Mendes, embora experiente, preferiu a prudência calculada, o discurso neutro, quase burocrático. Seguro, entre ambos, destaca-se pela coerência e pelo domínio da linguagem institucional. Mas, como todos, permanece prisioneiro da limitação republicana: pode desejar representar todos os portugueses, mas não consegue encarnar a neutralidade que só o Rei possui.

Convém recordar, a este propósito, que a monarquia não é uma recordação pitoresca, nem um capricho sentimental. É uma forma histórica de continuidade. Durante séculos, os Reis de Portugal foram a encarnação da unidade nacional e da estabilidade política. D. João IV restaurou a independência; D. Pedro V simbolizou a modernidade e o dever cívico; D. Carlos manteve o sentido de Estado num tempo de crise. Mesmo no exílio, a Casa Real continuou a representar uma ligação viva entre o passado e o futuro do País.

A república, pelo contrário, substituiu a legitimidade histórica por uma legitimidade eleitoral, sempre efémera e sujeita à erosão dos partidos. O Rei não é eleito, não governa, não precisa de agradar — representa. A sua autoridade não vem de uma maioria momentânea, mas da própria continuidade da Nação. Seguro, que gosta de falar em isenção, poderia ter reconhecido esta diferença simbólica, sem pôr em causa o regime. Bastar-lhe-ia ter admitido que a Chefia de Estado deve ser de todos — inclusive dos monárquicos. Não o fez. E o seu silêncio não é inocente: revela a incapacidade da república em reconhecer a dimensão espiritual e histórica da Nação que pretende representar.

As entrevistas desta campanha têm mostrado, uma vez mais, a fragilidade da concepção republicana do poder. O Presidente é, inevitavelmente, um homem do seu tempo, das suas alianças, dos seus compromissos. A figura do Rei, ao contrário, é a permanência da Pátria no tempo. Representa a continuidade que nenhum sufrágio pode garantir. Seguro fala de neutralidade, mas a sua neutralidade é prometida, não vivida. A do Rei é natural e silenciosa, porque não precisa de se justificar. É a neutralidade que vem da linhagem, da tradição e do dever. É, em suma, o contrário da política.

A entrevista de António José Seguro foi sólida, ponderada e tecnicamente competente. Mas, vista de uma perspectiva monárquica, ficou aquém da verdadeira ideia de Chefia de Estado. Faltou-lhe verticalidade, consciência histórica e sentido simbólico. Falou-se de Portugal, mas não da Nação; falou-se de governo, mas não de realeza. Seguro esteve bem enquanto candidato — mas o trono da imparcialidade continua vazio.

Apresentação da minha Candidatura à Assembleia Municipal de Ponte de Lima

José Aníbal Marinho Gomes, 10.10.25

Sou natural de Ponte de Lima e residente na freguesia de Arcozelo. Nasci em 1960, sou casado e pai de três filhos. Licenciei-me em Ciência Política e Relações Internacionais e possuo também o Curso Superior de Ciências Administrativas.

Exerço actualmente funções na área de Gestão de Reclamações e Relações Internacionais na empresa Painhas S.A. Ao longo da minha carreira, acumulei experiência significativa em coordenação administrativa, gestão de equipas, formação e execução de projectos em diversos sectores. Desempenhei funções como Coordenador-Geral do Núcleo Administrativo e de Pessoal na Switch On – Academia de Formação, onde também lecionei em cursos de aprendizagem de nível IV, de Dupla Certificação e equivalência ao 12.º ano. Fui igualmente Director-Geral na Estação Shopping Imobiliária (actual PA Parques), sendo ambas as empresas pertencentes ao Grupo Painhas. Em todas estas funções, mantive sempre o enfoque na eficiência, no planeamento estratégico e na promoção da qualidade dos serviços prestados

Para além da actividade profissional, participei activamente em organizações cívicas e culturais. Fui Vice-Presidente da Comissão Executiva da Direcção Nacional na Causa Real e Presidente da Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, assumindo responsabilidades de liderança e coordenação em projectos de carácter associativo e cultural.

Tenho uma ligação profunda à cultura e história do nosso concelho, participando activamente em associações culturais e cívicas. Entre outras funções, sou Secretário da Direcção da Associação de Escritores, Jornalistas e Produtores Culturais de Ponte de Lima e membro fundador do Instituto Limiano-Museu dos Terceiros, sou Presidente da Direcção da Real Associação de Viana do Castelo e fui também membro fundador da Causa Real, onde desempenhei funções de Vice-Presidente da Direcção Nacional até Maio de 2025.

Paralelamente, dedico-me à investigação académica e cultural nas áreas da história e da genealogia, com várias publicações e colaborações especializadas. Publico igualmente artigos de opinião a nível nacional no portal SAPO. Sou também o autor da iniciativa que deu origem ao Prémio Gonçalo Ribeiro Telles de Arquitectura e Paisagem, distinguindo projectos de valorização da paisagem, do ordenamento do território e da identidade cultural. Integro ainda diversas instituições ligadas à história e genealogia em Portugal e no Brasil.

Desde cedo defendi uma visão de desenvolvimento sustentado para Ponte de Lima, valorizando a harmonia entre o espaço urbano e o património natural e agrícola. Já em 1985, fui eleito para a Assembleia Municipal como independente nas listas do Partido Socialista, sendo então militante do Partido Popular Monárquico, numa candidatura que integrava também um grupo de jovens ecologistas. O PS concedeu total autonomia política a esse grupo, que apresentou um programa próprio, intitulado “O Homem no Centro da Mudança”, assente numa visão inovadora para o concelho. Entre as propostas desse programa destacavam-se a criação de uma Reserva Ecológica na Lagoa de Bertiandos, a preservação das quintas e conjuntos rurais no espaço urbano e a implementação das hortas sociais — hoje conhecidas como hortas urbanas —, que visavam promover a sustentabilidade, a agricultura de proximidade e o convívio intergeracional. Contudo, essa proposta visionária não foi então acolhida nem implementada pelos responsáveis municipais da época, que não souberam reconhecer o seu valor social e ambiental. Ironia do destino, vinte e quatro anos depois, foi precisamente o partido que governa o Município desde 1976 — há já quarenta e nove anos — a criar as hortas urbanas, confirmando a relevância e a actualidade de uma ideia que, décadas antes, tinha sido injustamente desvalorizada.

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Aceitei o convite do PSD para integrar a lista à Assembleia Municipal na qualidade de cidadão independente por acreditar nas pessoas que a compõem e na sua capacidade de trabalhar em prol de Ponte de Lima, preservando a minha liberdade de pensamento.

Tenho orgulho em partilhar este projecto com uma equipa plural, formada por cidadãos de diferentes gerações e percursos profissionais, unidos por um mesmo propósito: servir o concelho com dedicação, competência e sentido de responsabilidade. São pessoas profundamente ligadas às suas freguesias, conhecedoras da realidade limiana e movidas por um genuíno espírito de serviço público. É essa diversidade de experiências e de visões que enriquece o nosso trabalho colectivo e reforça a confiança de que juntos poderemos contribuir para um futuro melhor para Ponte de Lima.

As minhas prioridades centram-se na defesa do ambiente, valorização da cultura e do património, promoção da sustentabilidade e melhoria da qualidade de vida em Ponte de Lima. Comprometo-me a ouvir os cidadãos, a trabalhar com dedicação e a garantir que as decisões da Assembleia Municipal refletem os interesses da comunidade, promovendo um concelho mais sustentável, culturalmente rico e inclusivo.

O meu compromisso: trazer experiência, conhecimento e empenho pessoal para transformar ideias em políticas concretas que beneficiem todos os limianos.

As minhas propostas podem ser lidas aqui: https://risco-continuo.blogs.sapo.pt/ponte-de-lima-sustentabilidade-e-625701

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O 5 de Outubro que a República Silenciou!

José Aníbal Marinho Gomes, 07.10.25

Nas suas declarações de 5 de Outubro, António José Seguro exaltou a República como “um compromisso com uma vida digna para todos”. Mas esqueceu que o verdadeiro 5 de Outubro marca a fundação do Reino de Portugal.

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“5 de Outubro de 1143 — o verdadeiro nascimento de Portugal.”

António José Seguro afirmou neste 5 de Outubro que “a República é um compromisso com uma vida digna para todos os portugueses”. Uma frase que soa nobre, mas que rapidamente se desfaz quando confrontada com a realidade que o próprio descreve: urgências hospitalares encerradas, habitação inacessível, salários insuficientes, pobreza crescente e jovens forçados a emigrar. Seguro utiliza a efeméride republicana para reforçar um discurso moralista e retórico, sem nunca apresentar soluções concretas para estes problemas, transformando as suas palavras em mera propaganda de ocasião.

Mais grave ainda é o esquecimento histórico que acompanha estas declarações. O 5 de Outubro não é apenas a data de 1910; é também, e muito mais profundamente, o 5 de Outubro de 1143, dia em que Portugal nasceu como Reino independente, com D. Afonso Henriques reconhecido como Rei no Tratado de Zamora. Essa é a verdadeira fundação da Pátria, o acto que nos deu nome, fronteiras e destino. Ignorar esta data é esquecer as nossas raízes, e celebrar apenas a implantação da República equivale a glorificar a ruptura e a instabilidade.

As palavras de Seguro, embora bem-intencionadas, confirmam involuntariamente o fracasso do próprio regime que defende. Passados mais de cem anos, os problemas que ele denuncia continuam sem solução estrutural. A República prometeu dignidade, justiça e igualdade, mas a realidade demonstra um país marcado por desigualdades, decisões de curto prazo, ciclos eleitorais efémeros e uma gestão frequentemente ineficaz. O discurso de Seguro evidencia a distância entre as promessas do regime e os resultados práticos que dele decorrem.

Enquanto isso, o verdadeiro 5 de Outubro — o de 1143 — permanece silencioso. Foi nesse dia que se consolidou a soberania portuguesa e se iniciou uma longa tradição de estabilidade, serviço à Pátria e continuidade institucional. A Monarquia, que a República derrubou, ofereceu durante séculos segurança e moderação, mantendo a unidade do país mesmo perante desafios internos e externos. A República, ao contrário, substituiu essa continuidade por rupturas, crises e instabilidade. Celebrar apenas 1910 é esquecer a história, e um povo que apaga as suas raízes perde o rumo.

Fala-se de “compromisso com a vida digna”, mas como pode haver dignidade num país que renega o seu próprio nascimento? Que celebra a queda de um Rei legítimo e ignora o acto fundador do Reino? António José Seguro apela à esperança na República, mas essa esperança não se sustenta apenas com palavras; exige responsabilidade, visão e resultados — qualidades que o regime republicano historicamente tem falhado em assegurar.

O 5 de Outubro de 1143 foi o princípio de tudo: a independência, a identidade e a continuidade portuguesa. O 5 de Outubro de 1910 foi apenas o início de uma era de incertezas, de crises e de desorientação moral. Se queremos realmente dignidade, justiça e estabilidade, Portugal precisa de reencontrar-se com o seu Reino — com aquilo que o fez nascer, durar e resistir durante séculos. Celebrar apenas a República é celebrar a divisão; recordar a fundação do Reino é celebrar a Pátria. E é essa memória que, há séculos, a República tem silenciado.

 

 

Ponte de Lima: Sustentabilidade e Desenvolvimento com Identidade

José Aníbal Marinho Gomes, 01.10.25

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À medida que Portugal se confronta com fenómenos estruturais como o envelhecimento da população, a desertificação do interior e a crise na habitação, torna-se urgente refletir sobre a forma como estes temas se materializam em contextos locais. No horizonte das próximas eleições autárquicas, concelhos como Ponte de Lima enfrentam o duplo desafio de responder a dinâmicas nacionais e, simultaneamente, afirmar uma estratégia territorial própria, assente na coesão social, sustentabilidade ambiental, diversificação económica e atractividade.

Este programa nasce não apenas de uma leitura crítica da realidade, mas também de um percurso de reflexão e de convívio com ideias estruturantes de grandes pensadores da nossa paisagem e território. Entre eles, destaco o Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, um homem visionário, cuja obra e pensamento continuam a iluminar os caminhos da política ambiental e da ordenação do território em Portugal. Tive o privilégio de com ele conviver e aprender, e muitas das propostas que aqui apresento inspiram-se nesse legado de rigor, sensibilidade e inovação.

O futuro de Ponte de Lima não se constrói apenas com gestão corrente, mas com visão estratégica, coragem política e memória cultural. Ao mesmo tempo que olhamos para os desafios globais — das alterações climáticas à transição energética — devemos valorizar aquilo que nos distingue: o património histórico, a paisagem rural, a autenticidade das nossas tradições e a força das nossas comunidades.

Este meu contributo é, por isso, uma Agenda Territorial com Identidade: firme no diagnóstico, ambiciosa nas soluções e enraizada numa ideia simples mas transformadora — Ponte de Lima pode ser um território de futuro se souber conjugar tradição e inovação, natureza e desenvolvimento, proximidade e abertura ao mundo.

 

  1. A Demografia em Declínio: um desafio silencioso

O concelho de Ponte de Lima, à semelhança de muitas zonas, tem vindo a registar um decréscimo populacional, particularmente acentuado nas freguesias rurais. A baixa taxa de natalidade, a emigração de jovens em idade activa e o envelhecimento acentuado da população colocam em causa a sustentabilidade social e económica do território.

Este fenómeno, longe de ser apenas estatístico, tem implicações concretas: encerramento de escolas, dificuldades na manutenção de serviços públicos, perda de massa crítica para o tecido produtivo e fragilização da vida comunitária. Uma resposta eficaz exige uma visão integrada de repovoamento, envolvendo incentivos à fixação de jovens casais, políticas de natalidade e apoio à mobilidade e empregabilidade jovem.

Medidas propostas:

  • Programa municipal de incentivos fiscais e apoio financeiro à fixação de jovens casais (redução temporária de IMI, subsídios à renda reabilitadas, apoio à primeira habitação);
  • Plano de integração de recém-chegados e regresso de emigrantes (bolsas de instalação, apoio à criação de empresas, divulgação internacional do concelho);
  • Parcerias com empresas locais e IPSS para criação de estágios remunerados, trainees e programas de inserção laboral jovens;
  • Criação de um apoio inicial ao nascimento, traduzido em facilidades de acesso a serviços municipais para as famílias nos primeiros anos (descontos em creches e actividades de infância, facilidades administrativas e pacote de acolhimento municipal), de modo a reforçar a decisão de constituir família no concelho.

 

  1. Habitação e Acessibilidade: o novo bloqueio ao interior

Enquanto os grandes centros urbanos enfrentam uma crise habitacional marcada por preços elevados e oferta limitada, territórios como Ponte de Lima lidam com uma realidade distinta, mas igualmente complexa: a existência de património habitacional devoluto ou degradado, associado a baixos níveis de atractividade para novos residentes.

A resposta local passa por programas de reabilitação urbana com função social, incentivos à recuperação de casas devolutas, articulação com o mercado de arrendamento acessível e captação de novos habitantes, nomeadamente através do teletrabalho e da atração de nómadas digitais.

Implementação

  • Criação de um Fundo Municipal de Reabilitação Urbana com linhas de crédito próprias e subsídios para reabilitação com contrapartidas sociais (rendas acessíveis);
  • Inventário público e catálogo das casas devolutas com incentivos para recuperação por cooperativas de habitação, micro-empresas de construção local e jovens proprietários;
  • Programas de co-housing e habitação intergeracional, parcerias com associações e IPSS para uso social de edifícios recuperados;
  • Promoção de teletrabalho: hubs digitais e espaços de cowork no centro histórico e nas freguesias;
  • Estabelecimento de um registo municipal de imóveis desocupados, em articulação com as freguesias, e criação de um “mapa de oportunidades habitacionais” que ligue proprietários, potenciais reabilitadores e candidatos a arrendamento jovem.

 

  1. Economia Local: Do Vinho à Sidra — Diversificação com Identidade

A economia de Ponte de Lima continua fortemente ancorada em sectores como a agricultura, a pequena indústria e o turismo. O vinho verde, o artesanato e o património cultural são activos que conferem identidade ao território. No entanto, há desafios sérios ao nível da produtividade, inovação e diversificação económica.

O Sector do Vinho Verde: Pilar da Identidade e da Economia Local

Ponte de Lima é um dos principais bastiões da Região Demarcada dos Vinhos Verdes — a maior região vitivinícola portuguesa em área. Com uma longa tradição na produção de vinho, o concelho destaca-se pela excelência das suas castas brancas, como o Loureiro, e pela combinação entre práticas ancestrais e inovação enológica.

Segundo dados da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV):

  • Ponte de Lima conta com centenas de pequenos e médios produtores, muitos em contexto familiar;
  • O concelho beneficia de excelentes condições edafoclimáticas: solos graníticos, clima atlântico suave e boa exposição solar;
  • A produção e exportação de vinho verde têm vindo a crescer, sobretudo nos mercados da Europa Central e dos EUA;
  • Iniciativas como a “Festa do Vinho Verde de Ponte de Lima”, que conta já com a 33.ª edição ou a “Rota dos Vinhos Verdes” e o enoturismo rural contribuem para valorizar o produto e dinamizar o turismo local.

Contudo, o sector enfrenta desafios: envelhecimento da mão de obra, fragmentação da propriedade e impactos das alterações climáticas. As autarquias podem ter um papel vital no apoio à formação, à inovação produtiva e à promoção externa do produto como marca territorial.

Neste contexto de valorização dos recursos endógenos e de reforço da identidade territorial, torna-se evidente que o caminho da diversificação económica pode, e deve, assentar na autenticidade local.

Medidas propostas

  • Programas de formação contínua em enologia e viticultura (em parceria com a ESA e IPVC) e incentivos à profissionalização dos jovens agricultores;
  • Linhas de apoio técnico e financeiro para consolidação de pequenas explorações (cooperação, associações de produtores, estruturas de comercialização partilhada);
  • Estratégias de marketing territorial: participação em feiras internacionais, desenvolvimento da “Rota dos Vinhos Verdes” com experiências enoturísticas integradas;
  • Acesso a consultoria para adaptação climática: sistemas de rega eficientes, árvores de sombra, e métodos de produção resilientes.

O Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde (CIPVV), localizado em Ponte de Lima, é uma infraestrutura estratégica que valoriza e projecta o sector vitivinícola local. Instalado na Casa Torreada dos Barbosa Aranha, em plena vila, o CIPVV é hoje um espaço de referência que combina investigação, cultura e turismo, promovendo o vinho verde como marca distintiva do território. A sua programação inclui exposições permanentes e temporárias, provas comentadas, workshops, concertos temáticos e uma forte ligação à Rota dos Vinhos Verdes, funcionando como ponto de encontro entre produtores, investigadores e visitantes.

Medidas propostas:

  • Reforçar a ligação entre o CIPVV e os produtores locais, através de itinerários enoturísticos integrados;
  • Desenvolver programas educativos para escolas e jovens ligados à viticultura;
  • Criar experiências sensoriais e gastronómicas inovadoras (visitas noturnas, harmonizações, jantares vínicos);
  • Ampliar parcerias internacionais no âmbito de redes culturais e enoturísticas, como o ITER VITIS, Rota Cultural do Vinho na Europa, reconhecida pelo Conselho da Europa, com o objectivo de promover e preservar o património cultural, histórico e paisagístico associado à vinha e ao vinho.

Com este reforço, o CIPVV pode consolidar-se não apenas como espaço de divulgação, mas também como motor de inovação, formação e dinamização económica, prolongando estadias turísticas e reforçando a atratividade de Ponte de Lima como território de excelência do vinho verde.

Se o vinho verde constitui um dos pilares históricos e económicos de Ponte de Lima, a sidra representa uma nova expressão desse mesmo património agrícola e cultural, agora reinterpretado com inovação e visão contemporânea. Ambas as produções — distintas, mas complementares — refletem a capacidade do concelho em aliar tradição, qualidade e modernidade, projetando-se como elementos estratégicos para o desenvolvimento sustentável, o enoturismo e a afirmação do território no panorama nacional e internacional.

Neste âmbito, destaca-se com mérito o surgimento da marca NUA Hybrid Cider, uma sidra de identidade contemporânea, produzida em Ponte de Lima, que utiliza as maçãs das quintas e quintais da região para produzir sidras e devolve o benefício da venda aos proprietários, para estes cuidarem e tratarem das macieiras, aliando práticas artesanais à experimentação de novos sabores e processos. Esta iniciativa não apenas recupera uma tradição secular — a da produção local de sidra — como projecta o concelho no mapa da inovação agroalimentar, abrindo portas a um novo segmento de mercado com potencial turístico, gastronómico e económico.

A presença da NUA demonstra que é possível valorizar os frutos da terra com sofisticação e criatividade. Para apoiar e expandir este caminho, propõem-se:

  • Integração da sidra na Rota dos Sabores Limianos, juntamente com o vinho verde, a doçaria tradicional e os produtos hortícolas;
  • Promoção de eventos temáticos como “Verão com Sidra” e/ou “Outono com Sidra”, associando gastronomia, música e tradição;
  • Colaboração com escolas profissionais e universidades na investigação de fermentações naturais e embalagens sustentáveis.

A sidra, tal como o vinho, pode ser uma poderosa embaixadora de Ponte de Lima, atraindo visitantes atentos à autenticidade e à qualidade, e revitalizando práticas agrícolas adaptadas à nova ruralidade.

Medidas Propostas

  • Programa de apoio à produção de maçã de variedades locais e antigas, com incentivos à produção biológica e regenerativa;
  • Integração da sidra na oferta turística e gastronómica do concelho: rotas, harmonizações e presença em eventos;
  • Apoio a microempresas e cooperativas de produtores de sidra (microcrédito, micro-investimento para linhas de engarrafamento e rotulagem);
  • Parcerias com a ESA para investigação sobre fermentações, técnicas de conservação e embalagens sustentáveis.

Sidrama – Uma pausa que se sente em Ponte de Lima

Este ano, a vila de Ponte de Lima viu-se privada de um dos seus eventos mais carismáticos: a Sidrama – Festival de Sidras e Bebidas de Pomar. A ausência desta celebração deixa um vazio sentido por produtores, apreciadores e visitantes, habituados a ver a localidade transformada num ponto de encontro internacional dedicado a esta bebida milenar.

Mais do que um simples certame, a Sidrama tem contribuído para colocar Ponte de Lima no mapa mundial das regiões produtoras de sidra, fortalecendo laços com cidades, vilas e territórios de tradição sidreira. O consumo desta bebida tem registado um crescimento contínuo e, no contexto nacional, Ponte de Lima apresenta-se como um território com enorme margem de afirmação neste segmento, capaz de aliar tradição, turismo e inovação.

A cada edição, o festival tem reunido sidreiros e produtores de diversos pontos do mundo – da Itália à Finlândia, da Suécia à Áustria, passando pela Letónia, Catalunha, Astúrias, Cantábria e Galiza – acolhendo ainda, como região convidada, o País Basco. Estes encontros permitem não só a troca de experiências e saberes, como também o fortalecimento de uma rede internacional que preserva e promove a cultura sidreira.

A Avenida dos Plátanos, apontada como o local ideal para acolher o festival, oferece um cenário ímpar, ladeado por frondosas árvores que conferem frescura e beleza ao ambiente. É neste espaço privilegiado que o certame encontra o enquadramento perfeito para receber workshops, harmonizações ao vivo, colóquios e provas de degustação, convidando o público a mergulhar no universo das sidras e das bebidas de pomar, num ambiente de convívio, descoberta e partilha.

Medidas propostas

  • Plano de retoma do festival que inclua produtores locais, associações culturais e parceiros internacionais;
  • Financiamento seed através de orçamento municipal, patrocínios privados e candidaturas a fundos culturais e turísticos;
  • Programa de intercâmbio internacional com regiões convidadas (Astúrias, Galiza, País Basco, etc.) e calendário de workshops, provas e colóquios.

Local: reabilitar a Avenida dos Plátanos como espaço central, assegurando logística e acessibilidade.

 

  1. Hortas Urbanas: da proposta à concretização

Em Novembro de 2009, o Município criou as primeiras hortas urbanas, concretizando uma proposta apresentada em 1985, ou seja, vinte e quatro anos depois de uma iniciativa que fazia parte de um ambicioso e inovador programa eleitoral autárquico, apresentado à Assembleia Municipal de Ponte de Lima e denominado “O Homem no Centro da Mudança”. Este programa integrava jovens ecologistas independentes e elementos do PPM (no qual eu me incluia), que, nessa eleição, integraram a lista do Partido Socialista como independentes, tendo o PS concedido total autonomia ao grupo dos monárquicos para a apresentação de um programa eleitoral próprio. A elaboração deste programa contou com o apoio e os ensinamentos do Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.

Quando o programa foi apresentado, em 1985, algumas pessoas consideraram estas ideias arrojadas e pouco convencionais para a época.

Hoje, estas hortas são instrumentos de:

  • Segurança alimentar;
  • Educação ambiental;
  • Inclusão social.

Defende-se o seu alargamento com:

  • Hortas escolares;
  • Hortas comunitárias geridas por associações;
  • Integração em zonas urbanas e periurbanas.

Implementação

  • Identificação e cedência de novos terrenos municipais para hortas escolares e comunitárias;
  • Estrutura de gestão participada com associações locais e protocolos de manutenção e formação;
  • Programa municipal de compostagem e gestão de resíduos orgânicos ligado às hortas;
  • Banco de sementes locais e formações práticas para escolas e voluntariado sénior.

 

  1. Transportes Públicos: Um Desafio de Coesão Territorial

Apesar da sua importância histórica e cultural, Ponte de Lima apresenta limitações significativas na oferta de transportes públicos, sobretudo nas freguesias rurais e nos horários fora do período escolar.

  • O concelho não possui estação de comboio (a mais próxima situa-se em Viana do Castelo);
  • A oferta rodoviária é assegurada por operadores como a Transdev, Auto-viação Cura, Courense, Auto-viação do Minho, etc., mas com frequências reduzidas;
  • As ligações intermunicipais são escassas, dificultando a mobilidade regional;
  • O transporte escolar é estruturado, mas há carências para a população sénior e trabalhadores sem viatura própria;
  • A melhoria da mobilidade interna e externa é fundamental para garantir acesso à saúde, educação, emprego e cultura.

Implementação

  • Elaboração do Plano Municipal de Mobilidade Sustentável (PMMS) com diagnóstico, prioridades e metas de curto, médio e longo prazo;
  • Projecto-piloto de transporte a pedido em três freguesias com menor oferta, com plataforma digital de reservas e parcerias com operadores privados;
  • Integração do transporte escolar com horários laborais e serviços de saúde, e criação de transporte comunitário adaptado para seniores; 
  • Parcerias intermunicipais para redes de transporte integradas; 
  • Desenvolvimento gradual de redes de ciclovias e caminhos pedonais para deslocações locais;
  • Instalação progressiva de pontos de carregamento eléctrico em locais estratégicos (parques de estacionamento, equipamentos públicos e entradas da vila), articulada com a expansão da rede ciclável e com medidas de incentivo à mobilidade eléctrica.

 

  1. Turismo: valorizar o Caminho de Santiago e muito mais

Ponte de Lima é um dos pontos mais emblemáticos do Caminho Português de Santiago. Aumentar a qualidade da oferta passa por:

  • Criação de albergues de peregrinos com serviços de apoio ao peregrino;
  • Valorização das variantes históricas do Caminho;
  • Desenvolvimento de rotas pedestres e ciclovias junto ao rio Lima;
  • Recuperação das já existentes.

No âmbito do Caminho de Santiago, propomos valorizar também a gastronomia e os produtos regionais, como o vinho verde e a sidra artesanal, apresentados não apenas como bebidas, mas como símbolos vivos da identidade agrícola e cultural de Ponte de Lima. Através de menus do peregrino em restaurantes locais, pequenas degustações e a criação de rotas temáticas complementares — como a “Rota do Vinho e da Sidra” — será possível proporcionar aos caminhantes e visitantes uma experiência autêntica, que alia hospitalidade, tradição e sustentabilidade, reforçando o carácter único da passagem por Ponte de Lima.

Neste contexto, destaca-se ainda o papel do Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde (CIPVV) como ponto central do enoturismo em Ponte de Lima. Para além das provas e exposições que oferece, o CIPVV deve ser integrado como parceiro estratégico na valorização do Caminho de Santiago, promovendo experiências autênticas que combinem vinho verde, gastronomia local e hospitalidade limiana, reforçando a atractividade e a singularidade da passagem por Ponte de Lima.

Diversificação da Oferta Turística

O turismo em Ponte de Lima não pode depender apenas dos Caminhos de Santiago. É fundamental potenciar:

  • Turismo de Natureza e Aventura: criação de trilhos de montanha, percursos interpretativos pela paisagem protegida das Lagoas de Bertiandos, actividades de desporto de natureza (canoagem, BTT, trail running);
  • Turismo Cultural e Patrimonial: valorização do centro histórico, dinamização de visitas encenadas, recriações históricas e roteiros sobre a história de Ponte de Lima (período romano, idade média, idade moderna e idade contemporânea);
  • Turismo Gastronómico e Vinícola: promoção do vinho verde, criação de festivais gastronómicos temáticos (lampreia, arroz de sarrabulho, sidra artesanal), visitas a quintas e adegas;
  • Turismo de Bem-Estar: promoção do turismo rural e de alojamentos em espaço de natureza, oferta de programas de relaxamento, saúde e bem-estar associados à paisagem do Lima;
  • Turismo Desportivo e de Eventos: reforço de competições e eventos de referência (canoagem, hipismo, desporto náutico), atração de estágios desportivos nacionais e internacionais.

Implementação

  • Sinalética clara, valência para variantes históricas do caminho e rotas temáticas. ligadas ao vinho e à sidra e á biodiversidade;
  • Programas de formação para guias locais, alojamento e restauração sobre acolhimento e qualidade;
  • Criação da marca “Ponte de Lima Autêntico” em turismo rural e integração de produtos locais em pacotes turísticos;
  • Plataforma digital de promoção turística com agenda cultural, rotas interativas e reservas online de alojamento e experiências.

Turismo Religioso: Valorizar a espiritualidade, o património e as tradições de Ponte de Lima

Ponte de Lima possui um património religioso riquíssimo, visível nas suas igrejas, capelas, festividades, tradições populares e, naturalmente, no seu lugar estratégico no Caminho Português de Santiago. Este potencial continua subaproveitado como motor de desenvolvimento cultural, social e económico.

Assumimos o turismo religioso como oportunidade para valorizar o território, reforçar a identidade limiana e diversificar a oferta turística com base no que é nosso: fé, história, tradição e hospitalidade.

Medidas propostas:

  • Criar a Rota da Fé e Tradição, ligando igrejas, capelas, santuários e percursos de peregrinação em todo o concelho;
  • Melhorar o acolhimento ao peregrino, com melhores condições no albergue, pontos de apoio nas freguesias e envolvimento das comunidades locais;
  • Valorizar o património religioso através da conservação, da sinalética interpretativa e de visitas guiadas com enfoque espiritual e cultural;
  • Promover eventos e experiências espirituais ligados à identidade local: romarias, caminhadas devocionais, retiros, concertos de música sacra;
  • Integrar o turismo religioso na estratégia global de desenvolvimento turístico, garantindo coesão territorial, sustentabilidade e dinamização económica, sobretudo nas freguesias rurais.

Com esta aposta, Ponte de Lima poderá afirmar-se como destino de referência nacional e internacional em turismo religioso, servindo a sua comunidade e acolhendo quem nos visita com autenticidade e sentido de missão.

 

  1. Sustentabilidade Ambiental e Gestão do Território

Ponte de Lima possui um património natural rico, com destaque para o rio Lima, áreas florestais e zonas agrícolas produtivas. No entanto, o concelho enfrenta riscos ambientais como os incêndios florestais, a proliferação de monoculturas de eucalipto e a pressão sobre os recursos hídricos.

É urgente implementar um Plano Verde Municipal que contemple:

  • Reflorestação com espécies autóctones, corredores ecológicos e recuperação de margens ripícolas;
  • Promoção da agricultura biológica e regenerativa;
  • Gestão responsável dos solos e das linhas de água;
  • Incentivos à produção de energias renováveis (solar e hídrica de pequena escala);
  • Educação ambiental junto da comunidade escolar e rural;
  • Mobilidade sustentável e descarbonização progressiva dos transportes;
  • Economia circular: compostagem comunitária, redução de plásticos e valorização de resíduos;
  • Recolha selectiva de resíduos em sistema porta-a-porta.

Implementação

  • Programas de substituição gradual de eucalipto por espécies nativas, apoio a pequenos produtores florestais e incentivos à gestão activa dos espaços florestais;
  • Incentivos à instalação de painéis solares em edifícios municipais e privados, e apoio a comunidades de energia;
  • Medidas de gestão da água: campanhas de sensibilização, rega eficiente e fiscalização de captações;
  • Criação de um Conselho Local para a Sustentabilidade, envolvendo cidadãos, associações e agricultores;
  • Integração do turismo sustentável no Plano Verde, promovendo alojamentos e experiências certificadas como ambientalmente responsáveis;
  • Implementação progressiva de um sistema de recolha selectiva porta-a-porta, iniciando por freguesias piloto com maior densidade populacional e, posteriormente, estendendo-o a todas as áreas do concelho. Este sistema permitirá aos cidadãos separar correctamente os resíduos recicláveis, promovendo uma gestão mais eficiente e ambientalmente responsável. A iniciativa será acompanhada de campanhas de sensibilização, formação e incentivo à participação, incluindo descontos na taxa de resíduos para famílias que cumpram rigorosamente a separação. A recolha será organizada de forma a optimizar percursos e frequência, garantindo praticidade para os munícipes, com acompanhamento e avaliação contínua da sua eficácia, em estreita colaboração com juntas de freguesia, associações locais e escolas;
  • Iniciar um processo participativo de revisão e actualização do Plano Director Municipal (PDM), com objectivos claros de promoção de habitação acessível, ordenamento que favoreça a reabilitação urbana, mobilidade sustentável e protecção dos corredores ecológicos, envolvendo as juntas de freguesia e a sociedade civil.

        7.1. Saneamento Básico: um Desafio de Coesão e Dignidade Territorial

A generalização do saneamento em Ponte de Lima é uma questão de equidade territorial, dignidade das populações e compromisso ambiental. Nenhuma freguesia deve ficar para trás nesta transformação estrutural, indispensável a um futuro mais limpo, saudável e coeso.

Apesar dos avanços alcançados nas últimas décadas, a rede de saneamento em Ponte de Lima continua longe de cobrir a totalidade do concelho, persistindo carências significativas em várias freguesias rurais e dispersas. Estima-se que menos de 70% da população esteja actualmente servida por rede pública de drenagem e tratamento de águas residuais, o que representa um défice estrutural com impacto directo na qualidade ambiental, na saúde pública e na atractividade do território. Em muitas freguesias, os sistemas existentes são incompletos ou apresentam limitações técnicas, obrigando ainda à utilização de fossas sépticas individuais, frequentemente sem manutenção adequada. Este cenário é incompatível com uma estratégia moderna de sustentabilidade ambiental e com o estatuto que Ponte de Lima pretende afirmar como “Capital Verde do Minho”. Para concretizar este desígnio, é essencial definir uma estratégia municipal clara, faseada e financeiramente sustentável, orientada para a expansão progressiva da rede e para a implementação de soluções adequadas às especificidades de cada freguesia.Medidas Propostas:

  • É, pois, imperioso definir um Plano Municipal de Expansão e Requalificação do Saneamento, com metas calendarizadas e financiamento assegurado, que garanta a cobertura integral do concelho no médio prazo.
  • Expansão faseada da rede de saneamento, com prioridade às freguesias rurais e zonas habitacionais dispersas, em articulação com a Águas do Alto Minho e a CIM Alto Minho;
  • Criação de soluções descentralizadas para locais de baixa densidade populacional, através de mini-ETARs, sistemas compactos de tratamento e tecnologias de fitodepuração;
  • Inventário e diagnóstico actualizado da cobertura existente, identificando lacunas em cada freguesia e definindo prioridades de intervenção;
  • Apoio técnico e financeiro aos particulares para a desactivação de fossas e ligação à rede pública;
  • Campanhas de sensibilização sobre a importância do saneamento e da manutenção das fossas existentes, enquanto não chega a rede;
  • Candidaturas a fundos europeus e nacionais (PRR, Fundo Ambiental, POSEUR) para financiar projectos de infra-estruturas verdes e de saneamento rural sustentável.

         7.2. Abastecimento de Água Potável: universalizar a dignidade do acesso

Garantir o acesso universal à água potável ao domicílio é um imperativo de dignidade humana, de saúde pública e de coesão territorial.

De acordo com dados da Câmara Municipal, o sistema público de abastecimento de água de Ponte de Lima serve actualmente cerca de 95 % da população, através de onze zonas de abastecimento e de uma rede com mais de novecentos quilómetros de extensão. Todavia, essa cobertura, embora elevada, não é ainda universal. Persistem freguesias e lugares onde o acesso domiciliário à água potável é inexistente ou irregular, especialmente nas zonas mais altas e dispersas do território. Casos como Serdedelo, onde ocorreram cortes prolongados no abastecimento, ou as zonas altas de Refóios do Lima — Vacariça, Lapa, S. Mamede e Bemposta —, que só recentemente foram ligadas à rede, demonstram que há ainda trabalho a fazer. Também Beiral do Lima e Estorãos mantêm sistemas autónomos de abastecimento, reflexo de uma cobertura fragmentada que precisa de consolidação. Garantir que todas as freguesias dispõem de água potável segura e contínua é, pois, uma prioridade de dignidade e coesão territorial.

 

  1. Envelhecimento e Cuidados Sociais

O envelhecimento da população em Ponte de Lima é uma realidade transversal. As freguesias rurais, em particular, enfrentam isolamento, falta de resposta social e dificuldades de acesso a cuidados básicos.

Propostas

  • Reforçar a rede de apoio domiciliário e os centros de dia;
  • Parcerias com IPSS e associações locais para serviços de proximidade;
  • Transporte adaptado para mobilidade sénior, apropriado para consultas, compras e actividades comunitárias.
  • Criação de pequenas unidades residenciais sénior em ambiente familiar;
  • Introdução de soluções tecnológicas de tele-assistência e segurança no domicílio;
  • Promoção de programas de voluntariado intergeracional.

Implementação

  • Reforço da rede de apoio domiciliário e centros de dia; criação de unidades móveis de cuidados de saúde para freguesias isoladas;
  • Programa de envelhecimento activo: actividades culturais, desporto sénior e formação digital;
  • Formação e apoio a cuidadores familiares; protocolos com IPSS para ampliar oferta de serviços;
  • Estímulo à participação dos seniores em hortas comunitárias, oficinas tradicionais e espaços associativos;
  • Criação de gabinetes móveis de apoio social para freguesias mais afastadas.

 

  1. Educação, Juventude e Retenção de Talento

A juventude representa o futuro do concelho, mas a sua fixação continua a ser um desafio. A aposta na qualificação, empreendedorismo e ligação à terra são fundamentais.

Propostas

  • Bolsas de estudo municipais e estágios em empresas locais com contrapartidas de retorno ao território;
  • Criação de espaços de cowork e incubadoras de ideias para jovens empreendedores (apoio técnico e financeiro);
  • Programas de retorno de emigrantes qualificados e captação de jovens talentos externos, com incentivos à instalação e integração profissional;
  • Ligações escola-comunidade-empresa para fomentar a empregabilidade jovem;
  • Reforço do ensino técnico-profissional, ligado a sectores estratégicos do concelho;
  • Apoiar o ensino superior à distância e promover parcerias com universidades e politécnicos para a oferta de cursos e formações descentralizadas em Ponte de Lima, alinhadas com os sectores estratégicos do concelho;
  • Programas de habitação jovem acessível, através da reabilitação de casas devolutas;
  • Estímulo à literacia digital, científica e cultural, com actividades em programação, ciência, artes e desporto

Implementação

  • Parcerias escola-empresa para curricularização de estágios e formação profissional dual;
  • Protocolos com universidades e institutos politécnicos para ensino superior descentralizado;
  • Apoios municipais para arrendamento jovem e projectos de habitação partilhada;
  • Criação de um Fundo Jovem para apoiar iniciativas culturais, tecnológicas e sociais lideradas por jovens;
  • Programas de voluntariado e mobilidade internacional com mecanismos de reintegração no concelho
  • Criação de um Conselho Municipal da Juventude, com estatuto consultivo e participação nas políticas locais (juventude, habitação, emprego), e reforço do Fundo Jovem para iniciativas lideradas por jovens.

 

  1. Cultura e Património: Identidade como Factor de Desenvolvimento

A herança cultural de Ponte de Lima é vasta e viva. As festas populares, o artesanato, a gastronomia e o património histórico são motores de identidade e de turismo, mas carecem de estratégia integrada.

Propostas

  • Plano Estratégico de Cultura Local com envolvimento das associações e artistas;
  • Valorização e internacionalização de eventos-âncora (Feiras Novas, Feira do Cavalo, Festival Internacional de Jardins, etc.);
  • Preservação activa do centro histórico e das tradições populares;
  • Rede de equipamentos culturais dinamizada com programação permanente e descentralizada nas freguesias;
  • Mapear, preservar e promover o património imaterial (memória oral, artesanato, cantigas, gastronomia tradicional);
  • Articulação entre cultura, educação e turismo para criar circuitos culturais sustentáveis;
  • Estabelecer critérios públicos, objectivos e transparentes para a atribuição de apoios e subsídios às colectividades e grupos culturais, com publicação anual das linhas de apoio e avaliação de impacto comunitário, para garantir equidade e planeamento

Apoio e Valorização do Folclore Local

  • Criar um programa de apoio contínuo aos Grupos Folclóricos e Etnográficos do concelho (subsídios para trajes, instrumentos, transporte e participação em festivais nacionais e internacionais), reconhecendo-os como Embaixadores Culturais de Ponte de Lima;
  • Em articulação com os agrupamentos de escolas do concelho, propomos a inclusão, nas Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC), do ensino de instrumentos tradicionais populares, para além da concertina, como o cavaquinho, a rabeca, a pandeireta, o reco-reco a Viola Braguesa, os ferrinhos, etc. Esta medida permitirá às crianças contactar desde cedo com a identidade musical limiana, assegurando a transmissão inter-geracional do património cultural e fortalecendo a ligação entre a escola, os grupos folclóricos e a comunidade local;
  • Integração em Eventos-Âncora: Garantir a participação destacada e valorizada dos grupos folclóricos nas principais celebrações do concelho, como as Feiras Novas, promovendo-os como um elemento central e autêntico da festa.

Roteiro dos Solares Visitáveis de Ponte de Lima

Objectivo: valorizar o património histórico do concelho através da criação de um roteiro turístico-cultural que permita a visita (total ou parcial) a alguns solares emblemáticos, em parceria com os proprietários.

Medidas concretas:

  • Criação do Roteiro Municipal dos Solares, com sinalização, mapa interactivo e visitas em dias pré-definidos (modelo “Portas Abertas”);
  • Protocolos com proprietários privados, com apoios logísticos ou fiscais para visitas a jardins, capelas ou salões históricos;
  • Musealização parcial de solares devolutos, criando núcleos interpretativos ligados à história local e à vida rural de Ponte de Lima;
  • Eventos culturais em solares (concertos, teatro, exposições, enoturismo), em parceria com associações locais;
  • Plataforma digital “Solares de Ponte de Lima”, integrada com o turismo local.

Articulação com a TURIHAB – Solares de Portugal

  • Integrar o Roteiro dos Solares na rede nacional Solares de Portugal, criada e sediada em Ponte de Lima pela associação TURIHAB;
  • Estabelecer colaboração para promoção conjunta, troca de boas práticas e integração dos solares limianos nos canais de divulgação da TURIHAB (plataforma digital, pacotes turísticos, brochuras);
  • Participação dos solares de Ponte de Lima em roteiros e itinerários culturais da rede nacional, beneficiando da notoriedade e experiência da marca Solares de Portugal;
  • Desenvolvimento de programas turísticos integrados (estadia + visitas + experiências locais), com base nos modelos já usados pela TURIHAB.

Impacto esperado:

  • Aumento da permanência média dos turistas;
  • Descentralização do turismo e dinamização de freguesias;
  • Valorização do património privado e incentivo à sua preservação;
  • Reforço da identidade cultural limiana.

Implementação

  • Plano Estratégico de Cultura Local com financiamento anual para eventos, formação de artistas e preservação de tradições;
  • Linhas de apoio e incentivos fiscais para artesãos e criadores locais;
  • Candidaturas de património e eventos a fundos nacionais e europeus para restauro e valorização;
  • Criação de roteiros culturais temáticos (romano, medieval, barroco, ecológico);
  • Parcerias internacionais para promoção da identidade cultural limiana;
  • Inventário e Arquivo Etnográfico: Mapear e inventariar activamente o património imaterial ligado ao folclore (danças, cantares, trajes, usos e costumes), criando um arquivo municipal digital e físico para preservação e consulta pública;
  • Festival de Folclore Juvenil: Lançar um evento anual que promova a renovação geracional, incentivando a participação de jovens e a criação de secções infantis/juvenis nos grupos, ligando-o às escolas e à educação cultural;
  • Rotas Culturais Temáticas: Integrar os grupos folclóricos em roteiros culturais temáticos, nomeadamente no contexto do Turismo Cultural e Patrimonial (Secção 6) , com actuações em pontos-chave do centro histórico e das freguesias, valorizando o património além do centro.
  • Parcerias para a Tradição: Estabelecer protocolos de colaboração com os grupos folclóricos para a recuperação e manutenção de trajes tradicionais, envolvendo artesãos e costureiras locais.

 

  1. Inclusão Digital e Modernização dos Serviços

Em pleno século XXI, o acesso ao digital não pode ser um privilégio de alguns, mas sim um direito de todos. Em muitas freguesias do concelho, sobretudo entre a população sénior, a exclusão digital continua a ser uma barreira ao exercício da cidadania plena. É tempo de aproximar o futuro de cada cidadão de Ponte de Lima.

Propostas

  • Criar centros digitais de apoio ao cidadão em freguesias estratégicas, funcionando como “lojas do cidadão rural”, garantindo proximidade e acessibilidade;
  • Desenvolver programas de literacia digital para adultos e seniores, mobilizando o voluntariado escolar e parcerias com empresas tecnológicas;
  • Acelerar a modernização dos serviços públicos municipais, com portais mais intuitivos, procedimentos simplificados, agendamento online e até teleconsultas administrativas;
  • Estabelecer parcerias com escolas, universidades sénior e associações para formar e acompanhar “voluntários digitais”, que ajudem a comunidade a dar os primeiros passos no mundo online;
  • Assegurar internet gratuita de qualidade em espaços públicos como praças, jardins, bibliotecas e juntas de freguesia;
  • Disponibilizar equipamentos de apoio (computadores, tablets ou quiosques digitais) nas freguesias mais isoladas, para que ninguém fique para trás;
  • Desenvolver uma plataforma digital municipal de proximidade, única, que permita submeter pedidos, reportar problemas, acompanhar processos e receber alertas e informações úteis — integrada com o sistema de transporte a pedido e com a plataforma turística.

 

  1. Ensino Superior: Valorizar o que existe e exigir o que falta

O concelho de Ponte de Lima já conta com ensino superior público, através da Escola Superior Agrária (ESA) de Refóios do Lima, pertencente ao Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC). Esta unidade de ensino, com sólida reputação nos domínios da agricultura, ciências do ambiente, agroalimentar e biotecnologia, tem contribuído para a qualificação de técnicos e investigadores de excelência na região.

Contudo, a presença da ESA — por mais valiosa que seja — não esgota as necessidades formativas de um território que ambiciona diversificar a sua economia e reter jovens qualificados.

Neste contexto, a Universidade Fernando Pessoa (UFP) representa um caso paradigmático. A instituição, que chegou a oferecer cursos em Ponte de Lima, encerrou, entretanto, as suas actividades lectivas no concelho, deixando para trás um edifício municipal cedido para fins educativos e hoje subutilizado. Este abandono é, por si só, inaceitável — um desperdício de património público e um sinal preocupante de desinteresse pelo território.

Mas a realidade não se esgota neste vazio. A própria UFP tem vindo a reforçar a sua oferta de Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP) noutros polos, o que revela uma aposta institucional neste modelo formativo. Assim, o que hoje é um símbolo de desinvestimento pode, com visão política e capacidade de negociação, transformar-se numa oportunidade estratégica para Ponte de Lima.

Se a UFP reconhece a importância dos CTeSP, então nada mais justo do que reivindicar a sua descentralização para Ponte de Lima, aproveitando as instalações existentes e alinhando a oferta formativa com as necessidades locais: turismo sustentável, agroalimentar, enoturismo, economia verde, bioeconomia ou tecnologias digitais aplicadas ao mundo rural.

É, por isso, urgente:

  • Exigir publicamente explicações da UFP e discutir a revisão dos termos de cedência do património municipal;
  • Propor que parte da sua atual oferta de CTeSP seja descentralizada para Ponte de Lima;
  • Dinamizar o edifício hoje subutilizado, acolhendo formações profissionais, cursos superiores técnicos e projectos de inovação aplicados;
  • Aprofundar a articulação entre a ESA de Refóios e a economia local;
  • Atrair novas instituições de ensino superior, que vejam em Ponte de Lima um território fértil para desenvolver ensino e investigação aplicada.

Implementação

  • Renegociar a utilização das instalações da UFP e garantir a sua requalificação para funções educativas;
  • Converter os espaços subutilizados em polos de formação e laboratórios de investigação aplicada, orientados para os desafios do mundo rural, turismo sustentável, economia verde e digital;
  • Estabelecer protocolos com o IPVC, a ESA e universidades nacionais para programas conjuntos de ensino e investigação ligados ao território;
  • Promover Ponte de Lima como “capital do conhecimento rural e sustentável”, integrando inovação, tradição e futuro.

 

  1. Património e Reabilitação: proteger o centro histórico com rigor

O património de Ponte de Lima é um dos seus maiores activos — um legado que nos distingue e que deve ser protegido com rigor, mas também vivido com inteligência. O centro histórico não pode ser apenas cenário turístico: deve ser espaço habitado, dinâmico e inclusivo, ao serviço de quem cá vive e de quem nos visita.

Propostas

  • Reabilitar sem descaracterizar: reforço do regulamento municipal de obras, com apoio técnico gratuito aos proprietários e incentivos para intervenções de qualidade;
  • Habitação no centro histórico: apoios fiscais e subsídios à reabilitação, associados a contrapartidas de uso habitacional e fixação de jovens;
  • Gabinete Municipal de Reabilitação: equipa técnica dedicada ao acompanhamento de obras e à elaboração de planos de intervenção faseados, garantindo rigor arquitetónico e eficiência energética;
  • Vivificação do centro: promoção de habitação, comércio local, artesanato e restauração tradicional, equilibrando turismo com vida quotidiana;
  • Património além do centro: inventário actualizado e programas de valorização do património edificado nas freguesias (capelas, pontes, solares, moinhos), assim como do património natural (paisagens, rio Lima) e imaterial (festas, saberes, tradições);
  • Cultura como motor: criação de roteiros interpretativos, eventos culturais regulares e uso inovador dos espaços patrimoniais, envolvendo associações locais e agentes culturais;
  • Turismo sustentável: reforço da atractividade patrimonial sem massificação, apostando em qualidade de experiência, acessibilidade e preservação ambiental.

 

  1. Ponte de Lima – Capital Verde do Minho (proposta-âncora)

Queremos fazer de Ponte de Lima a Capital Verde do Minho: um concelho que valoriza a natureza, lidera em sustentabilidade e inspira outros territórios a seguir o mesmo caminho. Um plano verde municipal de largo alcance permitirá proteger o nosso património natural, melhorar a qualidade de vida das famílias e afirmar Ponte de Lima como referência regional e nacional.

Componentes-chave

  • Reflorestação e biodiversidade: plantação de espécies autóctones, recuperação das margens do rio Lima e corredores ecológicos entre freguesias;
  • Rede de hortas urbanas e escolares, promovendo alimentação saudável, educação ambiental e solidariedade social;
  • Ligação directa à ESA em projectos de agricultura biológica, regenerativa e inovação rural;
  • Mobilidade verde: reforço da rede ciclável e pedonal, incentivo à mobilidade eléctrica e criação de transportes públicos inter-freguesias de baixa emissão;
  • Energia e economia circular: programas municipais de eficiência energética em edifícios públicos, incentivo ao autoconsumo solar e apoio a projectos de redução e reutilização de resíduos;
  • Educação ambiental comunitária: campanhas nas escolas e freguesias, programas de voluntariado para reflorestação e limpeza de espaços naturais;
  • Promoção da marca “Capital Verde do Minho”, associada a turismo sustentável, eventos ambientais e produtos locais.

Implementação

  • Criação de um Gabinete Técnico Verde, com engenheiros florestais, biólogos, técnicos da ESA e representantes da comunidade;
  • Definição de metas claras e indicadores anuais públicos (hectares reflorestados, hortas criadas, quilómetros de ciclovias, energia renovável instalada);
  • Candidaturas estratégicas a fundos europeus (PRR, FEADER, LEADER, programas regionais) para financiar biodiversidade, mobilidade e energia verde;
  • Envolvimento activo das escolas, associações e juntas de freguesia em cada projecto, garantindo que o “verde” se traduz em participação cidadã.

 

  1. Cidade Universitária Rural e da Inovação (Proposta-âncora)

O espaço abandonado da Universidade Fernando Pessoa não pode continuar a simbolizar desperdício e desinteresse. Queremos transformá-lo num hub de ensino superior, investigação aplicada e inovação rural, que seja motor de conhecimento, empreendedorismo e desenvolvimento económico.

Neste contexto, a continuidade da aposta da UFP nos CTeSP deve ser vista como uma oportunidade estratégica: o concelho de Ponte de Lima pode posicionar-se como polo de ensino descentralizado, acolhendo cursos ligados às suas vocações naturais e emergentes.

Linhas de acção prioritárias:

  • Formação avançada e investigação aplicada em áreas estratégicas para o concelho: agroalimentar, vinho, sidra, bioeconomia, turismo sustentável e inovação rural;
  • Instalação de CTeSP da UFP, articulados com as necessidades locais, aproveitando as infraestruturas existentes;
  • Incubadoras e aceleradoras para start-ups rurais, apoiando jovens empreendedores que queiram criar valor no território;
  • Integração de saberes locais e inovação tecnológica, cruzando tradição e modernidade;
  • Internacionalização: atrair de estudantes estrangeiros através de programas Erasmus+ e parcerias com universidades europeias, reforçando a marca de Ponte de Lima como território de conhecimento e inovação com identidade;
  • Sustentabilidade: requalificação energética do edifício e transformação do campus num exemplo de construção ecológica.

Implementação

  • Na eventualidade da não abertura de CTeSPs ou cursos superiores pela UFP, propõe-se a renegociação da cedência do edifício, garantindo que acolhe ensino efectivo e relevante para o território; com abertura de concurso público para gestão mista (parceria Universidade do Minho (UM)/ IPVC / Câmara / sector privado sem fins especulativos);
  • Protocolos com IPVC e ESA, garantindo oferta de cursos, CTeSPs e projetos de investigação aplicada;
  • Programa de bolsas municipais e estágios, ligados a empresas locais e sectores emergentes;
  • Fundo municipal de incubação, com financiamento público-privado para apoiar start-ups;
  • Envolvimento comunitário, assegurando ligação do campus às freguesias, associações e empresas locais.

 

  1. Rede de Mobilidade Sustentável e Inclusiva (Proposta-âncora)

Ponte de Lima precisa de uma mobilidade que sirva todos, ligue freguesias, reduza desigualdades e respeite o ambiente. Propomos a criação de uma rede integrada de transporte público, mobilidade suave e soluções eléctricas, que una coesão territorial, inclusão social e sustentabilidade.

Componentes-chave

  • Serviços de transporte a pedido, ligando freguesias mais isoladas com horários ajustados às necessidades das populações;
  • Malha de ciclovias e percursos pedonais seguros, conectando escolas, serviços e património;
  • Rede de pontos de carregamento eléctrico para veículos ligeiros e transporte colectivo;
  • Acessibilidade social: passes municipais com descontos para jovens, seniores e famílias carenciadas;
  • Integração com turismo sustentável: criação de “rotas verdes” de mobilidade eléctrica e ciclável, ligando rio, património e aldeias;
  • Logística sustentável: apoio a comércio local e entregas de curta distância com veículos eléctricos.

Implementação

  • Projeto-piloto de transporte a pedido em três freguesias, com avaliação ao fim de 12 meses e expansão gradual;
  • Candidaturas a fundos europeus e regionais para aquisição de minibuses elétricos e construção de pontos de carregamento;
  • Criação de um Plano Municipal de Mobilidade Sustentável, com metas de curto (1-2 anos), médio (3-5 anos) e longo prazo (5-10 anos);
  • Monitorização ambiental anual, medindo redução de emissões e ganhos de qualidade de ar.

 

Conclusão: Uma Agenda Territorial com Coragem e Memória

Ponte de Lima não é um concelho resignado ao declínio, nem uma vila-museu destinada apenas à contemplação. É um território com história, mas também com visão e capacidade de concretização. As hortas urbanas, concretizadas em 2009, nasceram vinte e quatro anos após a sua proposta no programa eleitoral dos jovens ecologistas; a produção de sidra conhece um novo impulso com marcas como a NUA; e o ensino superior pode e deve regressar, sustentado por uma perspectiva renovada e adaptada aos desafios actuais.

A revitalização do concelho exige decisões firmes: proteger o centro histórico com bom senso, investir em conhecimento, diversificar a economia local com produtos autênticos e promover um turismo consciente e estruturado. E, acima de tudo, não esquecer que a proximidade ao litoral e ao eixo Braga-Viana deve ser uma oportunidade, não uma fronteira.

A resposta está na acção: planear, escutar, mobilizar e executar — com identidade, justiça territorial e ambição estratégica.

Os desafios que se colocam a Ponte de Lima refletem, em larga medida, as tensões que atravessam o país. Mas aqui, mais do que gerir a rotina, importa liderar soluções inovadoras, revitalizar o território, devolver confiança às comunidades e reafirmar o interior como espaço de futuro.

Se tivermos coragem política, memória das nossas raízes e capacidade de mobilização, Ponte de Lima pode ser, em pleno século XXI, a capital verde, cultural e inovadora do Minho — um concelho onde vale a pena viver, estudar, investir e sonhar.

* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico de 1990.

Referências e Fontes

  1. INE – Instituto Nacional de Estatística
    - Dados demográficos e populacionais de Ponte de Lima
    - www.ine.pt
  2. PORDATA – Base de Dados de Portugal Contemporâneo (Fundação Francisco Manuel dos Santos)
    - Indicadores sobre habitação, envelhecimento, transportes, educação, etc.
    - www.pordata.pt
  3. CVRVV – Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes
    - Informações sobre a produção e exportação de vinho verde
    - www.vinhoverde.pt
  4. Plano Diretor Municipal (PDM) de Ponte de Lima
    - Instrumento de planeamento territorial e ambiental
    - Câmara Municipal de Ponte de Lima
       - www.cm-pontedelima.pt
  5. IMT – Instituto da Mobilidade e dos Transportes
    - Relatórios sobre mobilidade, transportes públicos e intermunicipais
    - www.imt-ip.pt
  6. Relatórios de Sustentabilidade e Estratégia Nacional para o Interior
    - Publicações do Governo e CCDR-N sobre desenvolvimento regional
    - www.portugal.gov.pt

   - www.ccdr-n.pt

  1. Alto Minho 2030 (CIM Alto Minho)
    - Estratégias territoriais e fundos europeus para o desenvolvimento regional
    - www.cim-altominho.pt
  2. Observatório das Desigualdades
    - Estudos sobre envelhecimento, juventude e exclusão social
    - https://www.observatorio-das-desigualdades.com/