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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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A Incoerência do Apoio do PPM a uma Candidatura Presidencial

José Aníbal Marinho Gomes, 27.12.24

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O recente apoio do Partido Popular Monárquico (PPM) à potencial candidatura do Almirante Gouveia e Melo às eleições presidenciais de 2026 suscita um debate profundo sobre a coerência ideológica e a fidelidade aos princípios fundadores do partido. Como antigo filiado do PPM desde 1974, partido em que ocupei diversos cargos a nível nacional, designadamente o de Presidente da Comissão Executiva Nacional e membro da Comissão Política Nacional, sinto-me compelido a expressar a minha discordância com esta decisão inédita na história do partido.

Importa também referir que, em 1997, abandonei e desfiliei-me deste partido, por considerar que, apesar de o PPM ter desmitificado a ideia de Monarquia após o 25 de Abril, não fazia sentido continuar a existir um partido monárquico. Não apenas pelo facto de a monarquia ser suprapartidária, mas também porque a grande maioria dos seus dirigentes históricos abandonou o partido pelos mesmos motivos. No entanto, continuo a acompanhar com interesse o seu percurso.

O PPM, desde a sua fundação em 1974 por Gonçalo Ribeiro Telles, Henrique Barrilaro Ruas e outros destacados monárquicos, tem como objectivo primordial a restauração da monarquia em Portugal. Este princípio norteador distingue o partido no panorama político nacional, conferindo-lhe uma identidade única e uma missão clara. O apoio a uma candidatura presidencial republicana parece, portanto, contradizer a essência do partido, que sempre se posicionou em defesa de um regime monárquico.

O PPM apresentou como justificação para este apoio a integridade pessoal e a capacidade de liderança de Gouveia e Melo, destacando, entre outros, o seu papel durante a pandemia de COVID-19. Independentemente de o Almirante possuir ou não méritos individuais, o argumento de apoiar um candidato com base apenas nas suas qualidades pessoais não se sustenta dentro do contexto de um partido que defende a monarquia. Um partido como o PPM deve preservar os seus princípios acima de tudo, o que implica evitar apoiar candidaturas que reforcem o sistema republicano, independentemente das virtudes de qualquer candidato.

Outro argumento apresentado é a falta de alternativas viáveis que reflitam os valores do PPM. Este ponto demonstra uma falta de visão estratégica, já que a resposta adequada do partido deveria ser trabalhar para promover a discussão sobre a relevância da monarquia parlamentar em Portugal, em vez de se aliar a um sistema que é, em essência, antagónico à sua razão de ser. O apoio a um candidato presidencial é uma aceitação implícita da República como modelo de governação, algo que compromete a mensagem central do partido e aliena os seus apoiantes tradicionais.

Por fim, um outro argumento apresentado, é que esta decisão visa dar visibilidade ao PPM e reforçar a sua relevância no panorama político nacional. Embora seja compreensível que o partido queira ganhar protagonismo, isso não deve ser feito à custa dos seus ideais fundadores. Sacrificar a coerência ideológica em troca de visibilidade política é um erro que compromete irremediavelmente a credibilidade do partido e a sua missão a longo prazo.

Esta decisão inédita no PPM representa uma clara ruptura com a sua tradição de não se envolver diretamente em eleições presidenciais. Tal atitude pode ser vista como uma concessão aos valores republicanos e um abandono dos objectivos originais do partido. Além disso, o apoio a uma candidatura presidencial republicana pode confundir os eleitores e desvirtuar a identidade do partido, levando a questionamentos sobre o seu compromisso com a causa monárquica.

É fundamental que o PPM reavalie esta decisão e volte a concentrar-se na sua missão central: a defesa e promoção da monarquia parlamentar como uma alternativa credível para Portugal. Esta é a melhor forma de honrar a memória dos seus fundadores e de respeitar todos aqueles que, ao longo das décadas, dedicaram o seu tempo e esforço à causa monárquica.

O apoio a Gouveia e Melo, por mais bem-intencionado que seja, é um desvio preocupante do caminho traçado pelo PPM desde a sua criação. O partido deve voltar a ser fiel aos valores que lhe conferem identidade, em vez de procurar relevância através de alianças que enfraquecem a sua posição ideológica.

 

* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico de 1990.

“Entre a Coroa e o Oportunismo: A Essência Perdida"

José Aníbal Marinho Gomes, 14.12.24

 

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Um verdadeiro monárquico distingue-se pela fidelidade a princípios que atravessam gerações: a defesa da tradição, da honra e de uma postura apolítica que eleva os valores da monarquia acima das disputas partidárias. É essa integridade que faz com que aqueles que defendem a realeza não se percam em alianças ou em jogos de poder. Porém, nem todos parecem recordar esta verdade fundamental.

Existem, infelizmente, figuras que se apresentam como defensores da causa monárquica, mas que, em momentos de conveniência, parecem abdicar das suas convicções como quem troca um manto real por um simples casaco de ocasião. Para quem, como eu, acredita na monarquia como um ideal de união e neutralidade, é desconcertante observar atitudes que contradizem este princípio, especialmente quando alguém se envolve em campanhas e alianças que claramente pertencem ao espectro republicano.

E que dizer de quem, por estratégia ou oportunismo, participa em celebrações de datas e movimentos que simbolizam o "triunfo" dos ideais republicanos sobre a monarquia? Uma presença nesses eventos não é apenas uma contradição – é quase uma renúncia ao próprio legado que um monárquico autêntico deveria preservar. A coerência, afinal, é a base da credibilidade.

Não deixa de ser intrigante que entre aqueles que defendem o regime monárquico, alguns se revejam agora no apoio a um "almirante" que aparece retratado como herdeiro do espírito de D. João II – um Rei cuja memória representa força, estratégia e liderança visionária. Contudo, ao invés de honrar a neutralidade e a grandeza do monarca que navegava acima das disputas efémeras, essas figuras parecem aliar-se a projectos que pertencem a um campo onde qualquer monárquico, digno desse nome, deveria manter-se ausente: eleições presidenciais.

O verdadeiro monárquico sabe que a luta por cargos electivos à chefia do estado pertence ao domínio republicano. Não faz campanha por candidatos, não se alia a estratégias eleitorais e, acima de tudo, não participa em disputas que dividem, pois sabe que o papel da monarquia é unir e inspirar. Tomar partido é perder a verdadeira essência.

A questão, então, é a seguinte: será que quem se diz monárquico, mas age de outra forma, está disposto a abdicar de princípios por um jogo de interesses? Ou será que, no fundo, nunca abraçou verdadeiramente a causa? Para muitos, a monarquia é uma coroa invisível, com valores, não um objecto que se coloca e retira conforme a ocasião.

Há algo de irónico naqueles que, outrora associados a símbolos da tradição e da continuidade histórica, se veem agora, lado a lado, com movimentos que celebram rupturas com esse passado. Talvez não seja surpresa que estas figuras acabem por perder o respeito tanto de monárquicos quanto de republicanos. Afinal, como confiar em alguém que troca de lado como quem troca de camisa?

A monarquia, enquanto ideia, merece ser defendida por quem compreende o seu significado profundo. Não é uma bandeira que se agita ao vento das oportunidades, mas sim um compromisso com a história, com a cultura e com os valores que transcendem o imediato. Quem falha em compreender isto, pode vestir a capa da monarquia, mas nunca será mais do que uma figura transitória numa peça que exige convicções firmes.

No final, os verdadeiros monárquicos continuam fiéis, mesmo em tempos de adversidade, porque sabem que é na coerência que reside a força das suas ideias. Quanto aos outros, talvez continuem a dançar entre ideais e interesses, mas sem nunca conquistar o respeito de quem defende a tradição com lealdade inabalável.

Um Chefe de Estado: Símbolo ou Político?

José Aníbal Marinho Gomes, 03.12.24

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Como monárquico, reafirmo que não participo em campanhas presidenciais nem apoio qualquer candidato, dado o meu compromisso com os valores da Instituição Monárquica. Contudo, no dia das eleições presidenciais, sempre me desloquei à minha assembleia de voto para exercer o meu dever de cidadão, abstendo-me.

Defendo que o chefe de Estado deve ser um símbolo apartidário, acima de disputas políticas. Num sistema monárquico, esta figura estaria naturalmente imune às pressões partidárias e ao escrutínio que caracteriza o modelo republicano. Ao contrário do Presidente da República, o Rei não depende de ciclos eleitorais, campanhas políticas ou alianças partidárias, o que lhe permite exercer um papel verdadeiramente unificador e independente, em prol do interesse nacional e não de agendas específicas.

No actual sistema republicano, o Presidente da República frequentemente reflete interesses políticos e partidários, como se torna evidente na cobertura mediática das potenciais candidaturas às próximas presidenciais. Estas dinâmicas enfraquecem a posição do chefe de Estado enquanto símbolo de unidade e estabilidade, transformando-o num actor político que, muitas vezes, divide em vez de unir.

De acordo com as sondagens mais recentes, o Almirante Gouveia e Melo lidera na corrida para as eleições presidenciais, o que ajuda a explicar o aumento das análises sobre o seu perfil. É importante notar que, sendo um militar, Gouveia e Melo é visto por muitos portugueses como um símbolo de unidade e isenção, características que ecoam o papel de um Rei no sistema monárquico, acima dos partidos e das divisões ideológicas. Este apoio pode ser interpretado como um sinal de cansaço dos eleitores em relação à classe política tradicional e aos comentadores políticos, que, ao deixarem as suas funções, raramente se desvinculam das agendas que anteriormente defendiam.

Na SIC, têm surgido análises que sugerem uma preferência velada por Marques Mendes. Comentadores como Maria João Avillez descrevem o almirante Gouveia e Melo como um "candidato incógnito", por não se conhecerem as suas posições políticas. Isso reflete a preferência por figuras com alinhamentos ideológicos claros, levantando a questão: será obrigatório um chefe de Estado ser político? Ou seria mais eficaz ter alguém que simbolize a Nação acima das divisões partidárias, como acontece num sistema monárquico? Além disso, quando Maria João Avillez e outros discutem o perfil de Marques Mendes, elogiam-no não apenas como potencial candidato, mas também como colega comentador da própria SIC. Esta proximidade levanta questões sobre a imparcialidade de algumas análises mediáticas.

Por outro lado, Pedro Passos Coelho tal como Marques Mendes, figuras do PSD, enfrentam desafios semelhantes. Passos Coelho carrega o peso de ser associado às medidas de austeridade implementadas durante a sua liderança, enquanto Marques Mendes precisa combater a percepção de que a sua longa trajetória como comentador mediático compromete sua isenção e capacidade de se desvincular de interesses partidários.

Outro nome em destaque é António José Seguro, que recentemente manifestou abertura para uma candidatura. Apesar de ser uma figura respeitada por muitos e conhecida pela defesa da convergência política, enfrenta desafios relacionados com a memória do embate com António Costa em 2014, que alguns analistas parecem explorar como um factor desestabilizador. Este caso reforça as dinâmicas partidárias e mediáticas que tornam o modelo republicano mais suscetível a divisões, algo que um sistema monárquico naturalmente evitaria.

No campo socialista, além de António José Seguro, Mário Centeno é frequentemente apontado como um potencial candidato presidencial. Centeno traz consigo um histórico sólido como ex-Ministro das Finanças e ex-líder do Eurogrupo, sendo visto como uma figura técnica e competente. Contudo, a associação de Centeno a algumas políticas de austeridade pode ser um entrave para conquistar sectores do eleitorado mais críticos dessas medidas. Além disso, a sua postura técnica, muitas vezes distante, pode dificultar a conexão emocional necessária para uma candidatura presidencial eficaz.

Paulo Portas também surge como um nome que poderia atrair apoio conservador e centrista. No entanto, a sua ligação histórica a decisões controversas enquanto líder do CDS e vice-primeiro-ministro em tempos de austeridade, além de anos afastado da política activa, levanta dúvidas sobre a viabilidade de sua candidatura. A sua actuação como comentador político, por vezes marcada por análises críticas, também pode ser interpretada como falta de propostas concretas, prejudicando sua credibilidade enquanto potencial Chefe de Estado.

Se algum destes candidatos avançar, é legítimo perguntar: como pode um candidato de um qualquer partido, demonstrar verdadeira isenção quando confrontado com decisões que possam prejudicar o mesmo partido que o apoia?

Estas observações complementam a ideia de que muitos portugueses estão exaustos de figuras públicas que, ao deixarem funções políticas ou mediáticas, mantêm práticas que reforçam a desconexão com as reais prioridades do povo. Gestos performativos, como “beijar barrigas de grávidas”, e a retórica excessivamente polarizadora são frequentemente apontados como práticas que alienam os cidadãos e ampliam a desconfiança no sistema político.

No panorama geral, os potenciais candidatos enfrentam a difícil tarefa de provar que são capazes de transcender interesses partidários e apresentar uma visão de liderança verdadeiramente unificadora, incompatível com o sistema republicano. Este é um atributo que os portugueses cada vez mais exigem num Chefe de Estado. A popularidade crescente de figuras como Gouveia e Melo, que, para alguns eleitores, simboliza a estabilidade e imparcialidade, reflete o cansaço do eleitorado com os padrões tradicionais e partidários da política portuguesa.

Assim, reafirmo que, mais do que nunca, Portugal necessita de um chefe de Estado que seja um símbolo de unidade nacional, imune às pressões partidárias e políticas. Os portugueses começam a demonstrar que estão fartos de figuras políticas moldadas por interesses de partidos e de comentadores com agendas bem definidas. Talvez seja esta a razão pela qual Gouveia e Melo, com a sua carreira militar e distanciamento das disputas político-partidárias, surja como um dos favoritos nas sondagens: porque muitos veem nele um símbolo de imparcialidade e estabilidade, qualidades indispensáveis num verdadeiro Chefe de Estado, só possíveis num regime monárquico.

Num sistema monárquico, estas qualidades seriam inatas à figura do Rei, que, acima das disputas eleitorais, seria um garante da continuidade, imparcialidade e unidade nacional. A Monarquia representa não apenas estabilidade institucional, mas também uma ligação permanente aos valores históricos, culturais e morais de uma Nação.

Enquanto na república o chefe de Estado é uma figura transitória, frequentemente comprometida por alianças e interesses políticos, na monarquia o Rei é uma presença constante e inquestionável, um símbolo perene de identidade nacional que inspira confiança e respeito em tempos de crise e de prosperidade.

Além disso, a Monarquia oferece uma alternativa a ciclos políticos exaustivos e polarizadores, promovendo um foco mais profundo na continuidade e no bem comum. Num regime republicano, a liderança é frequentemente instável e vulnerável a flutuações partidárias; já na Monarquia, a neutralidade política e a longevidade no papel de chefe de Estado permitem uma liderança mais coesa e previsível. Um Rei, como símbolo da Nação, transcende divisões ideológicas e serve como um ponto de união que liga o passado, o presente e o futuro de Portugal.

Jantar dos Conjurados 2024

José Aníbal Marinho Gomes, 01.12.24

Intervenção que proferi no Jantar dos Conjurados das Reais Associação de Viana do Castelo e Braga, realizado no dia 30 de Novembro de 2024 em Viana do Castelo.

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Boa noite

Minhas Senhoras e Meus Senhores

É com grande honra que, em nome da Real Associação de Viana do Castelo, dou as boas-vindas a todos os presentes neste jantar evocativo do 1.º de Dezembro. Quero saudar, em especial, os Senhores Dom Miguel Almada e Dom José de Almada, representantes directos de um dos heróis da Restauração de 1640, D. Antão de Almada. A sua presença é um símbolo da nossa história e do legado de coragem que celebramos neste evento.

Saúdo também o Dr. Gonçalo Pimenta de Castro, presidente da Real Associação de Braga, e a Doutora Raquel Oliveira Martins, nossa ilustre convidada para a palestra desta noite, que iremos ouvir seguidamente.

Portugal, o mais antigo estado-nação da Europa, berço de navegadores e pioneiros ergueu-se ao longo dos séculos como um exemplo de determinação e resiliência. Nasceu do ímpeto de um homem visionário, D. Afonso Henriques, que no dia 5 de Outubro de 1143, em Zamora selou a fundação do Reino de Portugal, libertando-o do domínio de Leão e fincando as raízes da soberania lusa.

Este espírito indomável, esculpido em pedra e aço, voltou a ser posto à prova durante a crise de 1383-85, quando o reino enfrentou novamente a ameaça castelhana. Sob a liderança de D. João I, Mestre de Avis, e com o apoio heróico de Nuno Álvares Pereira, Portugal reafirmou a sua independência, destacando-se como uma terra que nunca se rende ao jugo estrangeiro.

Também, esta essência invencível do povo lusitano, encontrou no dia 1 de Dezembro de 1640, a sua mais notável expressão de patriotismo. Na alvorada desse dia histórico, ecoaram pelas ruas de Lisboa os brados de uma nação que, após 60 anos sob domínio castelhano, clamava pela restituição da sua identidade e pela liberdade que só a independência pode proporcionar. A conspiração dos 40 conjurados resultou na deposição do poder castelhano e na aclamação de D. João IV como rei, marcando o início da Dinastia de Bragança.

Embora tenha sido um acontecimento de amplitude nacional, a Restauração da Independência, teve repercussões importantes em várias localidades, incluindo em Viana, na altura um dos principais portos comerciais do país que desempenhava um papel estratégico, tanto na defesa como no comércio marítimo, cidade onde hoje nos encontramos para celebrar esta tão importante data da nossa história.

A notícia da revolta de Lisboa chegou a Viana no dia 6 de Dezembro, tendo rapidamente os vianenses demonstrado apoio à causa restauracionista.

Convocando os soldados das companhias do concelho, os Vereadores da Câmara de Viana resolveram sitiar a fortaleza. Reuniram trezentos homens, número com que principiaram no dia 13 de Dezembro as operações militares sob o comando dos capitães das companhias e dos oficiais da Câmara, para a ocupação do Castelo de São Tiago, governado por D. Bernardino Polanco de Santilhana.

No dia 19, o Governador castelhano foi notificado pela Câmara para que se rendesse em 24 horas, o que foi por ele aceite. A 21 de Dezembro, pelas 8 horas da manhã, abandonou o castelo com os seus homens. Viana, com o seu porto activo, desempenhou um papel essencial na logística e defesa do novo reino, consolidando a posição de Portugal, contra retaliações marítimas e contribuindo para a reorganização das forças navais.

O clamor da Restauração foi mais do que um movimento político; foi um renascimento da alma portuguesa, uma prova de que Portugal, mesmo quando adormecido sob o peso da opressão, guarda em si a chama da liberdade, pronta para renascer e iluminar os caminhos da soberania.

Neste contexto, a acção dos conjurados não foi apenas um acto de insurreição. Foi um grito de reafirmação daquilo que significa ser português: um povo que nunca abdica da sua essência, que desafia as tempestades e que, diante das adversidades, renasce das cinzas. A memória dessa luta ecoa através dos tempos, lembrando-nos de que ser português é carregar no coração um fogo que não se extingue, uma vontade que não se dobra.

Contudo, à sombra desta glória permanece uma ferida aberta na alma lusa: Olivença. Essa vila histórica portuguesa, encontra-se ainda sob domínio espanhol, uma injustiça que desafia o princípio da integridade nacional. é uma ferida aberta na consciência nacional. A ocupação deste território, que o Tratado de Viena de 1815 mandou devolver a Portugal, ainda não foi resolvida, pelo que a ocupação de Olivença não é apenas um detalhe da geopolítica; é um símbolo de que a luta pela plena independência de Portugal ainda não terminou. As palavras de tratados esquecidos e os ecos de promessas vazias devem relembrar-nos que a soberania de uma nação não se negocia nem se abdica. Portugal deve, com respeito, mas com firmeza, continuar a reivindicar o que é seu por direito.

A ameaça não se restringe, porém, às memórias de uma vila capturada. O olhar atento deve também voltar-se para o Atlântico, onde repousam como sentinelas as Ilhas Selvagens, extensão vital do território português. Este arquipélago, embora pequeno e isolado, situado a sul da Madeira, carrega consigo uma importância estratégica que não pode ser ignorada. Espanha, na sua busca por extensão marítima, já lançou olhares ambiciosos em direção às Selvagens, questionando tacitamente a sua soberania. A história mostra que, mesmo nas águas do oceano, Portugal deve vigiar e proteger aquilo que lhe pertence. As Selvagens não são apenas rochedos perdidos no mar; são parte do território que nossos antepassados desbravaram, defendendo com o sangue e a vida.  Defender estas terras é proteger o legado de navegadores e exploradores que levaram a bandeira de Portugal aos confins do mundo.

Neste complexo cenário, Portugal encontra-se no seio de uma Europa que, por vezes, esquece os ideais de solidariedade e respeito entre as nações. A promessa de uma união que respeite a singularidade e a soberania de cada membro nem sempre tem sido cumprida. A Europa deveria ser uma constelação de nações, cada uma com seu brilho, e não um conjunto submisso a pressões internas e externas. É fundamental que o espírito da Restauração inspire não apenas a luta pelo reconhecimento de territórios, mas também a postura de Portugal perante a União Europeia. A nossa participação deve ser de uma voz que ressoe com clareza, defendendo os interesses nacionais, como a proteção de territórios e o direito à autodeterminação.

Devemos lembrar à Europa que a união deve basear-se na defesa da soberania de cada nação, uma união de povos, e não um aglomerado de estados subjugados por interesses superiores.

Neste contexto, a figura da Monarquia surge como um elo simbólico que une passado, presente e futuro. A Casa Real Portuguesa, com Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança, à frente, representa a continuidade de uma linhagem que nos liga diretamente àqueles que lideraram a nação nas suas horas mais difíceis.

Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte é mais do que um representante da tradição; é um símbolo vivo da portugalidade e da esperança de um país que honra suas raízes enquanto olha para o futuro, é uma voz que ressoa com a nobreza dos princípios e a fidelidade à pátria, guiando-nos na defesa da soberania e da independência que os nossos antepassados tanto valorizaram.

Sob a sua figura, podemos encontrar a inspiração para reafirmar a nossa identidade, proteger o que é nosso e cultivar o espírito que fez de Portugal uma nação soberana e inquebrável.

Que a memória dos conjurados que, com bravura, tomaram o Paço da Ribeira e proclamaram o rei D. João IV e de todos os que nos precederam, celebremos o que significa ser português: um povo resiliente, com uma história de liberdade, uma voz ativa na defesa da sua independência e um olhar atento ao futuro, nos inspire a olhar para o futuro com a mesma coragem. Que Olivença não seja apenas um vestígio de perda, mas um farol de esperança para uma resolução justa. Que as Ilhas Selvagens se mantenham portuguesas, como testemunhas da nossa vigilância e amor à pátria.

Que cada português, ao celebrar a Restauração, se lembre de que a independência é um direito conquistado e mantido com firmeza. E que a nossa voz, unida e forte, ecoe não apenas em Lisboa, mas em toda a Europa e em todo o globo, lembrando ao mundo de que Portugal é uma nação independente e vigilante, uma terra de heróis, navegadores e guardiões do Atlântico.

Portugal não se rende, Portugal não esquece. E enquanto houver um português que lembre, haverá um Portugal que resista.

Que Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte de Bragança, herdeiro da nossa coroa e da nossa história, seja sempre lembrado como o guardião de uma pátria que, ontem como hoje, se ergue em defesa da sua liberdade.

Viva o Rei!

Viva Portugal!