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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Feliz 100.º Aniversário Madalena Sá e Costa

José Aníbal Marinho Gomes, 20.11.15

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Senhor Presidente da República, tinha Vossa Excelência a obrigação de ter condecorado esta brilhante e distinta violoncelista e pedagoga portuense. Mas não o fez. Ao invés no dia 10 de Junho preferiu condecorar o costureiro da sua Maria, e outros que tais...Ainda se pensou que a condecoração pudesse acontecer na altura do seu centésimo aniversário, mas tal não ocorreu.

Como dizia nosso avô Aníbal Marinho: “Sempre entendemos que a quantos no decorrer da sua existência revelam virtudes excepcionais, mormente no que se refere aos domínios da Arte, merecem ser homenageados durante a sua vida e não como quase sempre acontece, depois do seu decesso, para assim poderem sentir o prazer espiritual de que seu esforço criador teve o devido eco na alma popular”.

As ocupações com as coisas do país e da governança foram imensas….primeiro o estudo dos possíveis cenários pós-eleitorais, que o impediu de participar nalguns eventos públicos, pois a situação requeria muita concentração, mas felizmente os cenários estavam todos estudados…, chegou a vez das bananas e cagarras, e por estes dias era preciso ouvir os "Tio Patinhas", os Sopranos, os Simpsons e outras individualidades. Ah! Esqueci-me que também ouviu o “emplastro”.

Mas como esta atitude vem de alguém que nunca se engana e raramente tem dúvidas, demonstra na realidade o que representa a cultura para a Presidência da Republica, com tantos assessores que para lá andam….

Como deve desconhecer quem foi esta grande figura da música portuguesa aqui vão algumas pequenas achegas.

Madalena Moreira de Sá e Costa nasceu no Porto a 20 de Novembro de 1915. Neta de Bernardo Valentim Moreira de Sá, fundador do Conservatório de Música do Porto e do Orpheon Portuense, filha da pianista Leonilda Moreira de Sá e Costa e do pianista e compositor Luís Ferreira da Costa.

Foi discípula de Guilhermina Suggia — e como herdeira do seu legado musical deu no nosso país, continuidade suas lições — e do seu pai Augusto Suggia. Conclui o curso no Conservatório Nacional em 1940, sob a tutela de Isaura Pavia de Magalhães, após o que completa a sua formação com Paul Grümmer, Sandor Végh e Pablo Casals, entre muitos outros.

Ganhou os prémios Orpheon Portuense (1939), Emissora Nacional (1943), Morrisson da Fundação Harriet Cohen (1958), Guilhermina Suggia, SNI (ex-aequo, 1966. Com a sua irmã Helena Sá e Costa manteve um duo durante 50 anos, tendo actuado um pouco por toda a Europa. Ainda com a sua irmã e com o violinista Henri Mouton formou o “Trio Portugália” a quem o País deve a audição de um grande reportório musical, passando posteriormente a quarteto com a participação do violetista belga François Broos.

Tocou em orquestras sob a direcção de Maestros como Pedro de Freitas Branco, Frederico de Freitas, Ivo Cruz, Fritz Riegger, Jacques Pernood, Gunther Arglebe, Ferreira Lobo, Pedro Blanch e Silva Pereira e integrou a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (1966-84), Instrumentista de Câmara da Orquestra Sinfónica do Porto (1970) e a Camerata Musical do Porto que fundou (1979-89).

Possuidora de um curriculum riquíssimo, Madalena Sá e Costa desenvolveu também notável acção pedagógica no Conservatório de Música do Porto e no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian em Braga. Em Guimarães, participou em vários recitais e concertos, alguns dos quais relaizados na Sociedade Martins Sarmento.

Em 2008 publicou o livro “Memórias e Recordações”.

Faço votos para que Madalena Sá Costa celebre em 2016 o seu 101.º Aniversário, altura em que haverá um novo Presidente, de certeza bem mais sensível às questões culturais.

bleu blanc rouge

Sofia de Landerset, 17.11.15

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Ainda mal compreendíamos o que se passara em Paris, e já o facebook se enchia de imagens que reflectiam a solidariedade com as vítimas do massacre.

Bandeiras francesas, símbolos da paz com a Torre Eiffel, uma Marianne em lágrimas. Muitos escolheram tingir as suas fotos de perfil em bleu-blanc-rouge.

E tão célere quanto a reacção de solidariedade foi o apontar dos dedos da brigada do politicamente correcto.

“Porque valem menos os mortos de Beirute?” ou “morrem todos os dias inocentes na Síria mas o Ocidente não se comove” são os exemplos mais suaves das acusações de hipocrisia, humanismo selectivo e ignorância mais ou menos deliberada de todos os males do mundo.

A discussão sobre esta alegada solidariedade de sofá tem ocupado, nos últimos dias, tanto espaço nas redes sociais que quase ofusca o facto de mais de 130 seres humanos terem sido barbaramente assassinados, num ataque à nossa liberdade.

Já o havíamos visto aquando dos crimes perpetrados contra os jornalistas do Charlie Hebdo, e este verão, quando tantas fotos de perfil se coloriram com as cores do arco-íris, numa expressão de alegria pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos EUA.

Quer expressemos dor, quer alegria, há-de haver sempre alguém que, em vez de discutir o tema em causa, vem discutir a forma como nos expressamos, tentando fazer-nos sentir culpados por apoiarmos isto e não aquilo, por lamentarmos este incidente e não aquele. Não é sequer raro sermos ridicularizados por supostamente estarmos a ser alvo de uma manipulação qualquer vinda de uma organização tão sinistra quanto misteriosa.

E no entanto, parece-me perfeitamente humano que um empregado de mesa em Coimbra ou uma cabeleireira em Évora se sintam mais próximos dos mortos de Paris do que dos mortos em Beirute. Isso não retira valor nem diminui o horror dos mortos em Beirute: significa apenas que nos identificamos mais com quem nos está mais próximo. Pode ser injusto e imperfeito, mas é mesmo assim. 

Deixem-nos colorir as nossas fotos de perfil com as cores que desejarmos. Deixem-nos expressar os nossos sentimentos da forma que quisermos, quando quisermos. E deixem de tentar fazer-nos sentir culpados por isso.

Prefiro mil vezes ver um mar de bandeiras francesas no meu mural do que os vossos dedos em riste disparando balas de superioridade moral e intelectual.