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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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DIA INTERNACIONAL DA MULHER Catarina Eufémia (1)

José Aníbal Marinho Gomes, 08.03.15

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Neste dia Internacional da Mulher relembro um soneto que o meu avô Aníbal Marinho publicou no livro "Homens e Ideias", intitulado Catarina Eufémia, dedicado: "À memória desta jovem mártir alentejana, símbolo do verdadeiro povo, que há 20 anos, prestes a ser mãe e com um filho nos braços, foi barbaramente abatida a tiros de pistola pelos sequazes do fascismo dominante."

 

O crime que a vida TE roubou

e ao SER que em TEU ventre já vivia,

foi de tal miserável cobardia

que outro pior jamais se praticou.

 

Só por pedires mais pão e liberdade

com raro desassombro e coragem,

falando da justiça a linguagem,

mataram-te com toda a crueldade!

 

Foram dias de dor e compaixão

que feriram a humana consciência,

ao saber deste crime sem perdão.

 

Penso que até os deuses prepotentes,

insensíveis a toda a violência,

choraram com a morte destes ENTES!

 

 in Jornal Cardeal Saraiva n.º 2586 de 24 de Maio de 1974 e "Homens e Ideias".

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(1) Catarina Efigénia Sabino Eufémia, filha de José Diogo Baleizão e de Maria Eufémia, nasceu a 13-2-1928 em Baleizão, Beja e foi uma ceifeira portuguesa que, na sequência de uma greve de assalariadas rurais, com apenas vinte e seis anos de idade, foi assassinada a tiros, pelo tenente Carrajola da Guarda Nacional Republicana, no Monte do Olival 19 de maio de 1954. Do casamento com António do Carmo, cantoneiro em Quintos, tinha três filhos, um dos quais de oito meses, que estava no seu colo no momento em que foi baleada.

Este assassinato foi uma das mais brutais ações do regime de salazarista, motivando uma revolta surda e contida entre as massas rurais alentejanas, que acabou por simbolizar a resistência ao regime, tendo o próprio Partido Comunista Português adotado a sua figura como símbolo da resistência ao regime salazarista. Para além de Aníbal Marinho, também outros autores lhe dedicaram poemas, como Sophia de Mello Breyner, Carlos Aboim Inglez, Eduardo Valente da Fonseca, Francisco Miguel Duarte, José Carlos Ary dos Santos, Maria Luísa Vilão Palma e António Vicente Campinas, sendo o poema deste último “Cantar Alentejano” musicado por Zeca Afonso no álbum “Cantigas de maio” editado no Natal de 1971.

in "Aníbal Marinho - Cinco Décadas Literárias", Janeiro de 2012.