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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Touradas: um post seguramente para "fazer amigos"

Duarte d´Araújo Mata, 19.08.14

 

Começo por dizer que não gosto de touradas e por isso nunca fui a nenhuma e não costumo assistir na TV às corridas. Não me atrai o espectáculo em si, não valorizo suficientemente os elementos que dele fazem parte para o admirar e merecer o meu tempo.

No entanto, começo a sentir que há um cerco às touradas completamente desproporcionado e que resulta de mais uma das visões distorcidas que as sociedades "urbanas" têm sobre o que julgam ser o mundo rural, que na verdade conhecem normalmente pouco.

O tempo de antena que os grupos anti-touradas está a conseguir na opinião pública é proporcional à sua falta de argumentação contra espectáculos deploráveis com animais que os mesmos "urbanos" construiram para se entreterem, e onde manifestamente os animais são colocados em cativeiro, tratados a vida toda como objectos decorativos e lúdicos e sujeitos a condições de vida articifiais e exigentes do ponto de vista do "bem-estar" animal. Falo de ZOOs ou Exibições diversas de animais selvagens, onde as crianças são educadas desde pequenas a sorrir quando uma arara anda de triciclo e são fotografadas a fazer festas em bufos-reais ou cobras e outros répteis.

Ao contrário dos touros que são provavelmente, dentro dos animais criados pela acção do Homem, dos mais livres que se conhece (pese embora os 30 minutos de toureio a que se dedica toda a atenção mediática), e que permitem a manutenção sustentável a todos os níveis de um património ecológico valiosíssimo, todos os exemplos a que fiz referência contrariam a meu ver a ética de protecção animal e sobre os quais pouco ou nada se fala.

Não há hoje quaisquer razões para a existência de "shows" de animais selvagens e havendo actualmente todo o tipo de tecnologia e multimédia que permitiria substituir o actual modelo dos ZOOs ao estilo "Julio Verne" por modernas interacções digitais, 3D, etc,  permitiria vocacioná-los à sua útil função de salvaguarda genética de animais ameaçados na rectaguarda de uma verdadeira lógica de conservação. 

Imagino que só pode ser uma questão de estratégia esta obsessão com as touradas, não sobrando espaço para falar "do resto". 

Fotos AQUI e AQUI

algarve, agosto*

Sofia de Landerset, 10.08.14

 

Todos os anos se trava, em Agosto, uma guerra civil no Algarve.

 

De um lado, o exército invasor: centenas de milhares de famílias oriundas das diversas regiões de Portugal a Norte das serras de Monchique, do Caldeirão e de Espinhaço de Cão. Munidas de armas temíveis - chapéus de sol, lancheiras, bóias, cadeiras, pára-ventos, bolas de futebol, brinquedos de praia, piscinas insufláveis -, as tropas que invadem o Algarve mal o mês de Agosto desponta semeiam o pânico entre os autóctones. 

 

O soldado invasor distingue-se por uma insuperável rigidez de costumes. Levanta-se às sete e meia em ponto para estar à porta do minimercado uns minutos antes de o mesmo abrir, para ser um dos primeiros na fila do pão que rapidamente atinge proporções capazes de rivalizar com a do restaurante mais 'in' de Nova Iorque. 

 

Às nove em ponto, as famílias de invasores, habitualmente compostas de várias gerações e ramos da família atravancados em apartamentos T1, assentam arraiais na praia. É este o momento de exibir armas, intimidando os locais não apenas com a dimensão das lancheiras mas também com os característicos berrros de "Ó Martim anda cá p'a meter protector!" (o invasor 'mete protector' em vez de pôr creme).

 

À uma da tarde, as tropas invasoras recolhem aos apartamentos para almoçar. Alimentam-se abundantemente de bens adquiridos no Continente lá da terra e transportados nos veículos de guerra, vulgo automóveis-carregados-à-pinha. Segue-se um período de repouso que finalmente se assemelha vagamente ao conceito de 'férias' universalmente aceite - excepto que termina precisamente às quatro da tarde, hora a que, sem falta, as hordas de invasores voltam a pegar nas armas e regressam à praia, repetindo com exactidão militar a rotina matinal.

 

Às dezanove horas, novo êxodo de regresso aos apartamentos, onde se instala de imediato o caos dos banhos e da elaboração do jantar. O desgaste provocado pela esgotante rotina diária resulta em sessões de berros que caracterizam prédios de apartamentos inteiros ocupados pelo invasor. As toalhas nas guardas das varandas, qual bandeira içada pelo conquistador para marcar o território invadido, são outro ex-libris deste movimento anual.

 

Após o jantar, as famílias saem uma última vez dos apartamentos para tomar café, única despesa efectuada no comércio indígena, e é se não tiverem trazido a máquina de café de casa, a fim de evitar a despesa e o contacto com os locais. Um pequeno passeio completa a rotina do invasor, que cedo recolhe ao apartamento para uma breve noite de descanso, que irá terminar com o despertador a tocar de novo às sete e meia.

 

Nos seus parcos contactos com os indígenas, o invasor é rude, mal educado, desproporcionalmente exigente e nunca se libertou do trauma de que "no Algarve só tratam bem os estrangeiros", e age em conformidade. Tem toda a razão. Os estrangeiros são bem tratados no Algarve porque tratam bem os algarvios. 

 

Do outro lado, o exército invadido: chamar-lhe 'exército' é desde logo um eufemismo. O algarvio nunca se poderia organizar como exército, dado que tal não está na sua génese. O algarvio desconfia de tudo e de todos, e principalmente dos outros algarvios. O algarvio prefere resmungar. O resmungo é a sua arma, e domina-a na perfeição, após séculos de prática, numa língua curiosa em que os substantivos tendem a terminar em '-e', seja qual for a letra em que terminavam na sua versão original, e os verbos tendem a terminar em '-erem', como em "os móces corrérem para apanharem o autocárre cómigue".

 

O algarvio resmunga contra os turistas estrangeiros, os "bifes", apesar de os tratar melhor do que os invasores pelo simples facto de os estrangeiros deixarem boas gorjetas e os invasores nem entrarem nos restaurantes quanto mais deixarem gorjetas. O algarvio resmunga e conta os dias para acabar Agosto, altura em que irá devolver ao fundo de desemprego ou às escolas os empregados que contratou para trabalhar no verão. Empregados que recebem, na melhor das hipóteses, 600 euros para trabalhar durante um mês, sem formação, sem folgas, sem hora de saída, sem motivação alguma para bem servir. (excepto os estrangeiros que lhes dão boas gorjetas, e mesmo assim...)

 

O algarvio detesta a invasão de Agosto e resmunga. Resmunga porque o invasor quer tudo para ontem, impacienta-se nas filas intermináveis e trata o algarvio como se este devesse estar grato por ser invadido, porque senão "morriam à fome", argumento capaz de despoletar violentas escaramuças.

 

O algarvio resmunga porque o exército invasor insiste em circular por todo o lado semidespido, obrigando os indígenas a conviver com protuberantes e descobertas barrigas suadas na fila do minimercado. A arte de evitar que as ditas barrigas suadas se encostem ao indígena já deu origem a vários manuais de sobrevivência, best-sellers regionais.

 

O algarvio está-se nas tintas para a qualidade do serviço que presta; de facto, a simples mênção da palavra 'serviço' é capaz de despoletar um audível resmungo de "mas eles pensam que somos criados deles?!" na versão mais suave. O algarvio nem aos outros algarvios presta um bom serviço, quanto mais aos invasores de Agosto.

 

A principal arma do algarvio é o tempo. O tempo encarrega-se de fazer passar o mês de Agosto e de devolver o exército invasor às cidades e aldeias de onde saíram, deixando a algarvio entregue ao gozo das praias onde raramente ou nunca põe os pés, porque o algarvio não gosta de praia e abomina o calor. A única utilização que uma escassa minoria de algarvios faz da praia é ir tomar um banho de mar e rapidamente bater em retirada, antes que fique demasiado calor, o que se verifica a partir dos 24ºC.

 

Os onze meses seguintes serão passados na mais completa letargia, apenas interrompida pelos turistas estrangeiros que insistem em estragar o descanso do algarvio, com especial ênfase no final do Verão e na Primavera.

 

Aproximando-se Agosto, prepara-se novamente o armamento para fazer frente ao exército invasor, com apartamentos a preços exorbitantes, faces carrancudas, ares de poucos amigos e um resmungo colectivo, de Sagres a Vila Real de Santo António: "Nunca mais acaba a merda do Agóste".

 

Ao que o exército invasor inevitavelmente contraporá "O Algarve é uma merda, nunca mais cá ponho os pés". E também inevitavelmente regressará no ano seguinte.

 

 

 

 

* e no entanto, é possível amar tanto este Algarve...

 

 

 

 

 

À atenção do Senhor Dr. António Costa, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa...

Júlio Reis Silva, 07.08.14

À atenção do Senhor Dr. António Costa!

 

Eu sei que o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa anda muito ocupado e preocupado com as "primárias" do seu partido, mas o triste e perigoso espectáculo diário a que se assiste na Praça Luís de Camões (vulgo Largo do Camões) é absolutamente inadmissível. A temporização dos semáforos naquela zona está avariada há, pelo menos, mais de uma semana. O risco de atropelamento de peões e colisão de veículos é permanente. É absolutamente lamentável que uma zona massivamente frequentada por cidadãos nacionais e visitada por milhares de turistas seja deixada à incúria de quem tem (ou devia ter) responsabilidade nesta matéria. Assim, NÂO!