Li ontem no "Jornal de Negócios" um artigo do Dr. Camilo Lourenço, sobre charlatães.
No mesmo refere, embora sem o dizer directamente, que o director-geral da OIT, Guy Ryder, era um charlatão, apelidando o seu discurso de verborreia, pelo facto de afirmar que em Portugal se podiam criar 108 mil empregos.
E finaliza escrevendo, com a sobranceria habitual, que somos um povo que adora charlatanice, pois só assim se compreendia que um indivíduo que afirmou que Portugal tinha condições para criar 108 mil postos de trabalho, tivesse saído do país "sem levar com uma risota colectiva?!"
Risota colectiva Dr. Camilo Lourenço, é o que os portugueses informados fazem quando leem o que permanentemente escreve, como paladino da Troika e do Governo, talvez à procura de um "poleiro", seja onde for...
Aliás, se nós não gostássemos de parlapatões, será que o senhor tinha leitores? Ou espaço para comentar na televisão pública?
Não será também charlatanice dizer, como escreveu no dia 5 de Setembro às 10h18m num comentário do Facebook que uma taxa de IRC de 10% acabava com o desempego em dois anos?
Esta posição será um toque de Assuero ou uma tentativa de imitação "rasca" do misto de médico, sexólogo, terapeuta e showman escocês James Graham, que no séc. XVIII garantia aos seus clientes que ao deitarem-se na "cama celestial" a esterilidade e impotência seriam curadas, e os descendentes aí concebidos nasceriam perfeitos.
Se tivesse consultado o Eurostat verificaria que há pelo menos um país da União Europeia, a Bulgária, que tem uma taxa de IRC de 10% e que apresenta uma taxa de desemprego de 9,9% (2012). Logo, a sua sapientíssima verborreia falha e como sempre tenta explorar a ingenuidade do povo português que, como disse, "adora charlatanice"....
Termino, recordando a sempre actual Fábula LXII de Jean de LA FONTAINE, "O Charlatão", em tradução livre.
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Nunca faltarão charlatães, no Mundo.
Mui fértil essa Ciência
De Lentes abundou todo o tempo.
Ora um, em seu tablado.
Faz roncas a Aqueronte; outro se ufana
Que é um Desbanca-Cícero.
Gabava-se na Corte, um destes últimos,
De ser tão grande Mestre
De eloquência, que a um Rústico, a um Mazorro
Um Patau, um Pascácio,
Discretos os daria. (Charlatão) «Sim, senhores:
E tragam-me um Labrego,
Um Animal, um Burro. O mais burríssimo:
Dou-lhe Lente de borla;
Murça, e loba lhe envergo.» Ora El Rei soube-o.
Manda vir o Retórico
(Rei) «Tenho, da Arcádia em minha estrebaria,
Mui formoso jumento,
Quero que dele um Orador me ingenhes.»
(Charlatão) «És Rei, e podes tudo.»
Dão-lhe certa quantia; e obriga-se ele,
Que dentro de dez anos,
Iria o Burro Às Aulas: consentindo
Ir ele, em praça pública,
Com baraço, e pregão, sofrer garrote
Bem apertado e estreito,
Orelhas d’Asno, rótulo Retórico.
Um Cortesão lhe disse:
«Irei ver-te, que te acho mui airoso,
Para dançar na forca.
Mas não fales mormente, em lá nos dares
A todos os Ouvintes,
Oração, em que estendas a tua Arte;
Oração bem patética
Que aos Cíceros Ladrões modelo seja.»
(Charlatão) «Antes que o prazo finde,
Tem de morrer El Rei, ou Eu, ou o Burro.»
Teve razão; que é erro
Com dez anos de vida fazer conta.
Comamos, e bebamos;
Dum de nós, aqui, dentro em dez anos,
Nos é credora a Morte.