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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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A CAUSA DAS COISAS

Jorge Silva Paulo, 31.05.13

Quem ainda não percebeu como Portugal se endividou em excesso e chegou à bancarrota tem por estes dias, e com o comício de ontem na Aula Magna, uma boa oportunidade para perceber.

Nenhum político é popular se fizer cortes no Estado, ou nos rendimentos, mesmo que eles sejam necessários. Qualquer político é popular se prometer e oferecer benefícios – com o dinheiro dos contribuintes.

Nada que Hayek não tivesse previsto há 70 anos.

Os políticos que visam a popularidade – essencial para ganhar eleições, quer dizer para ter mais votantes do que os outros concorrentes – só têm de prometer benefícios e melhorias, coisas que dão "esperança", como se diz, Se a coisa correr mal, logo virá alguém a seguir para os resolver, e que arcará com o ónus da impopularidade.

É assim que somos colectivamente responsáveis pelo endividamento excessivo e pela bancarrota.

Alguma vez aprenderemos como sair deste ciclo vicioso?

Podíamos colectivamente começar por rejeitar quem pretende que a culpa é dos outros e que há alternativas sem dor. Mas como resistir à tentação dos que "dão esperança"?...

Incongruências de um Estado à deriva

Paula Lobato de Faria, 30.05.13
As aparências iludem, de facto. Há sempre que ver por detrás dos slogans para concluir. O actual Governo (que como sabem é o órgão que chefia a Administração Pública) é o mais dirigista que alguma vez presenciei. Sob uma bandeira de "menos Estado", acreditem que estamos a ter cada vez "mais Estado". Vem esta reflexão a propósito da proposta de despacho que pretende vir a "orientar" a distribuição de vagas no ensino superior público. Ou seja, por mero despacho (assinado por ministro ou secretário de Estado) pretende-se ultrapassar a Lei da autonomia das universidades (Assembleia da República). Esta situação é constitucionalmente escandalosa e socialmente perigosa. O Estado não pode dirigir os cidadãos e as instituições da sociedade a seu bel prazer (mais Estado). Sobretudo quando ao mesmo tempo pretende descartar-se da factura dos gastos sociais (menos Estado).
Há uma ordem jurídico-legal no exercício dos poderes dos órgãos de soberania que tem que ser respeitada. Se o Estado não a respeita porque razão tem o cidadão que a respeitar? Começa a ser difícil não aceitar a defesa da legitimidade de um determinado grau de desobediência civil. A legítima defesa social desenha-se como direito natural contra qualquer Estado ou forma de poder injusto e sufocante em relação aos direitos e liberdades dos cidadãos, sob pena destes se escravizarem ao serviço da aleatoriedade do poder. Mesmo para um Estado à deriva, há um limite cívico no aceitar das suas incongruências. 

A Velha Nova Europa

JFD, 28.05.13

A geração do pós-crise vai ajustar contas com os governantes de hoje”, remata François Hollande. Assino por baixo. Já o disse, estes anos serão estudados como os anos da loucura, do desnorte, da falência sistemática europeia, da pior geração de governantes de que há memória. A destruição das indústrias europeias e a abertura das portas ao mercado chinês, a precipitação da moeda única, as assimetrias sociais e económicas de uma Europa plural, estão aí. Preto no branco, claro e cristalino. 

Sob o perigo do renascer dos nacionalismos corrosivos, é tempo de uma nova Europa. A moeda única deve ser tomado, então que está viva, como um primeiro passo. O integralismo político, social, económico, financeiro é urgente, é para . Somente através do federalismo a Europa poderá subsistir. Brasil e EUA são exemplos - os Estados pobres são sustentados pela economia dos estados ricos, dando como contrapartida o ecossistema e o turismo. Portugal, Itália, Espanha, Grécia, podem bem ser "balneário" europeu. Podemos ser contribuidores nas indústrias primárias e no lazer, no sol e em alguma mão-de-obra qualificada. Porque somos criativos, poderemos receber o quinhão franco-germânico para esse fim. 

Ao invés de salientarmos as diferenças olhemos as semelhanças. A Federação Europeia de Estados está já ali, na esquina entre o possível e o medo.

 

[também ali]

"Impact Factor War": Repensar a Ciência

Paula Lobato de Faria, 23.05.13

 

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/especialistas-pedem-o-fim-da-utilizacao-abusiva-de-um-celebre-indice-de-impacto-cientifico-1594967

 

Este artigo dá nota do início daquilo que se poderá designar como a "Impact factor war", declarada no passado dia 16 como muito bem documenta o Science Insider ( http://news.sciencemag.org/scienceinsider/2013/05/call-to-abandon-journal-impact-f.html ). Mais de 150 prestigiados cientistas e 75 grupos científicos de todo o mundo insurgiram-se contra o uso do sistema do "factor de impacto" (uma medida que reflecte e mede a quantidade de vezes que uma revista científica é citada), para avaliar o desempenho de cientistas e académicos. Alegam essencialmente que os investigadores devem ser avaliados pelos resultados e conteúdo do seu trabalho e não pelo factor de impacto do jornal ou revista onde são publicados. O factor de impacto das revistas científicas é calculado pela empresa Thomson Reuters, tendo sido desenvolvido em 1950 como critério para os bibliotecários escolherem as revistas a encomendar.

Acontece, porém, que hoje este sistema se transformou na medida única para avaliar o desempenho de cientistas e académicos em todo o mundo o que começa agora a ser contestado, sobretudo pelos países de economias emergentes, onde os cientistas para serem reconhecidos têm que publicar em revistas maioritariamente anglo-saxónicas, tomadas por cientistas de língua inglesa, o que se tem revelado um enviesamento à publicação e uma injustiça.
Outro dos grandes problemas que o sistema do "factor de impacto" tem gerado é a subalternização das ciências sociais (pejorativamente designadas por "soft sciences") versus ciências básicas (ou "naturais"), dado que as revistas científicas de alto factor de impacto publicam sobretudo artigos nas áreas das "hard sciences", as quais têm, também, paralelamente, uma muito mais longa tradição na publicação de "alto impacto" e em inglês. Aquele sistema de avaliação revela-se assim muito injusto para áreas de estudo fundamentais para a compreensão do funcionamento das sociedades, tais como a saúde pública, a sociologia, a antropologia, a economia, o direito, a história, e a psicologia, entre outras.

E, eis que finalmente a comunidade científica mundial denuncia que há algo de podre no Reino da Ciência, declarando guerra ao sistema de avaliação baseado no factor de impacto. Este facto tem, quanto a nós, uma dupla possibilidade de leitura.

Primeiro, há que não ser ingénuo e reconhecer a enorme dificuldade em desenhar um sistema de avaliação científica isento, justo e eficaz, pelo que este será sempre um objectivo muito complexo e difícil de atingir. Conflitos de interesses, lobbying e má-conduta científica espreitam a cada esquina num mundo académico altamente competitivo. Por outro lado, parece-nos que o sentido desta guerra agora declarada reflecte, sobretudo, o fim da hegemonia anglo-saxónica na produção de ciência, com tudo o que esta realidade significa na geopolítica científica.

 

No entanto, apesar de o caminho ser tortuoso e duro, esta nova "impact factor war", como tentativa para acabar com os enviesamentos na ciência e dar valor a todos os que merecem aí ser reconhecidos, representa uma saudável "pedrada no charco" no endogâmico mundo da publicação científica. Há que seguir os próximos capítulos com atenção e contribuir para uma discussão que promete aquecer nos próximos tempos.

Lei das Sementes: Este Governo é cúmplice?

Duarte d´Araújo Mata, 22.05.13

Estamos em vias de introduzir uma das piores Leis de que haverá memória em Portugal na sua história: A Lei das sementes.

De facto, a "ilegalização da comercialização de milhares de variedades autóctones" é uma tragédia de tal dimensão que me escuso de me alongar nessa matéria.

Eu estou convencido de que sobre esta matéria há uma grande margem de manobra para recusarmos este escândalo. Margem de manobra para atrasar o processo, negociar, protelar. 

Defender os interesses do País neste caso passa por defender aquilo que as ONGs muito bem argumentam: "Segundo explicam as associações, a proposta de lei, além de ser “considerada um ataque” aos agricultores e à “herança biocultural comum”, põe em causa “a maioria das dezenas de milhares de variedades locais de plantas de cultivo, seleccionadas e adaptadas por agricultores durante milénios”. Por isso, pedem que as sementes de propagação livre e aquelas sobre as quais não recaem direitos de propriedade intelectual sejam excluídas deste novo regulamento. Pedem também que a troca e cessão de sementes entre agricultores, pessoas individuais e organizações sem fins lucrativos não esteja abrangida por esta lei, que deve apenas preocupar-se com a comercialização deste material acima de uma determinada quantidade."

Como não vejo o Governo a fazer nada para evitar este desastre, é porque provavelmente concorda. E quando chegar a altura da campanha eleitoral, não se lembrem de ir voltar a passear alegremente pelos mercados e feiras agrícolas com a lágrima no canto do olho. Porque sim, vocês parece-me que são cúmplices.

Foto AQUI

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