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Vivemos numa república - o que é trágico, pasmem-se, mesmo trágico. Existem cada vez mais sinais de que esta república está a morrer, a cair de podre, não só enquanto paradigma político, mas mais do que tudo enquanto forma de regime. Esta república não serve os interesses do povo, não serve os interesses de Portugal - esta república tem o grande problema de excluir mais as pessoas do que as unir. Esta república peca por vários motivos, o primeiro deles todos é ser uma república.
Ora vejamos, no estimado Corta-Fitas, a Maria Inês de Almeida deixa algumas questões pertinentes: "Não há mulheres conselheiras para além da Leonor Beleza? Que idade tem o mais novinho conselheiro de estado? E a partir de que idade é que se pode dar conselhos?". Meus caros, os conselheiros de estado são o espelho da nossa república, se não vejamos:
- Temos em primeiro lugar sete inerências directas devido ao exercício de cargos da nação, respectivamente: Presidente da República, Presidente da A.R., Primeiro-Ministro, Presidente do TC, Provedor de Justiça e os dois presidentes dos governos regionais.
- Depois temos três lugares (para já) reservados aos ex-presidentes, que por pior mandato que tenham feito têm direito a ser conselheiros, ou como diz a Maria Inês a "darem conselhos".
- De seguida apresentam-se as nomeações laranjas, perdão, as nomeações do Sr. Aníbal. Que são o media man Marcelo Rebelo de Sousa, a polémica ex-ministra Leonor Beleza, o médico e agora escritor como o irmão, João Lobo Antunes e o Pedro Miguel da Conceição Agostinho, que veio substituir o polémico banqueiro/bancário dos 10 milhões, Miguel Cadilhe.
- Por fim temos os "eleitos" da Assembleia da República, onde encontramos Jorge Coelho, o CEO de uma das maiores empresas de construção do país, Francisco Pinto Balsemão dono de uma das maiores cadeias de comunicação social do país, António de Almeida Santos, o autarca António Capucho e Manuel Alegre ex-futuro líder do novo partido de esquerda.
Não fui fazer as contas, mas facilmente percebemos que a média etária do Conselho de Estado deve andar aí pelos 60? anos, sendo que José Sócrates vem desequilibrar um bocadinho as contas. Em suma, a república em Portugal dá imunidade e chama a conselheiros únicamente pessoas que já têm responsabilidades de estado, que são indicados pelos partidos políticos representados na A.R. ou que são indicados pelo próprio P.R. o que neste caso significa serem simpatizantes do PSD (vejamos que três ex-líderes do partido estão no Conselho de Estado).
Agora deixo eu algumas questões: porque é que a república não chama a aconselhá-la pessoas com reconhecido mérito na sociedade civil? Porque não vemos o Fernando Nobre (Presidente da AMI), o Manoel de Oliveira (cineasta), o Arquitecto Ribeiro Telles (ecologista), o Professor Mendo Castro Henriques, o Vasco Rocha Vieira (general), o Pedro Ayres de Magalhães (compositor e músico), a Agustina Bessa Luís (escritora), o Vergílio Castelo (actor) ou o Miguel Esteves Cardoso (jornalista) no Conselho de Estado? Será que não seria preferível ouvir estas pessoas? A resposta talvez seja óbvia: a república serve apenas a política dos interesses e do lobby. Estas pessoas não interessam à república.