Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

Da série "congresso do PS quase em directo"

João Gomes de Almeida, 28.02.09

Portanto o wireless do PS está viciado, não tenho conseguido escrever nada e o pda do Vital Moreira também está com problemas. Fiz umas entrevistas que vou colocar mais tarde em podcast.

 

Neste momento, a sala está vazia e a net mais cedo ou mais tarde vai ao ar. Portanto acompanhem lá o Rodrigo Moita de Deus, o Vasco Campilho, o Nuno Miguel Guedes, a Filipa Martins e todos os outros bloggers burgueses, com dinheiro para uma net portatil.

 

Só mais uma coisita... estão para cima de 14 pessoas a ouvir o sr. delegado. Viva a camaradagem!

Conservado em álcool?

Ana Vidal, 28.02.09

 

As duas mil garrafas de champanhe francês encomendadas por Mugabe para as celebrações do seu 85º aniversário (só uma das muitas extravagâncias desta festa imoral), num país que morre de cólera por escassez absoluta de água, lembram-me, de imediato, a tristemente célebre frase de Maria Antonieta: "Il n'y a pas du pain? Qu'ils mangent de la brioche!"

 

Já agora, porque será que estes facínoras têm, quase sempre, uma longevidade impressionante?

 

(Na imagem, um pormenor da modesta casinha de Mugabe)

 

Seis verdades e três mentiras

João Távora, 28.02.09

Aqui vai a minha resposta ao desafio da Luísa e do João Amorim. Garanto-vos que a minha vida dava um filme, mas liquidaria de imediato a minha frágil reputação, pelo que tive que moderar as minhas revelações verdadeiras. Arrisque o leitor apontar as falsas!

 

1 - Tenho dois filhos e dois adoráveis enteados adolescentes que me dão muita luta.
2 - Saí de casa dos meus pais aos dezanove anos para descobrir o Mundo e perdi-me.
3 - Estive para morrer afogado arrastado pela corrente na foz do rio Mira.
4 - Estive muito perto de abraçar a vida monástica.
5 - Sou uma pessoa pragmática e austera.
6 - Por uma temporada em 1970 na Casa da Comédia representei a personagem principal numa peça de teatro.
7 - Em várias fases da minha vida arranhei uns acordes de viola para cantar umas cançonetas populares - lá voltarei quando me reformar.
8 - Gozei a vida até aos limites e casei-me trintão.
9 -  Aos quarenta e sete anos não resisto a uma valente borga no Bairro Alto ou na 24 de Julho.

 

Excepcionalmente não interrompo a corrente e lanço o desafio ao Rui Castro, ao Luís Novaes Tito, à Cristina Ferreira de Almeida, ao Carlos Medina Ribeiro e ao Nuno Castelo Branco.

Da série "em directo do congresso do PS"

João Gomes de Almeida, 28.02.09

São 17:15 e só agora consegui entrar na net. A zona de imprensa está pacífica e vemos por aí algumas caras conhecidas da blogosfera, no entanto, seria de esperar mais gente - pelo menos, tendo em conta o alarido que foi feito durante a semana.

 

Ontem à noite, ao que parece, isto foi mais um comício que um congresso - o tom continua igual, o formato já parece diferente. A noite foi interessante, é pena Espinho só ter um bar e um casino.

 

Já falaram Sérgio Sousa Pinto, António Brotas e Jaime Gama está a terminar o seu discurso. A este nem o Almeida Santos o manda calar - será porque está a trautear o hino?

 

Entramos agora em directo.

A mulher explosiva

Tiago Salazar, 28.02.09

Era uma mulher de beleza explosiva. Todas as mulheres ficavam reduzidas a cinzas se ela estava por perto. Os homens ardiam a seus pés como toros secos e famintos ou estilhaçavam-se se se atreviam a tocá-la com um dedo apenas. Quando os meteorologistas anunciaram uma tempestade, formou-se um comité, e até uma associação, maioritariamente masculina, para construir uma casa (com toldo e janelas e portas de ferro) que protegesse a mulher de beleza explosiva de qualquer infiltração. Bastou uma gota tresmalhada porém e no lugar da mulher de beleza explosiva ficou uma centelha que segundos depois se desvaneceu.

O Baú Contador de Histórias - folhetim fatídico para adultos infantis e crianças precoces (8)

Tiago Salazar, 28.02.09

Nisto, soltou-se a âncora, fuzilando na subida um pelotão de alforrecas e quase atirando borda fora o embarcadiço. Foi aí que o baú ganhou presunção e largou como yacht, entrando pelo clarão adentro. Noé fechou os olhos e só os abriu depois de aterrar de chapão no interior de uma gruta de estalactites. Na primeira visão, deu com um abutre, trajado de carteiro e empoleirado numa rocha a bicar nervosamente as unhas. Seguiu-se, a rasar-lhe a cabeça, um voo picado de uma bruxa, em potente vassoura, e dando gritos estridentes.

 

- ”Dardo, eu quero um dardo para matar este abutre estúpido e incompetente. Irra, que criatura mais inútil!... Nem para levar o correio serve! Que raios e coriscos te transformem numa barata. Puff!!!” A bruxa sarapintada barafustava e praguejava, com vocabulário de bruxa, cirandando entre o caldeirão borbulhante e a mesinha de provetas. Tinha cara de matrioska pálida, de sardas castanhas e cinzentas até à base das bochechas, nariz comprido, mas sem verruga, e olhos cor de esmeralda. Longas farripas ruivas pendiam-lhe na testa, enquanto o resto da cabeleira estava escondida num manto de capuz preto. Esbracejava, com ares de espantalho foragido, e acabou por voltar às provetas. Via-se que era uma bruxa moderna. O abutre rastejou tropegamente o seu novo corpo de barata e emitiu um ruído suplicado, como se quisesse de volta a identidade. A bruxa enterneceu-se. Mas deixou-o penar, depenado. E pensou: a cada crime o seu castigo. Raimundo, o gato preto e obeso, deitado meticulosamente entre as provetas, aprovou com um longo miado. A bruxa tirou uma proveta e despejou-lhe um líquido viscoso, arroxeado. Encheu-a até meio, chegou-se ao fogão e pô-la num tripé a lume brando. Desfolhou um calhamaço coberto de pó, parando na página 1234, onde se lia: «Receita para todas as coisas possíveis e imaginárias». Riu de forma estridente e voltou a pegar na proveta, já fervida, não sem antes remexer uma gaveta atafulhada e daí subtrair uma metade de rabo-de-gato siamês. Depois, nesta ordem, ergueu a proveta, agitou-a, ajoelhou-se, levantou-se, correu ao pé-coxinho à volta da mesa, parou junto à janela, tapou o olho esquerdo, trincou a metade de rabo-de-gato siamês e engoliu a mistela da proveta de um só trago, como se bebesse um copo de três. Caiu desmaiada e assim ficou, uma noite e um dia, com o abutre-barata de vela. Quando acordou, sentiu uma náusea de alto a baixo, a cabeça pesada como uma bigorna. Resmungou dois palavrões imperceptíveis e foi à cozinha, a cambalear. Abriu o frigorífico e desarrolhou uma garrafa de medronho (medonho), que emborcou na totalidade. Sentiu-se como nova, pronta para a noite. Entrou então no quarto, trocou de manto e de socas, ajeitou a guedelha a pente de pau, pintou os olhos de preto, disfarçou as sardas com pó de arroz, selou a vassoura recém-comprada a prestações suaves no stand do Macário Macabro, desfez o feitiço do abutre, soprou os pavios, abriu a janela de par em par e saiu disparada, em cavalinho rompante. Os homens que se preparassem.

 

 

Momentos de poesia

João Gomes de Almeida, 28.02.09

"E de novo, Lisboa, te remancho,
numa deriva de quem tudo olha
de viés: esvaído, o boi no gancho,
ou o outro vermelho que te molha.

Sangue na serradura ou na calçada,
que mais faz se é de homem ou de boi?
O sangue é sempre uma papoila errada,
cerceado do coração que foi.

Groselha, na esplanada, bebe a velha,
e um cartaz, da parede, nos convida
a dar o sangue. Franzo a sobrancelha:
dizem que o sangue é vida; mas que vida?

Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,
na terra onde nasceste e eu nasci?"
 

Alexandre O'Neill

Os novos fariseísmos

João Távora, 28.02.09

Parece-me que a Ana cai aqui num inocente equívoco, confunde os “princípios” com a subjectividade da acção concreta e relacional: a Igreja de Cristo deverá ser absolutamente determinada quanto aos princípios e só assim faz sentido como religião como absoluto que “religa, e confere sentido” sob o risco de o deixar de ser. Já no âmbito do concreto, das pessoas e das suas atitudes nas suas circunstâncias, a tolerância (caridade, sim!) e o perdão são premente dever dessa Igreja (entendida como hierarquia e comunidade de cristãos), seguindo os ensinamentos de Cristo que se fez crucificar ao lado de dois ladrões (chame-lhes mulher adultera, carrascos nazis, comunistas, pedófilos, o que quiser), a quem, mediante o arrependimento sincero lhes concedeu a remissão dos seus pecados “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. Esta é a grande revolução cristã, ainda hoje mal compreendida.

De resto não nos podemos deixar iludir pelo fariseísmo dominante como tão bem refere aqui o João Miranda: o valor que as pessoas atribuem à Liberdade de Expressão não se mede pela tolerância em relação a ideias populares. Mede-se pela tolerância em relação a ideias impopulares. Recentemente, um bispo foi expulso da Argentina por negar o Holocausto. Ninguém protestou. Eu por mim convivo conformado e quotidianamente com maoistas e estalinistas, que até têm representação politica em diversos órgãos de soberania nacionais.

Pág. 1/21