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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Sugestões de presentes - o melhor par de livros do Mundo

José Mendonça da Cruz, 28.11.08

Este Natal, seja maximalista, ofereça dois livros enormes, em tamanho («tijolos», ambos) e em grandeza. Devem ser oferecidos ou lidos em par. A Vida e o Destino, de Vassily Grossman, (aqui, à esquerda) faz-nos viver na Rússia estalinista - a vida, a política, a guerra, o cerco de Estalinegrado - dentro de várias famílias cujas vidas se entrecruzam. As Benevolentes, de Christopher Littell, (em baixo, à direita) envolve-nos na Alemanha nazi - a vida, a política, a guerra, o cerco de Estalinegrado do outro lado da trincheira - com um oficial das SS, ocupado na tarefa burocrática de exterminar judeus e untermenschen, e suas relações, amigas, casos, camaradas, superiores como Himmler, Heydrich, Speer, Hitler.

Os dois livros são escritos de forma admirável, com uma pintura de cenários e situações, um retrato de personagens absolutamente ímpares. Ambos lidam com a condição humana em situações extremas. Interpelam-nos e perturbam, ambos, porque a cada opção de carreira, cada pensamento, cada gesto, cada triunfo, cada drama, nós estamos lá e pensamos: «Que faria eu?» Ambos os livros têm um efeito secundário: todos os outros parecem menores durante as semanas a seguir.

Para Grossman e Littell, para quem nos convida assim ao desassossego e à inteligência, nunca haverá prémio bastante. Obviamente, nenhum ganhou o Nobel.

2 comentários

  • São tão bons, garanto-lhe, que o peso torna-se uma questão irrelevante. A complicação maior é pensarmo-nos em situações de um e outro livro e fazermo-nos a tal pergunta: «E eu, que faria?» O pior - como estamos embrenhados nas razões e circunstâncias de bolcheviques ou nazis - é por vezes suspeitarmos que a resposta não seria a mais virtuosa. O horror é o que personagens de um e outro livro fazem «porque é necessário» à normalidade, à progressão na carreira ou à sobrevivência. Ninguém matou melhor o estalinismo que Grossman, um refugiado cujo livro só foi publicado graças a Soljenitsine. E ninguém matou melhor o nazismo do que o personagem que Jonathan Littell (um americano que escreveu em francês) nos dá como anfitrião, e que despacha homens, mulheres e crianças como quem decide quantos lápis cabem a cada repartição.
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