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Risco Contínuo

Estrada dos bravos, blog dos livres

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Lágrimas de crocodilo

João Távora, 02.06.09

É normal nos dias que passam escutar virtuosos analistas a lamentarem a ausência dos grandes temas europeus nas campanhas dos partidos, cobrando aos candidatos o previsível abstencionismo no próximo Domingo. Tal parece-me uma explicação algo simplista: tenho ideia que o esforço dos candidatos na abordagem dos “assuntos europeus” não é reconhecido pelos media, preocupados que estão com sound bites e parangonas com as quais conquistam audiências e vendem jornais. Além disso não me parece razoável que a discussão da política europeia, reduzida à regulamentação das colheres de pau durante quatro anos, assuma miraculosamente preponderância e interesse em duas semanas de campanha eleitoral.
Finalmente, parece-me que o partido de Vital Moreira e José Sócrates ao desprezar ostensivamente a co-responsabilização dos portugueses pela adesão ao Tratado de Lisboa, assinou-lhes um atestado de irresponsabilidade, tendo desse modo o PS perdido toda legitimidade para exigir uma adesão significativa de votantes ao acto eleitoral do próximo Domingo.

Quanto ao mais a proverbial preguiça tuga faz o resto, como refere aqui em baixo o Duarte Calvão.
 

Metafísicas...

Filipe de Arede Nunes, 02.06.09

Tu, mais do que ninguém, devias ter percebido... Devias ter percebido a urgência da revolução solar. Devias ter percebido a força ritmada provacada pela queda dos grãos de areia desértica na palma da minha mão. Devias ter percebido a impaciente disputa entre o absoluto e o vazio.

 

Ler mais aqui.

 

Quero lá saber dos abstencionistas

Duarte Calvão, 02.06.09

 

Sempre que as eleições se aproximam, lá vem a mesma conversa, geralmente da boca de comentadores de ar grave, como se o futuro da democracia dependesse das suas análises: “não admira que as pessoas se desinteressem da política e se abstenham”. Pois a mim admira-me imenso que alguém se abstenha e sobretudo que veja nisso uma atitude a ser seguida. Eu próprio, em tempos que já lá vão e por circunstâncias próprias da minha opção profissional pelo jornalismo, fui abstencionista, mas nunca andei a maçar ninguém com isso. Nunca recomendei a alguém que fizesse o mesmo e, acima de tudo, nunca achei que a culpa fosse dos políticos, como aquelas crianças malcriadas que fazem birra só porque os adultos não conseguem inventar nada que lhes possa agradar.
Nestas eleições europeias, os cinco principais partidos portugueses têm candidatos conhecedores e dignos (como gosto desta generalização, vou esquecer o inacreditável discurso de Vital Moreira sobre a “roubalheira”, provavelmente sugerido por algum assessor mais excitado…), que defendem pontos de vista muito diversos, que incluem prós e contras tratado de Lisboa, referendos ou punição para quem os prometeu e depois não os fez, federalismo e anti-federalismo e muitas outras questões, sem falar daquelas que dizem mais respeito ao âmbito nacional. E também para já não falar dos pequenos partidos, onde há várias propostas à disposição dos eleitores.
O problema não será assim de falta de opções, mas antes de um certo “bom tom” que faz com que muita gente mostre repugnância pela “política”, pelos “partidos”, como se vivessem entre tratados de filosofia política e ensaios sobre a Europa e lhe custasse descer ao nível dos políticos, votando neles. Ora o que eu mais vejo entre os abstencionistas, com alguma excepções evidentemente, são preguiçosos e hedonistas de terceira categoria, que não se interessem por nada a não ser o seu pequeno mundo, que se recusam a pensar em algo que fuja ao seu interesse directo, que não abdicam nem que seja por uma hora (para irem votar) da praia, das compras ou da comezaina com os amigos.
É claro que eles têm todo o direito de se absterem, mas porque é que alguém os deve respeitar politicamente? Porque é que os políticos têm que fazer um esforço para lhes agradar? Isso quer dizer que a abstenção vai ser muito elevada? Pois que seja. Já no passado assim foi e isso não tirou legitimidade ao Parlamento Europeu. Se as pessoas podem votar e não querem, o que mais faltava é que nós, os que nos damos ao trabalho de participar na vida política da nossa sociedade e vamos votar, fossemos afectados por quem prefere ficar de fora a dizer mal de tudo, incapaz de mexer uma palha para que as coisas melhorem. E que ainda por cima quer ser “reconhecida” por isso.

 

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